Descrição de chapéu Financial Times Moda

Como parecer rico? Naturalidade, equilíbrio e atenção aos detalhes são requisitos

Moda do topo da pirâmide da riqueza vai de luxo discreto a itens de colecionador

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Robert Armstrong Lauren Indvik
Financial Times

Os ricos, como todos sabem, não tentam parecer ricos. Verdadeiros endinheirados não têm nada a provar e ninguém para impressionar. Estão confortáveis. Vestem o que gostam.

Pode ter havido um tempo em que o topo da pirâmide da riqueza tinha uma aparência distinta. Agora, usam tênis nas salas de reuniões e vestem shorts para o jantar de US$ 750 (R$ 3.875) no restaurante Masa, em Nova York.

Pelo menos é o que nos dizem. É, no máximo, uma meia-verdade. Bilionários da tecnologia, magnatas de Hollywood, nobreza da orla da ilha Martha's Vineyard, aristocratas britânicos de sobrenome duplo, oligarcas, primos variados do rei Salman, da Arábia Saudita. Eles têm seus próprios momentos de insegurança e se preocupam com a imagem que projetam.

O jogo do status nunca termina em vitória absoluta.

Cena da quarta temporada de 'Succession', série da HBO sobre uma família de bilionários - Divulgação/HBO

Vestir-se de forma simples é uma jogada de status, e já se tornou relativamente óbvia. Quem é enganado pela "riqueza discreta"? Que peça de roupa, exatamente, deve sinalizar dinheiro de forma mais óbvia do que um casaco de vicunha ou um par de Loro Piana Open Walks? Uma cartola e um monóculo? Dá um (caríssimo) tempo. O luxo discreto é uma performance kabuki de facilidade financeira e indiferença.

A ideia de luxo discreto acerta na importância dada a sinais que apenas algumas pessoas podem entender, pequenos acenos para pessoas como você ou, mais provavelmente, para pessoas que você gostaria de ser. Para cumprir esse papel, os sinais devem ser sutis o suficiente —e alterados quando se tornam facilmente reconhecíveis.

Às vezes, não há sinal algum, e até mesmo especialistas ficam sem saber. Paolo Martorano, alfaiate sob medida de Nova York, lembra de um cliente que foi a um desfile em Palm Beach, na Flórida, vestindo uma regata e shorts de basquete. Ele encomendou roupas no valor de US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão).

"É bem difícil" saber quem tem dinheiro de verdade para gastar, diz. Às vezes, o oposto é verdadeiro —um cliente entra usando um terno sob medida, mas "eles só têm um, usam até a morte" e só compram uma ou duas coisas. Antigamente, os clientes sérios só compravam durante a semana; Martorano agora faz muitos negócios nos finais de semana.

Sotaques, antes um indicador de classe nas Ilhas Britânicas, não são mais úteis para avaliar quem tem uma propriedade rural em Gloucestershire para redecorar ou um jatinho para transportar um par de vasos de porcelana Imari do século 17, segundo Timothy Langston, um comerciante de antiguidades em Londres.

Nem roupas. "Os padrões realmente caíram ao longo dos anos em termos de vestimenta —é muito raro ver alguém usando um terno, quanto mais uma gravata e um paletó", diz.

Spencer Hebron, vendedor da loja de departamento de luxo Bergdorf Goodman, trabalhou em várias lojas de alto padrão em Nova York e lembra-se de como as coisas eram diferentes.

"Nos anos 1980, quando comecei na Barneys, a moda era tudo. Alguém usaria Comme des Garçons ou Donna Karan da cabeça aos pés. Não é mais assim. Agora as pessoas não se importam; elas misturam tudo."

De fato, agora é desesperadamente vulgar se vestir de uma maneira que anuncia um status de elite. Um estilista britânico que veste celebridades e executivos para turnês de divulgação pergunta: "Por que, de todas as coisas, parecer rico? Não é difícil parecer rico. Você não quer parecer você, parecer uma história, parecer criativo, parecer interessante?"

No entanto, as pessoas realmente querem parecer ricas, e os sinais estão lá para serem lidos. Alguém que escolhe se vestir bem, e tem dinheiro para realmente se vestir bem, não usará um único item que se destaque dos demais —uma fórmula aproximada é que os sapatos custem um terço do valor do terno, e a camisa, um oitavo.

