Descrição de chapéu juros

BC pode afastar mudanças no parcelado sem juros, diz Abrasel

Entidade que representa bares e restaurantes diz que bancos mostram pouca disposição em debater tema; Febraban nega

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UOL

O Banco Central pode afastar a ideia de mudar o parcelamento sem juros, afirmou o presidente da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), Paulo Solmucci.

Além disso, estudos do BC não enxergariam relação entre essa modalidade de crédito e a inadimplência, disse ele ao UOL, depois de participar de uma reunião da entidade com diversos representantes da indústria de cartões e a Febraban em Brasília.

Consumidores observam preços de passagens de ônibus parceladas
Discussão sobre pagamento financiado sem juros gera debate entre associações que representam bancos e bares e restaurantes - Juca Varella - 25.jun.2001 / Folhapress

Ele também diz que há pouca disposição dos bancos para debater o tema e que há riscos de reduzir ainda mais o parcelamento.

No último dia 7, as associações se reuniram com o Banco Central em Brasília. Na ocasião, a Abipag (Associação Brasileira de Instituições de Pagamentos) e a Abranet (Associação Brasileira de Internet) utilizaram dados do próprio BC para mostrar que não existe a relação entre inadimplência e parcelamento sem juros.

Também participaram do encontro a CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), a ABBC (Associação Brasileira de Bancos), o IDV (Instituto para Desenvolvimento do Varejo), a ABRAS (Associação Brasileira de Supermercados), a CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas), entre outros.

Ao UOL, Solmucci, que estava presente na reunião, diz que os dados mostravam justamente o contrário. O estudo da Abipag mostrou que o índice de inadimplência é maior entre quem faz a compra em apenas uma vez no cartão de crédito. O Banco Central não endossa a informação, mas teria dito que os estudos e simulações que estão sendo feitos pela instituição "vão na mesma direção", disse Solmucci.

"[A reunião] foi muito importante, porque praticamente tira do cardápio de soluções mudar o parcelamento sem juros. Houve a segunda apresentação da Febraban, que não mudou nada. [A instituição] diz que tem que baixar [parcelas] para 6 ou 4, mas não apresentou nenhum estudo. Eles falam e não provam, não apresentaram nenhum estudo com dados oficiais. Na minha opinião, [os estudos apresentados] deixam afastados a ideia de mexer no parcelado sem juros como solução, ainda que eles continuem insistindo", afirmou Solmucci.

Para a associação, a proposta dos bancos, estudada pelo Banco Central, é uma "tentativa de descaracterizar e desidratar o parcelado sem juros". A entidade se manifestou novamente contra a regulação do parcelamento, em comunicado publicado em seu site.

Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, havia proposto um limite de 12 vezes para o parcelado sem juros. O interesse dos grandes bancos seria eventualmente diminuir as parcelas ainda mais, para até seis ou quatro vezes. A proposta foi apresentada em 16 de outubro em uma reunião com representantes do varejo, bancos e maquininhas, o que terminou sem consenso.

O que defende a Abrasel

Para a associação, há muitos motivos para manter essa modalidade de crédito. Estímulo à economia, concorrência e inovação, além do incentivo ao comércio e aos serviços e saída para emergências. Além disso, reitera que as mudanças propostas seriam prejudiciais para o consumidor e comércio, pois resultariam no aumento do custo das compras e dificultariam o acesso a bens e serviços, o que impactaria os setores negativamente.

Também defende que não há relação entre o parcelamento sem juros e a inadimplência. Esse argumento vem em linha do que outras entidades têm defendido, que não existe tese que comprove o impacto do parcelamento sem juros no aumento do calote no Brasil. "A inadimplência tem sido causada principalmente pela falta de critério na concessão por parte dos bancos", diz a Abrasel em nota.

A associação vê risco de bancos quererem limitar ainda mais o parcelamento sem juros. Isso porque Mario Leão, CEO do Santander, afirmou ao jornal Valor Econômico que limitar o parcelamento a 12 vezes teria pouco efeito sobre os juros do cartão e que grande parte dos parcelamentos é "em até seis meses, até menos".

Em nota, a Febraban diz que, segundo o BC, a limitação em 12 meses das compras parceladas no cartão era ponto de partida. A entidade avalia que, com essa premissa, a proposta se mostrou bem-vinda para iniciar "a construção de um entendimento".

"O BC está na direção correta para enfrentar a causa dos juros altos do rotativo, mas precisaremos evoluir. Entendemos que uma limitação em 12 vezes terá efeito muito contido e continuaremos a defender uma limitação maior do parcelado sem juros, para termos um reequilíbrio de médio e longo prazos na arquitetura do produto do cartão, pois 90% das compras no parcelado sem juros são em menos de 12 vezes", destacou a entidade que representa os bancos.

Entenda a discussão

A discussão em torno do parcelamento já dura alguns meses. O presidente do BC mencionou a possibilidade de mudança no parcelado sem juros pela primeira vez em agosto. Na ocasião, Campos Neto disse que a modalidade é um dos principais fatores que levam o consumidor ao juro rotativo e, consequentemente, à inadimplência.

Em setembro, a taxa de juros do crédito rotativo ficou em 441,1%. A queda foi de 4,4 pontos percentuais em relação ao mês de agosto. Os clientes entram no rotativo quando não pagam a fatura do cartão integralmente e precisam arcar com a taxa de juros mais cara do mercado.

No dia 16 de outubro, a instituição sugeriu limitar a 12 o número de parcelas sem juros em compras no cartão de crédito. Na ocasião, Campos Neto estava reunido com representantes do comércio, maquininhas e bancos, mas a reunião acabou sem consenso.

No último dia 23, ele voltou a falar sobre o tema. Em evento promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, Campos Neto afirmou que o mercado precisa ceder de alguma forma para encontrar "uma solução para que as pessoas possam continuar comprando com o parcelado sem juros e não tenhamos uma bola de neve no efeito do rotativo".

"Começamos a achar que não fazer nada, achar que o mercado ia achar uma solução e se reequilibrar, poderia não acontecer de forma organizada. A solução que foi proposta era ter algum tipo de autorregulação, mas é muito difícil, porque são setores diferentes", avaliou Campos Neto.

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