Descrição de chapéu indústria

Fiesp tem guerra de versões e Josué chama assembleia de 'clandestina'

Pronunciamento raro de presidente da Fiesp ocorre após vice comunicar que havia assumido interinamente

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São Paulo

A Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) chega ao fim desta semana em meio a uma espécie de guerra de versões sobre a destituição de seu presidente, Josué Gomes. Para a oposição, ele não é mais presidente da entidade, enquanto seus aliados veem manobras ilegais para forçá-lo a sair.

Nesta sexta (20), já no início da noite, sindicatos ligados à federação começaram a receber uma correspondência por email informando que o vice-presidente Elias Miguel Haddad assumiu interinamente a presidência da entidade.

Cerca de duas horas depois, Josué Gomes divulgou uma notificação extrajudicial na qual diz ter recebido "com absoluta surpresa" a posse de Elias Haddad e que isso acontecia "em continuidade ao escuso propósito de destituir um presidente regularmente eleito e com mandato em curso".

Na primeira manifestação pública sobre o assunto, Josué Gomes classifica a assembleia que votou sua destituição de clandestina. O presidente da Fiesp afirma também que "tal atitude isolada, desproporcional, irresponsável" provoca riscos econômicos, jurídicos e trabalhistas.

Josué Gomes da Silva; dirigente está sob pressão - Geraldo Magela/Agência Senado

Segundo o email enviado e assinado por Elias Miguel Haddad, ele informa ter assumido em decorrência da decisão tomada na assembleia geral extraordinária realizada no dia 16, quando o conselho de representantes, "após ouvir os argumentos de defesa e os rejeitar, deliberou pela destituição de Josué Gomes do cargo".

Mais cedo, a Fiesp havia confirmado uma agenda de Josué Gomes marcada para a próxima segunda (23). Presidentes e representantes de sindicatos junto à Fiesp começaram a receber na quinta um convite de Gomes para uma reunião de formação de um "comitê de aprimoramento da governança."

Na assembleia do dia 16, houve a sugestão da criação de um grupo de trabalho com os sindicatos para discutir melhorias na gestão da Fiesp. No convite que enviou, Josué Gomes diz que se comprometeu com a proposta e que, por isso, queria discutir com os sindicatos quem participaria, o número de integrantes e o prazo de vigência.

Elias Haddad informa, no comunicado de sua posse, que a reunião de segunda-feira estaria cancelada. "Informamos, ainda, que não será possível a realização da reunião convocada para a próxima segunda-feira, dia 23, às 17h, para discutir o formato do(s) Comitê(s) de Aprimoramento da Governança", diz o comunicado a que a Folha teve acesso.

Em outro trecho, o comunicado afirma que "a administração da Fiesp preza pelo rígido cumprimento do seu estatuto e pela boa convivência entre os pares que formam a instituição. Desta forma, não medirá esforços para pacificar a entidade e volta seu foco aos temas relevantes para o setor produtivo e o processo de reindustrialização do país."

Ele assina o comunicado como "presidente em exercício".

O estatuto da federação prevê que o sucessor é escolhido pela diretoria em até 30 dias contados da destituição. Esse novo presidente é escolhido entre os três vices numerados, como são chamados os primeiro, segundo e terceiro vices –Rafael Cervone Neto, Dan Ioschpe e Marcelo Campos Ometto.

Até a realização da reunião que decidiria por um dos três, fica na presidência o vice-presidente mais velho, que é Elias Miguel Haddad, de 95 anos.

Para delegados que estavam presentes na assembleia de segunda, o convite para a reunião foi lido como um sinal de que Josué Gomes não considera legítima a votação por sua destituição. Um dirigente que pede para não ser identificado disse considerar aceitável que Josué contestasse o resultado ou mesmo levasse o caso à Justiça, mas que não poderia ignorar a decisão tomada na assembleia.

Na notificação divulgada nesta sexta, Josué Gomes comunica que "nenhum ato, incluindo eventual e abusiva demissão de funcionários, está autorizada por esta presidência."

Ele diz também que "os responsáveis sofrerão consequências administrativas, trabalhistas e eventualmente em outras esferas" e que a notificação valeria para "ciência inequívoca da ilegalidade dos atos praticados nesta tarde". O presidente da Fiesp afirma que as medidas demonstração a "ambição de a qualquer modo ocupar indevidamente" a presidência da entidade.

A plenária extraordinária realizada no dia 16 é alvo de mais de uma interpretação. Aliados de Josué Gomes entendem que a destituição dele não era objeto da convocação feita por ele em edital publicado em dezembro.

Para a oposição, porém, a convocação da assembleia é baseada no artigo do estatuto que trata da perda de mandato. Além disso, um grupo de sindicatos havia convocado uma assembleia para discutir a conduta de Josué Gomes na presidência da Fiesp. Quando o presidente da entidade convocou a plenária extraordinária, eles recuaram e aceitaram que a discussão ficasse para o mesmo dia.

A segunda assembleia, onde a destituição foi aprovada por 47 dos votantes, foi realizada quando Josué Gomes e outros cerca de 30 representantes sindicais já tinham deixado o prédio. O advogado de Gomes, Miguel Reale Jr, considera que apenas a primeira assembleia realizada no dia 16 é válida.

Nesta sexta-feira, Josué esteve em Brasília (DF), em agenda oficial com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Palácio do Planalto. Os dois são próximos; Lula chegou a convidá-lo para assumir a pasta de Indústria. Na agenda do presidente da República, Gomes é identificado como presidente da Fiesp.

Durante a semana, a Fiesp fez sua primeira manifestação sobre o assunto. Divulgou nota na qual afirma que Josué Gomes é o presidente da entidade e está no exercício de suas funções, conforme o estatuto.

Desde que a crise entre o atual presidente e dirigentes sindicais insatisfeitos com sua gestão ultrapassou os limites do prédio da avenida Paulista, em São Paulo, a Fiesp ainda não havia feito qualquer comentário.

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