Por que não é um problema Sheherazade não ter casa própria; entenda

Fala da jornalista reacende discussão sobre quando é vantajoso comprar um imóvel

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São Paulo

Após ser expulsa de A Fazenda 15, a jornalista Rachel Sheherazade causou polêmica ao dizer no Link Podcast que, com seu salário mensal de R$ 200 mil como âncora de um telejornal, ela não conseguiu comprar um imóvel, por priorizar a educação dos filhos.

A fala foi alvo de críticas e levantou a discussão sobre a importância do planejamento financeiro e as vantagens e desvantagens de se comprar um imóvel.

Especialistas ressaltam que planejamento, disciplina e calma são essenciais na hora de tomar a decisão sobre comprar um imóvel - Wasan/Adobe Stock

Nem sempre não ter uma casa própria é um problema, e a depender das condições financeiras, dos projetos para o futuro e das opções de investimentos, pode até ser uma opção ruim.

Planejadores financeiros chamam atenção para o fato de o assunto envolver dois aspectos importantes: o racional financeiro e questões emocionais e culturais.

No Brasil, ainda predomina o pensamento de que o imóvel traz mais segurança para o futuro, o que não deixa de ser verdade. Porém, dependendo das condições do financiamento, a pessoa pode estar entrando em um negócio arriscado.

"Se for muito importante para a pessoa ter sua casa, ela precisa pesquisar, fazer comparações e não tomar nenhuma decisão por empolgação. Não pode ter pressa", diz o assessor de investimentos Renan Asmus, da Nova Futura.

Calcule o que falta para sua independência financeira

O especialista recomenda que as pessoas consigam achar um espaço no orçamento para guardar dinheiro suficiente para uma reserva de emergência antes de começar a pensar se compra ou não um imóvel. Afinal de contas, se a pessoa perder o emprego e não conseguir pagar as parcelas por muito tempo, poderá perder sua casa.

"Existe um pensamento comum de que, mesmo em uma situação na qual a pessoa gasta mais para ter seu imóvel, no fim, ela estará gastando com um bem que será seu. Mas é preciso entender que, enquanto a pessoa não quita a dívida, o imóvel não é dela, mas do banco. Se não conseguir honrar o financiamento, ela perde esse imóvel", afirma.

No geral, a planejadora financeira Vanessa Ransolin, da Warren Investimentos, pondera que, dadas as condições macroeconômicas do Brasil, comprar imóvel não tem sido o melhor negócio.

"Olhando os rendimentos das aplicações financeiras, é muito melhor deixar o dinheiro que a pessoa guardou investido e pagar aluguel. A gente mora em um país com taxas de juros altíssimas. Então, em um investimento em renda fixa, a gente consegue um ganho real acima da inflação de 3% a 4% sem correr muito risco", diz a especialista.

"E o que isso quer dizer? Quer dizer que, em média, a gente vai ter uma rentabilidade que corresponde ao dobro do que a gente pagaria de aluguel", diz.

Portanto, se a pessoa tem um montante considerável guardado e puder aplicar, vai acabar pagando menos em um aluguel do que em um financiamento no longo prazo.

Por outro lado, pensando em planejamento sucessório, financiar um imóvel com seguro significa que, caso a pessoa morra, os herdeiros recebem o bem sem a dívida, ou seja, o seguro quita o restante do imóvel.

Se, mesmo sabendo das desvantagens, o indivíduo optar pela casa própria, os especialistas recomendam muito planejamento, para que a pessoa consiga poupar. Se não houver pressa, é possível até mesmo se projetar no longo prazo e comprar o imóvel apenas quando puder pagar à vista.

Mas se a pessoa quiser o imóvel antes, será preciso disciplina e possibilidade de poupar para alcançar uma quantia razoável para dar entrada no curto prazo, com dois a três anos de poupança.

"Ter disciplina e planejamento financeiro e investir com objetivos claros e metas bem estabelecidas vai trazer um ganho maior. E se seu objetivo é ter um imóvel, dá para realizar esse sonho com menos dinheiro. É preciso ter uma meta clara, tanto de rentabilidade como de prazo", diz Ransolin.

Asmus, da Nova Futura, recomenda alguns sites de pesquisas para embasar a decisão do consumidor. Em primeiro lugar, é importante estar a par das projeções do mercado sobre juros e inflação, e uma boa forma de ter acesso a isso é o Boletim Focus do Banco Central.

Hoje em dia, por exemplo, como os agentes do mercado esperam corte da taxa básica de juros —atualmente fixada em 12,75% ao ano— para um patamar entre 9% a 10% no próximo ano, o melhor seria esperar, para tomar empréstimos a juros menores.

Outro site indicado pelo especialista é o FipeZap, por meio do qual é possível ter acesso a projeções de precificação do imóvel, para entender se aquela região onde ele está localizado tem condições favoráveis para uma valorização. "Isso ajuda a mensurar se vale a pena comprar aquele imóvel."

Asmus recomenda ainda consultas no site da Caixa para a pessoa fazer simulações e ter ideia do quanto pagará de juros ao final do financiamento.

O especialista diz que, nos casos em que a pessoa está adquirindo o seu primeiro imóvel, e dependendo da renda mensal e do valor da unidade, é possível entrar em programas sociais como o Minha Casa, Minha Vida, que tem condições melhores de financiamento.

COMPRAR IMÓVEL É UM BOM INVESTIMENTO?

Os especialistas chamam atenção para alguns fatores se o interessado já tem a casa própria e pensa em adquirir outro imóvel como forma de investimento. Há opções de aplicação nas quais o investidor vai se expor ao mesmo risco, que é o do setor imobiliário, mas não precisa deixar seu dinheiro engessado em um bem de baixa liquidez.

Uma alternativa são os fundos imobiliários, que permitem o resgate do dinheiro com uma facilidade maior do que no caso da compra de um imóvel. Mas é importante conhecer as regras dos fundos, para entender os riscos desse tipo de aplicação.

Com tantas opções de investimento no mercado hoje, Asmus só recomenda comprar um imóvel para esse fim se as condições forem muito favoráveis.

Ele exemplifica com os casos em que o proprietário precisa do dinheiro com urgência e vende o bem com um valor muito abaixo do encontrado no mercado. Outra condição vantajosa é quando o imóvel comprado na planta tem uma grande valorização no seu lançamento.

Outros casos citados pelo profissional são de imóveis adquiridos em locais com grandes expectativas de valorização no futuro, como aqueles que estão próximos da área de construção de uma estação do metrô, por exemplo, ou em bairros que passam por uma revitalização.

Mas o profissional ressalta que, mesmo nessas situações, o proprietário tem que ter em mente que imóveis exigem tempo e gastos com manutenção.

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