Descrição de chapéu inflação

Pandemia, inflação e eleições atrapalham vida dos shoppings em 2022

Empreendimentos podem partir para operações de fusão e aquisição, a fim de ganhar escala

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Brasília

Enquanto parte dos lojistas planeja migração de algumas lojas dos shoppings para as ruas, alguns pretendem se manter nos centros de compras. A rede Biscoitê, por exemplo, de biscoitos artesanais, tem 30 das suas 32 lojas nos shoppings, mas reconhece os obstáculos da operação.

"Tivemos uma dificuldade enorme de negociar o reajuste pelo IGP-M com os shoppings, tudo teve que ser caso a caso", diz Raul Matos, presidente da Biscoitê. Segundo ele, um terço das lojas paga o reajuste cheio pelo IGP-M. Nos demais, existe algum desconto. "Ainda acho shopping melhor do que rua, pela garantia de segurança e de fluxo de consumidores", diz Matos.

Mesmo assim, a rede acaba de abrir a primeira loja de rua em Campinas (SP) e quer crescer no modelo loja dentro da loja de terceiros ("store in store"), onde já tem um ponto: a Biscoitê dentro da Salinas, na rua Oscar Freire, em São Paulo.

balcão com vários biscoitos artesanais e clientes em volta
Loja da Biscoitê no shopping Eldorado, em São Paulo (SP): um terço das lojas tiveram reajuste cheio pelo IGP-M - Divulgação

"O contrato do lojista com os shoppings antes era por adesão: o lojista pertencia àquele empreendimento e de lá não saía tão cedo", diz o consultor especialista em varejo Eugênio Foganholo. "Também havia uma cultura de dono, ao se negociar diretamente com o responsável. Mas, depois que as grandes administradoras [brMalls, Multiplan, Iguatemi e Aliansce] foram para a bolsa, tudo se tornou muito mais impessoal", diz ele. Daí vem parte da "dureza" nas negociações vivenciadas pelos lojistas.

Na opinião de Foganholo, os shoppings vão enfrentar este ano muitos testes de estresse: as dúvidas sobre o avanço da pandemia, o ano eleitoral e seus reflexos sobre a confiança do consumidor e especialmente as condições macroeconômicas desfavoráveis, com a massa salarial em queda e a pressão inflacionária.

Fernanda Rodrigues, analista da Lafis Consultoria, concorda. "O contexto macroeconômico é ruim e existe um cenário de instabilidade política e econômica no horizonte", diz ela.

Luís Augusto Ildefonso, diretor institucional da Alshop – Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, confirma que os tempos já foram melhores. "As vendas nominais de 2021 apresentaram uma queda de 3,65% sobre 2019", afirma. Ele acredita que os empreendimentos não precisarão mais fechar as portas como no passado, mas a pandemia continua sendo um fator que gera dúvidas sobre a operação.

Outro ponto de conflito entre lojistas e administradoras está na cobrança sobre as vendas online. Na pandemia, com os shoppings fechados, muitos lojistas procuraram vender por marketplaces ou WhatsApp. Neste último caso, os shoppings não costumam ter participação sobre as vendas.

Alguns empreendimentos procuraram criar os próprios marketplaces e gerenciar as vendas remotas. A Multiplan e a brMalls, por exemplo, criaram o Delivery Center em 2016. Em novembro do ano passado, a empresa de entregas fechou as portas, sem grandes explicações.

Na opinião do presidente de uma rede de lojas satélite, essa conta era impossível de ser fechada: foram altos investimentos na Delivery Center que não justificavam uma demanda de vendas remotas que chegavam a, no máximo, 15% das vendas totais do lojista, sobre as quais o shopping tinha participação. Segundo ele, as franquias de uma mesma rede pertencem a lojistas diferentes e era preciso uma logística muito azeitada para diferenciar estoques de cada uma das centenas de lojas de cada um dos empreendimentos.

"Neste contexto desafiador, uma das saídas pode ser a fusão ou aquisição", diz Fernanda Rodrigues, da Lafis, dando como exemplo o movimento de aproximação entre brMalls e Aliansce, anunciado no final de dezembro. Mas nesta sexta-feira (14) a Aliansce tornou a sua proposta pública e a brMalls recusou o acordo de fusão.

"As grandes administradoras podem vir a puxar um movimento de consolidação no setor, a fim de reduzir custos administrativos e ganhar escala, mas isso não é óbvio", diz Ygor Altero, analista da XP Investimentos. Segundo ele, as empresas listadas em bolsa querem crescer com bons ativos. E isso passa, inclusive, pela administração do seu portfólio de lojistas. "As administradoras podem ter interesse em se desfazer de lojas de menor produtividade".

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