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Lançamento da Huawei acende alerta nos EUA para avanço chinês na guerra dos chips

Newsletter China, terra do meio explica como nova tecnologia afeta relação com estadunidenses

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Igor Patrick
Washigton

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A Huawei surpreendeu o mercado ao anunciar o celular Mate 60 Pro no momento em que a secretária do comércio do EUA, Gina Raimondo, estava em Pequim, na quinta-feira (31). A gigante chinesa luta para se manter relevante na venda de dispositivos móveis após ser sancionada por Donald Trump em 2019.

  • O modelo é vendido por ¥6.999 (cerca de R$4.800) como o primeiro smartphone no mundo a suportar chamadas por satélite;

  • O processador do aparelho utiliza uma nova tecnologia, o que indica que a China progride na tentativa de construir um ecossistema de chips doméstico, informa a Bloomberg.

Engenharia reversa do novo celular Mate 60 Pro, apresentada no canal Wekihome
Engenharia reversa do novo celular Mate 60 Pro, apresentada no canal Wekihome - Reprodução

Quando impôs as restrições, o governo Trump proibiu que empresas americanas (ou que usassem tecnologia americana) fizessem negócios com a Huawei, a menos que conseguissem uma licença especial virtualmente impossível de ser concedida.

A medida bloqueou o acesso da Huawei a novos chips para seus telefones e foi interpretada à época como uma sentença de morte para a marca.

No ano passado o governo Biden foi ainda mais longe, promulgando uma ordem executiva que ameaçava até mesmo caçar a cidadania de qualquer americano trabalhando na indústria de chips chinesa.

Diante dessas medidas, o Mate 60 Pro não deveria existir nas configurações alardeadas pela imprensa local. Segundo o jornal South China Morning Post, o aparelho tem capacidade para atingir velocidade de conexão 5G, uma tecnologia presente apenas nos chips mais modernos e, portanto, incluída nas restrições.

A Huawei não comenta o assunto.

Analistas passaram, então, a afirmar que a empresa pode ter desenvolvido seu primeiro chip 100% nacional, um potencial salto tecnológico não apenas para a Huawei, mas para a indústria chinesa como um todo. A possibilidade despertou medo nos EUA.

Segundo o Washington Post, especialistas e funcionários governamentais divergem sobre como lidar com a questão: alguns pediram por recrudescimento nas restrições, enquanto outros aventaram que as sanções estão servindo apenas para acelerar o desenvolvimento de soluções domésticas chinesas a tecnologias-chave.

Os dados técnicos reportados pela imprensa até agora indicam que o tal chip do smartphone foi construído em arquitetura de 7 nanômetros —uma tecnologia relativamente obsoleta, similar ao que a Apple usava em 2018 para os iPhones XS, por exemplo.

Porém, se confirmado que foi de fato integralmente desenvolvido e fabricado com tecnologia e expertise chinesa, isso indicaria que a indústria local está muito mais avançada do que se imaginava

Por que importa: além das óbvias vantagens comerciais, produzir chips domesticamente daria importante vitória militar, já que o risco de fazer quebrar a TSMC, maior fabricante mundial do produto e baseada em Taipé, ainda é uma das principais dissuasões em Pequim contra a reconquista de Taiwan pela força.

o que também importa

★ O porta-voz do Ministério da Defesa da China, Wu Qian, prometeu que a pasta vai "combater a corrupção entre todos os seus funcionários". A declaração foi uma resposta a jornalistas que questionaram Wu sobre o que teria acontecido com o ex-ministro da Defesa Wei Fenghe, desaparecido há meses juntamente com outros experientes comandantes da força de foguetes. O porta-voz complementou dizendo que o Exército "governa de acordo com a lei e não tolera corrupção".

A megalópole chinesa Chongqing anunciou que vai implementar uma "versão local expandida" da lei antiespionagem nacional aprovada em julho. O texto com 29 artigos passará a exigir que instituições estatais submetam planos de viagem detalhados para triagem de segurança quando enviarem funcionários ao exterior. A cidade, que é administrada diretamente pelo governo central, também pretende exigir que escolas e empresas estatais adotem treinamentos compulsórios de "prevenção e segurança nacional".

A China pediu que a Índia "mantenha a calma" e não "interprete exageradamente" um novo mapa publicado na sexta por Pequim. O mapa causou revolta em Nova Déli por incluir os estados de Arunachal Prades e o planalto de Aksai Chin como áreas chinesas, além de territórios legalmente pertencentes à Malásia e às Filipinas. O chanceler indiano, S. Jaishankar, reagiu chamando o movimento chinês de "absurdo".

fique de olho

O ministro das Relações Exteriores da Itália, Antonio Tajani, chegou no domingo a Pequim para uma visita que deve durar até terça (5). O italiano se reuniu com o seu homólogo chinês, Wang Yi, e altos funcionários chineses para discutir a cooperação bilateral nos campos econômico, comercial, cultural e de segurança.

Tajani visitou projetos financiados pela Iniciativa de Rota e Cinturão e expressou o compromisso da Itália com o plano, mas expressou ter algumas preocupações sobre a transparência e a sustentabilidade de alguns dos projetos anunciados.

Por que importa: a italiana Giorgia Meloni tem dado indicativos de que pretende deixar o mega-projeto de infraestrutura chinês. Único país do G7 a aderir à Iniciativa de Cinturão e Rota, a Itália reclama que não viu benefícios tangíveis na parceria assinada com pompa em 2019.

Segundo o Council on Foreign Relations, um think tank americano, o volume de exportações da Itália para a China cresceu cerca de €4 bilhões (R$ 21,1 bilhões) desde a assinatura do acordo, enquanto os chineses aumentaram suas exportações para os italianos em €17.4 bilhões (R$ 92,2 bilhões);

Além do parco resultado comercial, a entrada de uma economia ocidental desenvolvida deu lastro de credibilidade para o projeto, algo que não foi bem recebido pelos parceiros na Europa e pelos EUA.

para ir a fundo

  • O sinólogo Maurício Santoro vai ministrar um curso que analisa as relações do Brasil com a China e os Estados Unidos diante de um cenário de competição entre as duas potências. Os encontros ocorrem nos dias 11, 18 e 25 na Livraria Argumento, no Rio de Janeiro. Informações aqui. (pago, em português)
  • O Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) lançou seu relatório anual que monitora os investimentos chineses no Brasil. A pesquisa neste ano mostrou que o perfil dos projetos chineses no país pode estar mudando. Download aqui. (gratuito, em português)
  • O Instituto CPFL realiza até o dia 29 a sétima edição do Festival Intercâmbio Brasil-China. Com atividades presenciais (no estado de São Paulo) e virtuais, o evento contará com uma mostra de cinema chinês, concertos e celebrações do festival da lua, além de conteúdos curados pelos organizadores no Spotify e YouTube. Informações aqui (gratuito, em português)
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