Comento o caso do Oswaldo, que quer deixar uma aposentadoria para o filho de 15 anos

Adolescente recebe valor igual ao da mesada e tem autonomia para decidir onde investir

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Há mais ou menos dois anos que, além da mesada dele, transfiro valor igual ao da mesada (atualmente R$ 450) para que ele invista em sua aposentadoria. Ele fez as pesquisas dele e investe todo mês essa quantia em títulos de renda fixa. Pretendo manter essas transferências enquanto ele estiver dependente de mim, e ele continua depois. Você teria algum conselho para dar nesse caso?

Oswaldo

51 anos

Para a maioria dos pais que converso, constituir uma aposentadoria tranquila para o filho é mais importante que para si mesmo. Por uma perspectiva, esse parece ser um motivo nobre. Entretanto, a maioria dos pais faz isso da forma errada.

Óbvio que não é obrigação de qualquer pai deixar herança, mas, sem dúvida, elevar o nível de educação financeira dos filhos deveria ser uma preocupação de todos. Então, como fazer isso?

Luminárias vermelhas formam duas cruzes de braços de mesmo tamanho, sobre espelho
Decoração imita porta de um cofre - Carolina Daffara - 20.dez.2019/Folhapress

Calcule o que falta para sua independência financeira

Para contextualizar estes dois dilemas, ou seja, herança e educação financeira, vou usar o caso de Oswaldo. Ele é pai de um jovem de 15 anos.

Há cerca de dois anos ele transfere para o filho uma quantia igual à da mesada, hoje de R$ 450. O garoto fez suas pesquisas e optou por investir em títulos de renda fixa.

Eu não tenho filhos. Por um lado, talvez, o leitor acredite que por isso, eu não seja qualificado para responder. Vejo por outro lado: por não ser pai, consigo responder sem a emoção e usando a razão.

Se você tem filho ou filha, aposto que você se interessou pela estratégia de Oswaldo. Provavelmente, mais do que pela sugestão que eu vou dar. Vou explicar antes a razão.

A recomendação que eu vou dar é muito mais difícil. Dou a sugestão difícil não porque eu queira ser cruel, mas porque acredito que é a melhor tanto para o pai quanto para o filho.

A maioria acredita que quando damos um dinheiro para nosso filho investir, estamos desenvolvendo nele o hábito de poupar. Tendo a discordar.

Pergunto ao leitor: por que a maioria das pessoas não consegue poupar? Mesmo aqueles que possuem uma elevada renda mensal têm dificuldade de poupar. O problema é que elas não sabem investir?

Investir o dinheiro dos outros é fácil. O difícil é abdicar do consumo, guardar uma parte e tomar decisões com essa parcela que sobrou e que foi suada para ganhar.

Portanto, defina um orçamento com seu filho. Não pode ser um orçamento folgado, pois a realidade é que nenhum orçamento familiar é folgado.

Ensine a ele que ele terá de tomar decisões dentro desse orçamento. Nelas, ele, necessariamente, deve ter de abdicar de prazeres para poupar. Assim você vai garantir que, quando ele deixar de ser seu dependente, vai persistir com o hábito de abdicar de consumo e poupar.

Investir um dinheiro que poderia ter sido dedicado ao consumo é completamente diferente de guardar um dinheiro que não precisou de esforço.

Bom, mas como criar a poupança para seu filho?

É simples. Faça a sua ser grande o suficiente para que sobre algo para ele.

Se você ainda não constituiu uma reserva para a sua própria aposentadoria, qual exemplo você quer deixar para seu filho? O de um pai que não poupou e que, quando idoso, pode precisar da ajuda financeira do filho?

A melhor forma de ensinar é com exemplo.

Convide seu filho para acompanhar as decisões financeiras sobre sua própria aposentadoria.

Mostre para ele que, pelo fato de você ter abdicado de comprar bens que desejava, conseguiu poupar e está percorrendo a jornada para sua independência financeira.

Explique para ele todos os passos de seu planejamento financeiro: seu objetivo, poupança periódica, retorno alvo e como a escolha de cada ativo contribui em retorno e risco para alcançar este retorno alvo.

Ao constituir sua reserva, crie mecanismos de planejamento sucessório como previdência, seguros e outros que permitam uma transmissão para seu filho, caso algo ocorra com você.

A melhor forma de constituir uma aposentadoria para seu filho é fazer com que a sua própria seja grande o suficiente para ele.

Lembre-se, nada o que é dado tem valor. Meu pai me ensinou mais pelo que não me deu do que pelos desejos que me satisfez.

Entretanto, o filho pode e deve poupar, fazendo o esforço de abdicar de consumo.

Por sua condição de renda, os valores investidos periodicamente devem ser menores que R$ 1.000, o horizonte é longo e ele não precisa de reserva de emergência. Portanto, pode se dar ao luxo de investir em títulos de longo prazo.

Com esse valor de investimento, e como seu objetivo é aposentadoria, títulos no Tesouro Direto são a melhor alternativa. Daria preferência a aquisição do Tesouro Renda+ com a data em que a criança completa 60 anos ou o mais longo. Neste caso, o Tesouro Renda+ 2065.

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