Qual o próximo passo na luta do Fed contra a inflação?

Mercado observa de perto as previsões do banco central americano nesta quarta (21)

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Jeanna Smialek
Washington | The New York Times

Espera-se que o Fed (Federal Reserve), o banco central dos Estados Unidos, anuncie um terceiro aumento consecutivo da taxa de juros nesta quarta (21), enquanto trava sua luta mais agressiva contra a inflação desde a década de 1980 –e isso pode indicar que outros aumentos virão.

Espera-se que a instituição aumente a taxa de juros em 0,75 ponto percentual. Investidores acham que há até uma pequena chance de uma elevação de 1 ponto percentual.

Mas Wall Street está mais focada no que virá a seguir. As autoridades divulgarão previsões econômicas atualizadas pela primeira vez desde junho, após a reunião de dois dias desta semana.

A questão é quão mais assertivo será o BC americano.

Inflação nos EUA impacto no consumo dos norte-americanos - Apu Gomes/AFP

O Fed já aumentou consideravelmente as taxas de juros na tentativa de desacelerar a economia e moderar os aumentos de preços. A atividade empresarial está desacelerando em resposta, mas não está despencando: os empregadores continuam a contratar, os salários estão subindo e a inflação permaneceu teimosamente veloz.

Isso levou as autoridades a reforçar em discursos que elas levam a sério o controle dos aumentos de preços, mesmo que isso tenha um custo para o crescimento e o mercado de trabalho. É um tom focado na inflação que muitos em Wall Street chamam de "hawkish" (agressivo contra a alta de preços).

As projeções econômicas podem dar aos formuladores de políticas a chance de reforçar esse compromisso.

"As coisas não estão evoluindo como eles esperavam –eles estão tendo problemas para desacelerar a economia", disse Gennadiy Goldberg, estrategista de taxas dos EUA na TD Securities. "No final das contas, há muito pouco que eles podem fazer esta semana, mas soam agressivos."

Jerome Powell, presidente do Fed, dará uma entrevista a jornalistas após a divulgação e provavelmente repetirá sua promessa do final do mês passado de fazer o que for preciso para reduzir os preços.

Pode ser um processo doloroso, reconheceu Powell. Taxas de juros mais altas moderam a inflação, tornando mais caro tomar dinheiro emprestado, desencorajando tanto o consumo quanto a expansão das empresas. Isso pesa no crescimento salarial e pode até aumentar o desemprego. As empresas não podem cobrar tanto em uma economia em desaceleração, e a inflação esfria.

"Vamos continuar até termos confiança de que o trabalho foi feito", disse Powell.

Se o Fed continuar aumentando as taxas seguindo a trajetória que economistas e investidores esperam, as consequências poderão ser dolorosas.

No início dos anos 1980, a última vez em que a inflação esteve tão alta quanto hoje, o banco central sob Paul Volcker elevou os custos dos empréstimos drasticamente e atolou a economia em uma recessão que levou o desemprego a níveis de dois dígitos.

As construtoras enviavam para Volcker projetos de prédios que não podiam construir; revendedores de carros enviavam chaves de carros que não conseguiam vender.

Os aumentos de taxas de juros este ano não são tão severos. O Fed elevou as taxas de quase zero em março para uma faixa de 2,25% a 2,5%, e o movimento esperado desta semana as levaria para 3% a 3,25%. Se o Fed aumentar as taxas tanto quanto os investidores esperam nos próximos meses, elas terminarão o ano bem acima de 4%. Na década de 1980, as taxas saltaram de 9% para cerca de 19%.

Ainda assim, 4 pontos percentuais completos de aumentos de juros em dez meses seriam o ajuste de política monetária mais rápido desde a campanha de Volcker –e enquanto os formuladores de políticas do Fed esperavam que pudessem desacelerar a economia suavemente, sem causar uma recessão dolorosa, os economistas alertaram que um resultado benigno é cada vez menos provável.

