Descrição de chapéu Caixa Econômica Federal

Presidente da Caixa sofre fritura no governo e entre aliados após cobrança por Pix

Há relatos de demora para liberar recursos e resistência a demandas políticas; aliados defendem que ela segue normas e não reproduz métodos bolsonaristas

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Brasília

A presidente da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, virou alvo de críticas de integrantes do governo e de aliados do presidente Lula (PT) após o anúncio considerado atabalhoado de cobrança de tarifa sobre transferências via Pix feitas por pessoas jurídicas.

Segundo interlocutores, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) foi um dos que ficaram contrariados ao saber, pela imprensa, da medida. Embora adotada por outras instituições bancárias, a decisão surpreendeu a equipe econômica e foi suspensa por determinação de Lula.

Presidente da Caixa, Rita Serrano, em cerimônia de lançamento do novo programa Bolsa Família, no Palácio do Planalto. - 02.mar.2023-Pedro Ladeira/Folhapress

Na avaliação de colaboradores do presidente, a data do anúncio deveria ter sido debatida no governo e antecipada por uma campanha de esclarecimento. O anúncio deu combustível para críticas de bolsonaristas nas redes.

O episódio trouxe à luz uma insatisfação com o desempenho de Serrano tanto no meio político como no meio sindical, um dos sustentáculos do PT.

Dentro do governo, há queixas quanto ao ritmo para liberação de recursos para atendimento de projetos e patrocínios, além da resistência a demandas de políticos.

A relatada demora na aprovação de projetos tem afetado, na opinião de integrantes do governo, o compasso de programas apontados como essenciais para a retomada da economia.

Na palavra de um ministro, a performance da Caixa está aquém do que se espera do papel de um banco público como indutor do crescimento econômico no Brasil.

A manutenção de indicados por bolsonaristas em cargos de chefia também tem sido objeto de reclamação entre os próprios petistas, que têm bancários na sua base eleitoral.

Pessoas ouvidas pela Folha afirmam que, seis meses após o início do governo, a presidente da Caixa parece estar perdida no cargo. Ela enfrentaria dificuldades de interlocução com outras pastas e também de indicar cargos de chefia.

Os servidores reclamam que permanecem nessas funções nomes da gestão do ex-presidente da Caixa Pedro Guimarães, indicado por Jair Bolsonaro (PL) e que deixou o cargo após denúncias de assédio moral e sexual serem divulgadas pela imprensa.

Há relatos de que funcionários ainda estariam sofrendo assédio moral de ocupantes de cadeiras de comando.

Na área de Tecnologia da Informação, por exemplo, ficaram no cargo a superintendente nacional de TI, Elisabeth da Silva, o superintendente de arquitetura de TI, Darlan Lins, e o gerente nacional de produção de TI, Washington Siqueira.

Enquanto isso, na mesma área, a presidente da Caixa teve dificuldade de emplacar nomes indicados por sua gestão. Para a área de Diretoria Executiva Serviços de TI da Caixa, George Washington Menezes só tomou posse em 20 de junho.

Empregada da Caixa desde 1989, Serrano seria mais dedicada à "cozinha" do banco, sendo sensível às demandas internas da instituição. O novo slogan do banco ("É por você; é por um novo Brasil"), definido em abril, só foi submetido à Secom (Secretaria de Comunicação Social) do governo depois de pronto. Acabou aprovado sem alteração.

Defensores de Serrano lembram, por outro lado, que ela atuou como fiscal durante a gestão de Guimarães e que, na presidência do banco, não poderia desrespeitar as normas pelas quais lutou durante o governo passado.

Apontada como rígida, Serrano defende o respeito ao rito fixado para nomeações e já afirmou, em discurso, que não seria pautada por revanchismo, nem permitiria um apagão no banco, tampouco reproduziria os métodos dos bolsonaristas.

Em sua defesa, aliados também afirmam que Serrano já atendeu 42 políticos, sendo 17 deputados federais, seis senadores e quatro governadores. Ela se reuniu diretamente com 13 ministros.

Sob seu comando, foram reinauguradas 74 salas para atendimento de políticos. Situados em unidades da Caixa em 49 municípios, esses espaços são reservados tanto para recepção de parlamentares e representantes do Executivo como para esclarecimento sobre projetos.

Serrano conta com apoio entre funcionários da Caixa. Em 2017, ela —que pede para ser tratada como presidenta— foi eleita pela primeira vez pelos empregados para ocupar assento no Conselho de Administração. Em 2022, foi reeleita para o terceiro mandato, em primeiro turno, com 91% dos votos válidos.

Entre 2006 e 2012, foi presidente do Sindicato dos Bancários do ABC Paulista. Foi vice-prefeita de Rio Grande da Serra (de 2001 a 2004) durante a gestão de Ramón Velasquez (PT).

Segundo petistas, seu nome conta com o apoio do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, que também é bancário, além de dirigentes sindicais do ABC.

O anúncio da cobrança do Pix foi suspenso, mas o banco não descartou a medida. Em nota, a Caixa afirmou que a suspensão "visa ampliar o prazo para que os clientes possam se adequar e receber amplo esclarecimento do banco sobre o assunto, dada a proliferação de conteúdos inverídicos que geraram especulação".

O ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou que a suspensão da cobrança foi uma solicitação do próprio Lula.

Após conversar com Serrano, Costa contou que a presidente da Caixa não esperava que a medida tivesse tamanha repercussão até por já ter sido adotada por outros bancos.

"Eu disse: 'olhe, a Caixa tem uma popularidade que nenhum outro banco no Brasil tem, então vamos aguardar o retorno do presidente para a gente avaliar essa medida, em que prazo tomar, em que condições tomar'. Isso será reavaliado", afirmou o ministro.

Procurada, a Caixa afirmou que o processo seletivo para ocupação de cargos segue a lei e os critérios estabelecidos. "A seleção de dirigentes atende a parâmetros de controle que passam por toda governança prevista na legislação [...] que trata, dentre outros temas, de requisitos e vedações para o exercício do cargo", diz.

Com relação à campanha publicitária, diz que obedece ao determinado em portaria de 2022 do Ministério das Comunicações.

Além disso, diz que, com o objetivo de potencializar negócios e apoiar a execução das políticas públicas do governo, reativou neste ano as salas de atendimento a cidades e estados para oferecer apoio técnico especializado a gestores públicos.

"A Caixa dispõe de uma área específica para atendimento institucional a parlamentares, atendendo solicitações de audiências, articulando e defendendo os interesses do banco junto ao Legislativo", afirma o banco.

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