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Tempestade perfeita na inflação desafia o Banco Central

É provável que a autoridade monetária continue a elevação dos juros pelo menos até o meio do próximo ano

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Marcelo Kfoury Muinhos

Doutor em Economia pela Universidade de Cornell e professor de Macroeconomia da FGV-EESP

O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta quarta (10) o IPCA, índice oficial de inflação, de outubro e novamente houve surpresa altista (1,25%, acima do consenso de 1,06%). A inflação acumulada em 12 meses apresentou alta de 10,67%, maior valor desde janeiro de 2016.

Houve aceleração em quase todos os itens, e o único que ainda estava mais controlado, a inflação de serviços, subiu 0,84% com a paulatina abertura desse setor. Já os preços administrados continuam como o maior vilão, subindo 1,35% no mês e acumulando 17% em 12 meses, devido aos aumentos recentes da energia e da gasolina.

O consenso de mercado para inflação do ano de 2021 deve se aproximar dos dois dígitos nas próximas semanas, e a perspectiva para a inflação no curto prazo ainda é assaz preocupante.

Sede do Banco Central, em Brasília - Adriano Machado - 29.out.2019

Há uma onda de inflação varrendo o mundo como um subproduto da pandemia. Houve uma rotação de demanda de serviços para produtos industriais, que pressionou as cadeias de produção em todo o mundo. A normalização dessas cadeias ainda deve demorar, o que está agravando as pressões inflacionárias. Também na quarta, foi divulgada a taxa de inflação de outubro nos Estados Unidos, e esse país tem a maior inflação acumulada (6,2%) em 30 anos.

O Brasil está sofrendo mais devido à desvalorização do real, que está maior do que em países similares devido às preocupações sobre o regime fiscal. A antecipação da discussão eleitoral e a fraqueza do governo no Congresso estão afetando a credibilidade da política fiscal, com a principal regra fiscal, o teto dos gastos, sendo solapada.

A alta das commodities, associada ao enfraquecimento da moeda nacional, alcançou em reais 100% de maio do ano passado até outubro de 2021, pressionando o preço dos alimentos e dos produtos industriais. Geralmente, quando há subida dos preços das commodities, a moeda nacional se fortalece, mas os problemas políticos e fiscais estão enfraquecendo a moeda desde o ano passado.

Para piorar ainda mais, temos o preço do petróleo no exterior que não para de subir e os reajustes da energia elétrica devido ao aumento da utilização das termelétricas.


Um fator que pode ser positivo para a inflação nos próximos meses é a desaceleração dos preços dos alimentos em domicílio. O indicador antecedente desses preços, que é o índice de preços ao atacado agrícola, veio ligeiramente negativo em setembro e outubro. Já em relação aos preços industriais e administrados não há ainda tendência de queda à frente, já que há uma tendência desses preços continuarem altos a nível mundial.

O Banco Central deve continuar a subir a taxa básica de juros (Selic) para tentar conter a contaminação da inflação para os próximos anos. Por enquanto, se espera que a inflação de 2022 caia para cerca de 4,5%, o que, se verificado, poderá ser uma grande conquista da autoridade monetária. É provável que o BC continue a elevação dos juros pelo menos até o meio do próximo ano, sendo plausível a Selic se aproximar de 12% no 2º trimestre de 2022.

A política monetária contracionista é uma das principais causas para o mercado estar cortando as projeções de crescimento para o próximo ano. Mas, se não for apertada a política monetária, a inflação pode se disseminar, e o Brasil perder a estabilidade monetária, que foi conquistada com bastante dificuldade 27 anos atrás. Isso seria um pesadelo duplo, pois neste momento já há também preocupação com a estabilidade fiscal com os ataques ao teto dos gastos.

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