O Fed tem duas metas econômicas: emprego máximo e inflação estável em torno de 2%. Embora o desemprego esteja muito baixo, os preços estão subindo mais de três vezes a taxa-alvo com base na medida usada pelo Fed e permaneceram teimosamente rápidos e amplos em agosto.

Como a inflação persistiu mês após mês, o Fed aumentou repetidamente sua resposta. Elevou as taxas em 0,25 ponto em março, 0,50 ponto em maio e 0,75 ponto em cada uma de suas duas últimas reuniões. Assim como os investidores, muitos economistas acham que um aumento de 1 ponto é possível, mas não provável, nesta semana.

Uma grande razão para aumentar as taxas rapidamente é convencer empresas e consumidores de que o banco central está comprometido com segurar os rápidos aumentos de preços. Se os trabalhadores começarem a acreditar que a inflação vai durar, eles podem pressionar por salários mais altos para cobrir seus custos, que os empregadores repassam aos clientes na forma de preços mais altos, desencadeando uma espiral ascendente.

O Fed recebeu recentemente boas notícias nessa frente: as expectativas de inflação estão diminuindo. Essa pode ser uma das razões pelas quais o banco central optará por um movimento de 0,75 p.p., em vez de um ajuste maior nesta reunião, disse Michael Feroli, economista-chefe dos EUA no JP Morgan.

"Não se trata de administrar psicologia –trata-se de desacelerar a atividade econômica, o que pode ser feito em um ritmo mais metódico", disse ele.

Por isso é provável que Wall Street esteja especialmente sintonizada com as previsões de taxas de juros do Fed para o restante de 2022 e além.

Essas projeções costumam ser chamadas de "dot plot" (plano de pontos) porque o comunicado mostra as previsões anônimas dos formuladores de políticas individuais dispostas como pontos azuis em um gráfico. As autoridades previram em junho que elevariam as taxas de juros para 3,4% este ano –número que quase já atingiram, sugerindo que a previsão deve ser revisada para cima.

Elas também projetaram que elevariam as taxas de juros para 3,8% no próximo ano antes de reduzi-las novamente. Como a inflação persistiu, os economistas passaram a esperar que a taxa de pico subisse mais.

O novo nível enviará um sinal sobre a força com que o banco central planeja conter a economia. Autoridades do Fed querem ajustar a política com vigor suficiente para controlar a inflação, mas sem exagerar em seus movimentos de taxas e infligir mais dor à economia do que o necessário.

Encontrar o equilíbrio correto pode ser difícil. A política do Fed leva tempo para se espalhar pela economia. Embora os aumentos das taxas já tenham começado a pesar no mercado imobiliário e o crescimento geral esteja começando a desacelerar, o impacto total das recentes medidas do banco central pode levar tempo para ser sentido.

"Quanto mais rápido o Fed aumentar as taxas, menor a probabilidade de um pouso suave", disse Goldberg, porque as autoridades não estão esperando para ver como suas medidas se desdobram. "É muito parecido com perceber que você perdeu sua saída na estrada 1 quilômetro atrás."

Dado esse risco e quanto as taxas já se moveram este ano, muitos economistas esperam que o Fed possa em breve querer desacelerar os aumentos.

Goldberg espera mais um movimento de 0,75 ponto em novembro, depois um recuo para um movimento de 0,50 em dezembro. Economistas do Goldman Sachs escreveram em nota nesta semana que esperam que o Fed aumente as taxas de juros 0,5 ponto percentual em cada uma das próximas duas reuniões após a desta quarta, de modo que a taxa de fundos federais termine o ano em uma faixa de 4%-4,25%.

As autoridades sinalizaram repetidamente que, mesmo depois de desacelerarem e eventualmente interromperem os aumentos das taxas, planejam deixar os custos dos empréstimos em um nível alto e de restrição econômica durante algum tempo.

"A política monetária precisará ser restritiva por algum tempo para dar confiança de que a inflação está caindo para a meta", disse Lael Brainard, vice-presidente do Fed, em um discurso recente.

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