Descrição de chapéu petrobras

União se torna ré na CVM por atropelar governança da Petrobras sob Bolsonaro

Processo é alerta para governo Lula, que também insistiu em nomear inelegíveis para colegiado

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Rio de Janeiro

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) tornou réus a União e dois antigos membros do conselho de administração da Petrobras em processo que investiga o atropelo das regras de governança da estatal ainda no governo Jair Bolsonaro (PL).

O processo serve de alerta ao governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que repetiu Bolsonaro e insistiu na nomeação para o colegiado de candidatos considerados inelegíveis tanto pelo comitê interno que avalia currículos quanto pelo próprio conselho.

No processo referente à última renovação do conselho do governo anterior, a CVM questiona a nomeação de Jônathas Assunção e Ricardo Soriano, que na época ocupavam os cargos de secretário-executivo da Casa Civil e de procurador-geral da Fazenda Nacional.

Logotipo da Petrobras no edifício-sede da companhia, no centro do Rio de Janeiro. - REUTERS

Os dois, que também são réus no processo, foram considerados inelegíveis pelo Comitê de Pessoas da estatal por possíveis conflitos de interesse entre seus cargos no governo e a atuação no conselho de administração da companhia.

Ainda assim, Bolsonaro bancou as indicações e, com maioria dos votos em assembleia de acionistas realizada em agosto de 2022, elegeu Assunção e Soriano para o colegiado sob protestos de membros independentes do conselho e de acionistas minoritários.

No encontro, o representante da União, o procurador da Fazenda Nacional Ivo Cordeiro Pinho Timbó, defendeu que pareceres da AGU (Advocacia-Geral da União) e da Comissão de Ética da Presidência da República garantiam não haver vedações legais às duas indicações.

Às vésperas da eleição presidencial, a renovação do conselho marcou uma guinada estratégia do governo em relação à Petrobras, deixando de indicar nomes independentes para ter um colegiado mais alinhado, com nomes ligados à administração federal.

A CVM não dá detalhes do processo. Diz apenas que tem o objetivo de "apurar a responsabilidade do acionista controlador e membros do Conselho de Administração eleitos mesmo sendo inelegíveis nos termos da Lei 13.303/16", a Lei das Estatais.

No fim de abril, o governo Lula também desconsiderou pareceres internos para nomear para o conselho os secretários do MME Pietro Mendes e Efrain Cruz e o ex-ministro de Ciência e Tecnologia Sergio Machado Rezende.

Nos dois primeiros casos, o conselho viu possibilidade de conflito de interesses e recomendou que deixassem os cargos no governo para assumir as vagas no colegiado. O terceiro esbarrou em vedação a indicação de dirigentes partidários.

Além dos três inelegíveis, a União elegeu o atual presidente da companhia, Jean Paul Prates, o diretor da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico) Vitor Saback e o economista Bruno Moretti.

A lista de indicados foi elaborada pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, sob críticas de apoiadores de Lula, incluindo os sindicatos de petroleiros, que questionam a opção por nomes ligados ao Centrão que tiveram cargos no governo Bolsonaro.

Na assembleia, Timbó repetiu que pareceres do governo não identificaram vedações aos indicados e afirmou que a União "não corrobora com manifestações de caráter meramente opinativo" dos órgãos de governança da estatal.

Defendeu ainda que o STF (Supremo Tribunal Federal) havia suspendido em liminar algumas vedações da Lei das Estatais e isso derrubaria também as vedações impostas pelo estatuto da companhia.

O presidente da assembleia, Francisco Costa e Silva, lembrou que a CVM emitiu alerta sobre a possibilidade de eleição de candidatos considerados inelegíveis ao conselho, afirmando que decisões nesse sentido podem ser consideradas abusivas.

"A responsabilidade pelo voto do acionista é do acionista", defendeu Costa e Silva, que já presidiu a CVM e recomendou que investidores insatisfeitos recorressem a órgãos de controle.

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