Descrição de chapéu Mercado imobiliário

Plataformas facilitam acesso a casas retomadas por bancos

Desconto nos imóveis pode chegar a 50%, mas negócio exige cuidados

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São Paulo

Em um momento de economia com juros e inflação em alta, comprar imóveis com descontos que vão de 15% a até 50% pode parecer um milagre, mas é o que promete o mercado de imóveis em situações especiais.

O termo é usado para se referir àquelas unidades que foram retomadas pelos bancos por falta de pagamento de financiamento imobiliário ou outro empréstimo no qual a casa era a garantia, e também para imóveis envolvidos em ações judiciais, como disputas familiares e trabalhistas.

Antes restrito às empresas de leilão, esse mercado tem se tornado mais acessível por meio de plataformas virtuais, que facilitam a entrada de pequenos investidores ou até de quem deseja comprar um imóvel desse tipo para morar.

A Resale é uma delas, e existe desde 2015, mas ganhou escala nos últimos três anos, segundo Igor Freire, diretor de receitas da empresa. Eles têm exclusividade sobre o estoque de imóveis retomados do Banco do Brasil e também publicam ofertas do Santander, consórcio Embracon e BTG —que se tornou sócio do negócio.

A plataforma já fez a venda de imóveis retomados em 450 cidades do país, e as unidades são de todos os perfis: de um terreno de R$ 8.000 e casas populares de R$ 50 mil até residências de R$ 1 milhão e fazendas de R$ 35 milhões.

Os imóveis estão em leilão ou para venda direta, o que pode ser feito depois que dois leilões são realizados e a propriedade não é arrematada.

Dois homens brancos sentados em pufes, em gramado
Marcelo Prata, diretor-executivo, e Igor Freire, diretor de receitas, ambos da Resale, que comercializa imóveis retomados e em outras condições especiais - Divulgação

Do total do estoque, cerca de 65% está ocupado por moradores no momento da venda. São esses imóveis que recebem mais desconto, já que o novo proprietário vai ter que se encarregar de esvaziar a propriedade, por meio de um acordo ou de uma ação na justiça.

Freire enxerga o despejo como uma forma de manter o sistema de financiamento imobiliário operando. "Estamos fazendo com que esse ciclo econômico aconteça, porque se o banco não consegue retomar, ele para de emprestar dinheiro", diz. "Muita gente acha chato retomar o imóvel de uma família, mas alguém precisa fazer esse trabalho."

Wanderley Gavassoni, 58, investidor imobiliário de Serra (ES), já comprou 13 imóveis pela Resale, para depois vender ou alugar, e conhece bem as dificuldades de um processo de desocupação. O mais rápido que conseguiu foi desocupar o imóvel em 60 dias, depois de oferecer dinheiro ao morador para que se mudasse, mas também já esperou um ano, quando os residentes tentaram anular a venda na justiça.

Enquanto aguarda a desocupação, o novo proprietário já é responsável pelas contas de condomínio. Antes de comprar um imóvel assim, é preciso levar em conta esse gasto em potencial, além de honorários de advogados e o custo do tempo em que o imóvel ficará parado, sem poder ser locado ou vendido, enquanto a desocupação não acontece.

"Não é tranquilo, é muito complicado", diz. Ele prefere comprar imóveis desocupados, mas nem sempre é possível.

Gavassoni tem sentido o aumento do interesse por esse tipo de propriedade. "Tem alguns imóveis muito disputados, cresceu muito a procura, mais gente veio investir em imóveis porque é algo seguro, que não se deteriora fácil".

Ele afirma conseguir comprar as propriedades com desconto de 30% sobre a avaliação, o que faz o negócio ser rentável.

A Rooftop é outra plataforma que vende esse tipo de imóvel, mas funciona com um sistema um pouco diferente. Eles compram as propriedades e já resolvem as questões jurídicas, como impostos atrasados e desocupação, antes de revender. Por lá, os imóveis chegam a ter um desconto de 15%.

Apesar do deságio menor, o cliente não corre o risco de ter sua compra contestada pelo antigo proprietário, nem precisa arcar com outros custos tradicionais desse mercado, explica Daniel Gava, fundador e diretor-executivo.

"A gente se propõe a transformar um ativo não-líquido, problemático, em um ativo imobiliário comercializável, devolvendo esse imóvel para a sociedade", afirma.

A empresa foi fundada no começo do ano passado e investe em cidades com mais de 200 mil habitantes. Já estão presentes em 42 delas.

Prédio com fachada bege, visto do nível da rua
Edifício no bairro Paraíso, em São Paulo, com apartamento à venda pela plataforma Rooftop; o preço de mercado é R$ 900 mil, mas está anunciado por R$ 830 mil - Divulgação

Além da comercialização desses imóveis, a Rooftop tem um programa para comprar casas de pessoas que estão com dívidas, colocar os antigos proprietários para morar de aluguel na residência e depois dar a eles opção de recompra, chamado InCasa.

Nas duas modalidades, os recursos para comprar os imóveis vêm de um fundo imobiliário, fechado para investidores profissionais. "Temos planos futuros de fazer distribuição a mercado, para pessoa física", diz.

Para quem quer comprar, é importante olhar com cuidado a documentação.

Marcelo Valença, advogado especializado em direito imobiliário e sócio-fundador da Valisa Business Intelligence, aconselha a pesquisar o antigo proprietário, olhar o cadastro de devedores da Justiça do Trabalho, e puxar o cadastro do imóvel na prefeitura, para ter certeza sobre o motivo pelo qual a propriedade foi à leilão e se há dívidas de impostos e condomínio.

Ele alerta ainda que se o proprietário deixou de arcar com o financiamento é possível que também não estivesse cuidando da manutenção da propriedade. "O preço é sempre em função do risco, se o valor está baixo, o imóvel pode estar ruim", diz.

Quem quiser investir em imóvel retomado não precisa contratar advogado, diz Valença, mas é bom ser assessorado por um profissional que conheça o sistema, como um corretor imobiliário.

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