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Novo índice de inflação desacelera com trégua de alimentos e fica abaixo do IPCA

IPGF acumulou alta de 4% em 12 meses até março, diz FGV Ibre

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Rio de Janeiro

A inflação acumulada em 12 meses desacelerou em um movimento puxado pela trégua dos preços dos alimentos no Brasil, apontam dados do IPGF (Índice de Preços dos Gastos Familiares) divulgados nesta nesta terça-feira (6).

Com caráter experimental, o IPGF é o novo índice calculado pelo FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas). O indicador foi elaborado a partir de uma cesta de bens e serviços cujos pesos são atualizados mensalmente.

Essa atualização é feita a partir de mudanças no padrão de consumo das famílias. A ideia é captar o efeito sobre os preços causado pela substituição de itens, segundo o FGV Ibre.

Pesquisadora coleta preços de alimentos em supermercado de São Paulo para índices de inflação da FGV - Zanone Fraissat - 9.jun.2022/Folhapress

De fevereiro para março, período mais recente com dados disponíveis, o IPGF desacelerou de 0,73% para 0,52%. Assim, a alta acumulada em 12 meses saiu de 4,67% para 4%.

Isso significa que o IPGF subiu menos do que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é considerado o indicador oficial de inflação do Brasil e é calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

De fevereiro para março, o IPCA desacelerou de 0,84% para 0,71%. O acumulado em 12 meses passou de 5,60% para 4,65% no mesmo período.

A análise do FGV Ibre também aponta que, em 2022, o IPGF fechou o ano com uma variação de 4,94%.

O resultado ficou dentro do limite da meta de inflação perseguida à época pelo BC (Banco Central) para o IPCA –o teto era de 5%. No mesmo período, o IPCA avançou 5,79%, estourando a meta pelo segundo ano consecutivo.

De acordo com o FGV Ibre, a desaceleração do IPGF está associada, principalmente, ao comportamento do grupo alimentação.

Em 12 meses, a alta acumulada pelo segmento era de 11,30% até dezembro. Houve um processo de desinflação em seguida, até o índice atingir 5,73% nesse recorte em março.

Dentro de alimentação, os itens que mais contribuíram para o arrefecimento no período foram os seguintes: outros produtos e serviços da lavoura (de 20,42% para 6,77%), carne de bovinos e outros produtos de carne (de 1,84% para -2,99%) e outros produtos do laticínio (de 22,09% para 17,67%).

Ao lançar o índice de preços, o FGV Ibre afirmou em abril que o IPGF tenta capturar de maneira mais rápida o efeito das mudanças na cesta de consumo das famílias se comparado a outros indicadores, como o IPC (Índice de Preços ao Consumidor), calculado pela mesma instituição, e o IPCA, do IBGE.

No IPGF, essas mudanças são atualizadas a partir dos pesos de bens e serviços no Sistema de Contas Trimestrais do IBGE, que reúne informações sobre o consumo.

Os números levantados são convertidos a uma frequência mensal com base no Monitor do PIB (Produto Interno Bruto), do FGV Ibre.

No IPCA, a cesta de bens e serviços e os respectivos pesos são determinados a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares).

A POF, também divulgada pelo IBGE, aponta o que as famílias consomem e a participação de cada gasto no orçamento.

Essa pesquisa, contudo, tem sido realizada em média a cada seis anos, considerando as últimas três décadas, segundo o FGV Ibre. Os dados mais recentes da POF são de 2017 e 2018.

"Quando o consumidor substitui arroz por macarrão ou carne vermelha por carne branca, ou ainda deixa de consumir combustível e passa a usar mais o transporte público devido ao aumento de preços, por exemplo, os itens substituídos perdem peso no IPGF e seus aumentos passam a contribuir menos para o índice", disse o economista Matheus Peçanha, pesquisador do FGV Ibre.

Segundo ele, o novo indicador deve continuar abaixo do IPCA até o final do ano. Um dos fatores que devem ajudar nesse processo de desinflação é a trégua dos alimentos, que têm peso relevante no orçamento das famílias.

"É esperado que ele [IPGF] fique abaixo dos IPCs. Esse efeito faz com os índices mais tradicionais superestimem um pouco a inflação do que ela é de fato", afirmou o economista André Braz, pesquisador do FGV Ibre.

"Quando você chega ao mercado, não compra necessariamente tudo o que está na sua lista. Quando vê algo caro, você substitui ou corta. A expectativa é de que o IPGF sempre tenha uma inflação mais baixa", acrescentou Braz.

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