Jonathan Sigmon, dono da Alan Flusser Custom, uma loja de alfaiataria em Nova York, diz que quando os clientes mais ricos entram pela porta, "na maioria das vezes eles estão usando calças chino velhas e Sperrys, e o que quer parecer rico pode estar usando uma coisa bonita, mas isso pode consumir todo o orçamento de compra deles para a temporada".

Ele destaca que pessoas com dinheiro de sobra são capazes de misturar o alto e o baixo de forma mais suave —um par de calças feitas à mão e uma blusa Shetland velha, por exemplo.

"Tem mulheres que entram e talvez estejam usando botas Chanel, um par de jeans velhos e uma camiseta da The Row", diz Hebron, o vendedor da loja de luxo. "Mas o relógio é um Rolex de ouro 18 quilates, com uma bolsa Lady Dior."

Os sinais particulares de riqueza mudam, mas os padrões se repetem dentro dessa variedade. Um deles é ter o melhor ao mesmo tempo que demonstra indiferença de forma cuidadosamente coreografada ("Ah, aquela coisa velha?").

Da mesma forma, misturar o alto e o baixo é uma técnica clássica —assim como exibir um desgaste evidente em itens caros. Em "O Talentoso Ripley", mocassins Gucci desgastados e jaquetas sob medida amassadas, cortadas para parecerem feitas em Roma, contribuíram muito para tornar a interpretação de Jude Law como um herdeiro americano diletante tão convincente.

Se muitas pessoas reconhecem suas posses, você não está jogando conforme as regras. Apenas alguns devem se perguntar que marca você está vestindo. Antes de Tiina Laakkonen fechar sua boutique de alto padrão nos Hamptons no mês passado, ela disse ao The New York Times: "O mundo do varejo aspiracional foi dominado por grandes marcas de luxo... meu cliente não é mais aspiracional. Eles não querem logotipos ou nada disso. Eles estão cansados." Lá está o "aspiracional" novamente; uma palavra muito suja. Os verdadeiramente ricos não se exibem, ou melhor, não são vistos.

Ao avaliar a riqueza de um homem, tradicionalmente se olha para o relógio e os sapatos. Isso continua sendo verdade. Com os relógios, porém, é fácil exagerar, como explica o escritor Nick Foulkes.

Um Patek Philippe Nautilus, por mais bonito que seja, "está um pouco óbvio agora; tornou-se vítima do seu próprio sucesso". Um Patek 1518 antigo, por outro lado, mostra que você é um verdadeiro conhecedor, enquanto um simples Rolex Oyster Perpetual em aço inoxidável demonstra mais confiança. E, com roupas realmente boas, um relógio Casio barato pode ser ainda mais impressionante —algo em que bilionários e presidentes sempre confiaram.

Homens ricos hoje em dia usam mocassins, até mesmo com terno. Cadarços, mesmo em sapatos de alta qualidade, sugerem trabalho. Mocassins transmitem a autonomia de poder tirar os sapatos a qualquer momento. Eles são combinados, idealmente, com a tez avermelhada de alguém que tem tempo para se exercitar.

Mulheres bem-sucedidas dizem que observam a qualidade do tecido e a aparência ao avaliar a riqueza de outras mulheres. O cabelo é espesso, brilhante e sutilmente colorido (mechas loiras são uma dica do orçamento). A pele é bem hidratada e nutrida; fazer escova profissional é algo natural (não é incomum que mulheres ricas levem suas equipes de cabelo e maquiagem com elas). Geralmente, há cirurgia plástica —botox, um preenchimento das maçãs do rosto e das sobrancelhas, um pequeno facelift.

Assim como os relógios masculinos, as joias femininas podem revelar muito. "É o diamante de cor rara que ninguém mais pode ter", diz Carol Woolton, editora de joias e apresentadora da British Vogue, ou "ouro muito chique —não semijoias". Também pode ser uma peça que seja reconhecivelmente Cartier ou JAR, mas não esteja disponível para qualquer pessoa que entre em uma loja. "Mostra que você está em um nível acima".

A mesma lógica pode ser aplicada às bolsas —colecionadoras de Hermès reconhecerão bolsas que apenas as principais clientes podem ter. Por outro lado, a ausência de uma bolsa pode sugerir que um motorista ou assistente pessoal esteja por perto.

Hoje em dia, Timothy Langston, o negociante de antiguidades, depende de pistas não visuais —"uma certa aura" e conversa. "Muitas vezes eles não dizem muito e muitas vezes não revelam muito. Mas eles têm algo especial —uma espécie de confiança que só os muito ricos têm".

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