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Bolsa do Japão dispara no 1º semestre; veja como investir

Índice de ações Nikkei 225 subiu quase 30% na primeira metade do ano

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São Paulo

O índice acionário Nikkei 225, que reúne as maiores empresas nipônicas com ações negociadas na Bolsa de Tóquio, no Japão, apresentou uma das maiores rentabilidades positivas entre os principais mercados desenvolvidos na primeira metade do ano.

De janeiro a junho, a Bolsa japonesa subiu 27,2% segundo dados da Bloomberg, ficando pouco atrás somente do índice Nasdaq, que reúne as maiores empresas de tecnologia dos Estados Unidos e que avançou 31,7%. Foi a maior alta do Nikkei para um primeiro semestre desde 2013.

Homem acompanha cotações de ações em painel eletrônico na Bolsa de Valores de Tóquio no Japão
Homem acompanha cotações de ações em painel eletrônico na Bolsa de Valores de Tóquio no Japão - Richard Brooks - 20.dez.2022/AFP

Os juros ainda extraordinariamente baixos em um momento no qual as grandes economias apertam as políticas monetárias para combater a inflação e as reformas econômicas para estimular o investimento e a remuneração aos acionistas por parte das empresas listadas na Bolsa são apontadas por especialistas entre as razões que justificam o sentimento positivo dos investidores em relação ao mercado acionário japonês.

Também contribuiu para o recente ingresso massivo de recursos nas ações da Bolsa de Tóquio a aposta que o megainvestidor norte-americano Warren Buffett fez em empresas japonesas especializadas na negociação de matérias-primas (tradings).

Considerado uma bússola para o mercado, qualquer movimentação financeira do "óraculo de Omaha", como é conhecido Buffett, é acompanhada e seguida de perto por muitos investidores ao redor do globo.

No mercado brasileiro, existem algumas opções disponíveis ao investidor interessado em expor uma parte da carteira ao mercado acionário japonês.

Nos últimos anos, bancos e gestoras de recursos passaram a oferecer os BDRs (Brazilian Depositary Receipt) de ETFs (Exchange Traded Fund), instrumento financeiro cuja proposta é replicar a carteira de um determinado índice de ações global negociado originalmente no exterior.

A BlackRock trabalha com dois BDRs de ETFs que acompanham o índice de ações MSCI Japão. O iShares MSCI Japan ETF, negociado sob o código BEWJ39 na B3, foi lançado em novembro de 2020 e acompanha a oscilação das ações negociadas na Bolsa japonesa e também a variação do iene frente ao dólar.

Existe também o iShares Currency Hedged MSCI Japan ETF, de código BHEW39, que foi lançado em abril de 2023 e acompanha apenas a variação das ações, sem exposição ao câmbio.

Já o JP Morgan Asset lançou em setembro do ano passado o BDR de ETF JP Morgan Betabuilders Japan (BBJP39), que igualmente busca seguir o desempenho de uma cesta com as principais ações da Bolsa japonesa, bem como da moeda do país asiático.

Gigantes como a montadora Toyota, a empresa de mídia Sony e o grupo financeiro Mitsubishi UFJ Financial estão entre as principais posições dos fundos, que cobram taxas de administração que variam de 0,19% a 0,50% ao ano.

Ao considerar o investimento, além do custo, é preciso levar em conta também o impacto do câmbio.

Gestor internacional focado em Ásia da Gap Asset, Marcelo Lyra diz que o governo do Japão tem estimulado a desvalorização do iene de modo a aumentar as exportações das empresas do país, o que resultou em uma baixa de cerca de 9% da moeda nipônica contra o dólar no primeiro semestre e de 18% frente ao real, segundo dados da Bloomberg.

Por conta desses fatores, o retorno em reais dos BDRs de ETF de Japão fica entre 1% e 4% no ano até junho.

Diretora do segmento institucional e ETFs iShares da BlackRock Brasil, Paula Salamonde afirma que a taxa de juros ainda elevada acaba inibindo a demanda dos brasileiros por alternativas mais sofisticadas de investimento. Mas assinala que, para aquele investidor de perfil mais arrojado que busca uma exposição internacional, faz todo sentido uma alocação no mercado japonês neste momento.

