Descrição de chapéu mercado de trabalho

Projeto abre treinamento de mulheres negras para cargos de liderança

Elas ocupam 3% das posições de chefia executiva e apenas 1% delas são pretas

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São Paulo

Quanto maior o nível hierárquico dentro de uma empresa, menor é a presença de mulheres negras. Elas representam somente 3% das posições executivas, considerando pretas e pardas, segundo estudo da consultoria Gestão Kairós realizado com 900 líderes de corporações. Apenas 1% das mulheres em cargos de chefia são pretas.

Mulheres negras também são as mais afetadas por desigualdades salariais, aponta levantamento realizado pela associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, organização de promoção à equidade racial nas empresas. De 2010 a 2022, pretas e pardas receberam 71% do rendimento médio de uma mulher branca no Nordeste, enquanto no Sudeste a diferença foi de 62%.

Deagreez/Adobe Stock

O Pacto lança nesta terça-feira (25), Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, o programa de mentoria e aceleração de carreiras de mulheres negras "Pacto Transforma". A iniciativa vai contemplar 30 mulheres pretas e pardas das cinco regiões do país.

As inscrições poderão ser feitas a partir de 7 de agosto, por meio da plataforma da associação. As entrevistas com as pré-selecionadas serão em setembro, e as classificadas serão convocadas até outubro.

O programa é voltado a profissionais que atuem no mercado corporativo, tenham formação em áreas de negócios e afins, estejam em algum cargo de liderança (analista sênior, especialista ou coordenadora) ou busquem se desenvolver em gestão de pessoas e negócios.

Para Ednalva Moura dos Santos, gerente de relações institucionais do Pacto, um dos objetivos da iniciativa é fortalecer a autoconfiança de mulheres negras frente ao mercado de trabalho.

"Nós, mulheres negras, sobretudo na casa dos 40 anos ou mais, somos mais cautelosas na mudança e na busca de oportunidades. A gente não se inscreve para uma vaga se não tiver no mínimo 70% dos requisitos pedidos, mas vale você participar porque a oportunidade está posta", afirma.

As participantes terão mentoria individual e desenvolverão um plano de carreira com o suporte de mulheres negras com mais de dez anos de experiência, além de aprimorarem suas habilidades técnicas e comportamentais com a ajuda de especialistas. Também haverá aulas de inglês e não é obrigatório saber a língua.

Haverá encontros com representantes de empresas patrocinadoras do Pacto. Para Ednalva, a troca entre negros e brancos pode romper vieses inconscientes [padrões de comportamento preconceituosos arraigados na cultura pessoal e organizacional] e agregar aliados.

"Quando falamos de oportunidades para lideranças negras, vem aquela velha história de empresas que dizem não saber onde elas estão. Então aqui nós seremos propositivos para dizer: tenho um grupo de 30 mulheres que estão prontas. Elas precisam da oportunidade para continuar se desenvolvendo", diz.

O programa terá duração de 11 meses, com um encontro presencial a cada três meses e outros dez meses de encontros virtuais.

Para a gerente, o impacto do programa ultrapassa as 30 mulheres selecionadas, alcançando seus núcleos familiares, as organizações onde trabalham e sua comunidade local. "Nessa experiência de desenvolvimento individual, essa mulher vai impactar toda sua comunidade, o contexto em que está inserida, e os resultados servirão de modelo", afirma.

Os resultados do projeto-piloto serão apresentados no 3º Fórum Pacto das Pretas, em 2024. "Queremos que seja uma experiência que se torne referência e, quem sabe, vire uma política pública."

A seleção terá heteroidentificação das candidatas. De acordo com Ednalva, houve uma grande evolução na autodeclaração nos últimos anos, com as pessoas se tornando mais conscientes sobre fraudes, mas mulheres negras com pele retinta têm os maiores desafios.

"Mulheres negras que usam cabelo natural também enfrentam grandes tabus. A heteroidentificação vai nos ajudar a mapear essas mulheres que enfrentam mais dificuldades no mercado de trabalho."

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