Descrição de chapéu Reforma tributária Folhajus

Quais as propostas alternativas de reforma tributária?

Modernização do sistema atual também é vista como solução por alguns especialistas

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São Paulo

Enquanto a Câmara dos Deputados discute uma reforma tributária com a implantação de um novo imposto sobre o consumo, seguindo o modelo adotado em mais de 170 países, algumas entidades do setor de serviços, representantes de prefeitos e tributaristas têm defendido propostas alternativas e a inclusão de outros tributos no debate.

Entre as demandas estão discutir a desoneração da folha de salários e a tributação do consumo em conjunto. Uma nova contribuição sobre movimentações financeiras, tema que foi ressuscitado no governo Jair Bolsonaro (PL), também é desejada por algumas entidades. Uma modernização do atual sistema, por sua vez, é vista como solução por alguns especialistas.

Neste primeiro semestre o governo quer simplificar e substituir os cinco principais tributos sobre o consumo (os federais PIS, Cofins e IPI, o estadual ICMS e o ISS) por até três novos impostos, com legislações unificadas e sem possibilidade de benefício fiscal regional (com exceção da Zona Franca de Manaus).

Deputados levantam cartazes com os dizeres "Xô, CPMF"
Deputados levantam cartazes com os dizeres "Xô, CPMF", em protesto à tentativa de recriação do tributo no governo Dilma Rousseff - Pedro Ladeira-02.fev.2016/Folhapress

Também deve haver mudança na tributação do local da sede da empresa para o município do consumidor, redistribuindo a arrecadação. A tributação de todos os bens e serviços tende a ser a mesma, com algumas exceções que estão em análise, como alimentos, saúde, educação e transporte.

Com isso, alguns serviços podem ser mais tributados do que hoje, embora o governo aponte que haverá ganho para o setor como um todo em termos de crescimento das receitas.

Uma proposta alternativa que foi apresentada formalmente no Congresso é o chamado Simplifica Já, que faz parte da PEC 46/2022. O texto foi protocolado pelo senador Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) e subscrito por 37 senadores no final do ano passado. A PEC tem o apoio de algumas entidades de serviços e da FNP (Frente Nacional dos Prefeitos), que representa os grandes municípios.

O Simplifica Já prevê a unificação das legislações estaduais do ICMS e municipais do ISS, mas não acaba com esses impostos, e deixa estados e municípios livres para dar incentivos fiscais setoriais no modelo da guerra fiscal. As propostas em análise no Congresso, por outro lado, dizem que um produto deve ter a mesma alíquota em todo o país.

Também estão previstas mudanças nas regras do PIS/Cofins federal e a desoneração da folha com a tributação de marketplaces e aplicativos.

A PEC 46/2022 não está sendo analisada pelo grupo de trabalho que trata da reforma na Câmara. O colegiado trabalha em cima de dois outros textos (PEC 45 e PEC 110), ambos em discussão desde 2019.

A volta da CPMF

Outra entidade setorial, a CNS (Confederação Nacional dos Serviços), propôs duas alternativas de reforma, ambas focadas na desoneração da folha de pagamento. Nos dois casos, seriam extintas as contribuições patronais de 20% para o INSS, ao Incra e para o salário educação, além de haver uma redução na parcela descontada do trabalhador do intervalo de 8% a 11% para de 5% a 8%.

Em troca seria recriada a CPMF, desta vez com o nome de Contribuição Previdenciária sobre Movimentação Financeira, e uma alíquota de 0,74% –quase o dobro do imposto de 0,38% que vigorou no Brasil de 1997 a 2007.

A ideia de criar uma contribuição previdenciária sobre movimentação financeira para desonerar a folha era defendida pelo Ministério da Economia na gestão Paulo Guedes (2019-2022), mas a proposta nunca teve apoio no Congresso.

Luigi Nese, presidente da CNS, admite que a nova CPMF tem pouca probabilidade de ser aprovada. Por isso, propõe como alternativa compensar a desoneração da folha com uma alíquota maior sobre a tributação do consumo.

Nese é contra a criação do imposto que está em debate no Congresso, o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que segue o modelo conhecido como IVA (Imposto sobre Valor Agregado), utilizado na maioria dos países da Europa e América Latina. Ele diz que o IBS é obsoleto e que a CPMF é um imposto moderno.

"O que tem de colocar na mesa é o IVA com a desoneração da folha. Não tem chance de passar sem a desoneração", afirma Nese, que ainda assim vê poucas chances de aprovação da reforma sobre o consumo. "Acho que a reforma tributária não passa."


Alternativas à reforma tributária

Simplifica Já/PEC 46/2022

  • Unificação das legislações estaduais do ICMS e municipais do ISS
  • Não acaba com esses impostos
  • Permite incentivos fiscais setoriais
  • Mudanças nas regras do PIS/Cofins federal
  • Desoneração da folha
  • Tributação de marketplaces e aplicativos

Proposta da CNS

  • Fim da contribuição patronal ao INSS
  • Fim das contribuições do salário educação e ao Incra
  • Redução na contribuição dos trabalhadores à Previdência
  • Nova contribuição sobre movimentações financeiras ou
  • Financiar a desoneração da folha tributando mais o consumo

Reforma infraconstitucional

  • Reduzir horas gastas com obrigações acessórias
  • Reduzir alíquotas dos tributos atuais e das multas aplicadas
  • Impedir a criação de Fundos estaduais
  • Acabar com as tarifas Tust e Tusd na energia elétrica
  • Acabar com a sistemática de substituição tributária
  • Revisar a política dos créditos de insumos para o PIS/Cofins

Na última quinta (30), o ministro Fernando Haddad (Fazenda) descartou a volta da CPMF, ao falar sobre medidas para aumentar a arrecadação.

Muitos especialistas apontam a CPMF como um tributo que não é progressivo, porque incide sobre ricos e pobres com o mesmo percentual. Impostos progressivos, como IR e IPTU, por outro lado, possuem faixa de isenção e alíquotas maiores para os mais ricos. No IBS da reforma tributária, essa diferenciação será feita por meio da devolução do imposto (via cashback) para a baixa renda.

Alguns tributaristas têm defendido uma reforma infraconstitucional, focada na simplificação em vez de mudar o sistema tributário. Em artigo publicado no blog da Folha Que Imposto é Esse, Fernando Facury Scaff, professor da Faculdade de Direito da USP, defendeu essa posição.

Entre as medidas para melhorar o sistema, ele defende revisar a política de créditos de insumos para o PIS/Cofins e sistematizar a coleta de informações fiscais, reduzindo as quase 2.000 horas de trabalho gastas no preenchimento de obrigações acessórias.

"A Reforma Constitucional Tributária pode estar madura para o Congresso, mas os setores produtivos e a academia não entendem desse modo."


Propostas mais avançadas no Congresso

1) PEC 45 - relatório deputado Aguinaldo Ribeiro

  • Substitui cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um Imposto sobre Bens e Serviços e um Imposto Seletivo sobre cigarros e bebidas alcoólicas
  • Transição de seis anos em duas fases, uma federal e outra com ICMS e ISS
  • Substitui a desoneração da cesta básica pela devolução de imposto para famílias de menor renda

2) PEC 110 - relatório senador Roberto Rocha

  • Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins
  • Criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), com fusão do ICMS e ISS
  • Substitui IPI por um imposto seletivo sobre itens prejudiciais à saúde e meio ambiente
  • Criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, abastecido com recursos do IBS
  • Restituição de tributos a famílias de baixa renda

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