"O Japão é um mercado importante, representa uma economia forte e entendemos que teria que ter um instrumento disponível ao investidor", afirma a executiva.

Lyra, da Gap Asset, acrescenta que, em contraste com as grandes economias desenvolvidas, o banco central do Japão tem adotado uma postura mais leniente com a inflação, mantendo os juros baixos de modo a estimular uma economia que sofreu nos últimos anos com a deflação e o baixo crescimento.

A inflação no Japão tem rodado em torno de 3% em bases anuais, ante a meta de 2%. Apesar da alta dos preços, o BoJ (Banco Central do Japão) tem mantido a taxa de juros inalterada em -0,1%. Com uma tradicional cultura poupadora da população japonesa, o país asiático enfrentou um problema de queda do consumo que provocou uma baixa acentuada dos preços e impediu um crescimento mais robusto da economia durante as últimas décadas, explica Lyra.

Com a inflação em alta, que refletiu um aumento do consumo pela população, a economia do Japão cresceu mais do que se pensava inicialmente entre janeiro e março. O PIB (Produto Interno Bruto) do país teve expansão anualizada de 2,7% no primeiro trimestre, muito acima da previsão média dos economistas, que esperavam um aumento de 1,9%.

"O que está acontecendo lá é reflexo da inflação e do enfraquecimento do iene em meio a companhias que estão relativamente baratas", diz Eduardo Ichikawa, professor de economia monetária e internacional na Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio.

Executivo responsável pela área de ETFs do JP Morgan Asset Management na América Latina, Carlos Brito afirma que as reformas corporativas promovidas no mercado de capitais japonês também estão entre as razões que justificam o otimismo dos investidores com as ações da região.

Autoridades têm buscado estimular que as empresas listadas invistam os volumes retidos em caixa para expandir as operações ou para recomprar as ações negociadas na Bolsa, o que tende a gerar um efeito positivo nas cotações.

"As ações japonesas são consideradas muito cíclicas e sensíveis ao crescimento global", afirma Brito. Ele destaca que a composição setorial das empresas japonesas na Bolsa evidencia essa característica. "Em nosso ETF, cerca de 1/4 são empresas industriais muito voltadas para a exportação, outro quarto são empresas de bens de consumo discricionários e 10% são financeiras", afirma o especialista.

Ele acrescenta que o iene teve desvalorização nos últimos meses de cerca de 30% em relação ao renminbi chinês, "o que é relevante já que o Japão agora exporta mais para a China do que para os Estados Unidos."

Na avaliação do professor do Mackenzie Rio, a tendência é que o processo inflacionário gradualmente perca força, convergindo para a meta de inflação de 2%, com os preços das ações experimentando alguma estabilização.

Lyra, da Gap Asset, diz que, até o momento, não há sinais de grandes mudanças nos rumos da política monetária pelo BC japonês, o que tende a manter a economia da região aquecida. Após a forte alta da Bolsa japonesa no primeiro semestre, no entanto, a trajetória ascendente dos preços das ações tende a ser mais contida, diz o gestor.

Seja como for, as perspectivas para as ações japonesas atraíram o interesse do megainvestidor Warren Buffett. Em junho, ele aumentou a exposição que já detinha em cinco grandes tradings japonesas —Itochu, Marubeni, Mitsubishi, Mitsui e Sumitomo.

Segundo o bilionário, as ações têm uma perspectiva positiva de crescimento nos próximos anos e estão sendo negociadas a preços bastante descontados.

"A intenção da Berkshire Hathaway [empresa de investimento de Warren Buffett] continua sendo de manter seus investimentos japoneses para o longo prazo. Dependendo do preço, a Berkshire Hathaway pode aumentar suas participações até um máximo de 9,9% em qualquer um dos cinco investimentos [frente aos atuais 8,5%]", diz comunicado divulgado pela empresa de Buffett no final de junho.

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