Brasil e Colômbia estão em lados distintos na transição energética, diz ministro colombiano

Para German Umaña Mendoza, enquanto Brasil fala em explorar petróleo na Amazônia, Colômbia quer acelerar a substituição dos combustíveis fósseis por energias limpas

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Bogotá (Colômbia)

Mesmo com presidentes alinhados ideologicamente e com pensamentos similares em relação à transição energética, Brasil e Colômbia estão em lados distintos em relação a esse tema. A opinião é do ministro de Comércio, Indústria e Turismo colombiano, German Umaña Mendoza.

"Nosso presidente diz que um é mais ambientalista que o outro, só não disse quem. Mas, basicamente, a Colômbia não vai explorar petróleo na Amazônia. O Brasil vai explorar petróleo na Amazônia", disse o ministro de Gustavo Petro durante encontro com jornalistas latino-americanos organizado pela OMC (Organização Mundial do Comércio), em Bogotá, capital colombiana.

Ministro do Comércio da Colômbia, German Umana Mendoza, participa de encontro na Venezuela
Ministro do Comércio da Colômbia, German Umaña Mendoza, participa de encontro na Venezuela - Carlos Eduardo Ramirez - 18.ago.2022 / Reuters

A fala diz respeito aos planos da petroleira estatal brasileira Petrobras de receber licença para iniciar exploração de petróleo na bacia da Foz do Amazonas já no próximo ano. O assunto é motivo de divergências entre as áreas ambiental e energética do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Umaña reforçou, contudo, as convergências dos dois países, argumentando que ambos estão alinhados em 90% dos assuntos, inclusive sobre a importância da transição energética, um tema que as duas nações vêem como fundamental. A única diferença, segundo ele, é em relação ao momento em que a substituição de combustíveis fósseis por energia limpa deve ser feita.

"O presidente Lula, a quem tenho o privilégio de conhecer, e o presidente Petro, a quem também tenho o privilégio de conhecer, pensam o mesmo: para onde vai a transição energética?", afirmou o ministro colombiano.

"Acredito que alguns pensam que a transição energética deve ser responsabilidade de todos e que todos devem se comprometer ao mesmo tempo, e outros [como nós colombianos] pensamos que temos a responsabilidade de ensinar à humanidade que a transição energética precisa acontecer mais rapidamente", completou.

Apesar de ser enfático sobre a necessidade do incentivo aos biocombustíveis, tema caro ao governo Lula desde a posse no início deste ano, a gestão brasileira atual alocou mais recursos no PPA (Plano Plurianual) para ações no setor de petróleo e gás do que havia sido proposto pela administração de Jair Bolsonaro (PL).

Pela proposta atual, que tramita no Congresso, o governo Lula pretende gastar R$ 479 bilhões com o setor entre 2024 a 2027, enquanto a gestão anterior previa investir, de 2020 a 2023, R$ 434 bilhões, valor esse já corrigido pela inflação.

Questionado pela Folha sobre a persistente demanda global por combustíveis fósseis pelas próximas décadas, e como balancear essa demanda com a reconhecida necessidade de transição energética, Umaña criticou essa visão, dizendo que esse pensamento transmite a ideia de que o petróleo será usado pela eternidade.

"Eu acredito que a transição energética implica um compromisso", declarou. "Em geral, todos os países estão falando sobre a transição energética e estão adaptando suas políticas a respeito. O mundo está consciente de que é preciso começar a substituir o petróleo e o carvão por energias limpas".

"A pergunta deveria ser ao contrário: como fazemos para acelerar o processo de transição do petróleo e do carvão para energias limpas?", continuou.

Apesar da análise do ministro colombiano, movimentos globais de indústrias petroleiras mostram como os governos, embora implementem políticas de incentivo às energias limpas, têm permitido concomitantemente a manutenção e, por vezes, até o aumento da produção de óleo e gás.

Um grande exemplo recente é o anúncio de compra da gigante do xisto Pioneer Natural Resources pela Exxon Mobil, negócio que torna esta última líder na maior bacia petrolífera dos Estados Unidos, o que lhe garante ao menos uma década de produção de baixo custo.

O movimento, segundo o New York Times, mostra como a Exxon está apostando que a nova política energética dos EUA não se moverá significativamente contra os combustíveis fósseis.

A repórter viajou a convite da OMC

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