Descrição de chapéu Estados Unidos carro elétrico

Acordo com Brasil para minerais críticos não está nos planos agora, dizem EUA

Diplomata americano diz que Washington investe em projeto privado no Piauí e discute divulgação de iniciativas brasileiras que precisam de aportes

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Washington

Os minerais críticos, como níquel e cobalto, são estratégicos para a transição energética. Usados em baterias para carros elétricos, por exemplo, o acesso a essas fontes se tornou uma prioridade geopolítica para as potências –e mais um campo de disputa entre EUA e China.

O Brasil vem tentando tirar vantagem da briga. Durante passagem por Nova York no ano passado, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aventou a possibilidade de o país se beneficiar de alguma forma do IRA (Inflation Reduct Act, em inglês), o plano de US$ 369 bilhões do governo Joe Biden para energia limpa.

Carro elétrico branco abastecendo
EUA enfrentam desafio de facilitar o acesso aos carros elétricos pelo país e ao mesmo tempo construir cadeias de abastecimento mais seguras para esse tipo de veículo - Getty Images

Mas, segundo José Fernandez, subsecretário para Crescimento Econômico, Energia e Ambiente do Departamento de Estado americano, não está nos planos, por ora, um acordo com o Brasil para minerais estratégicos sob o guarda-chuva do IRA, nos moldes do que vem sendo negociado com a União Europeia e o Reino Unido. "Isso não significa que não possa ser considerado [um acordo] no futuro", diz.

"Se o IRA for capaz de apoiar avanços tecnológicos, ele vai beneficiar a todos, independentemente de ser possível obter vantagem direta dos seus 7.500 incentivos fiscais", afirma Fernandez em entrevista à Folha, respondendo às críticas de que o IRA seria uma forma de "protecionismo verde".

"Não vamos focar tanto em minerais críticos, vamos focar em como ele vai beneficiar a todos por meio da tecnologia e pela expansão do mercado de veículos elétricos", completa.

O diplomata destaca que os EUA enviaram em outubro ao Brasil uma missão empresarial, integrada por 40 negócios e sete agências governamentais, para discutir a cooperação em energia limpa, e que o país vem investindo diretamente em projetos estratégicos no Brasil.

Um deles é o Piauí Nickel Project, desenvolvido pela Brazilian Nickel, uma empresa britânica que integra o guarda-chuva da gestora de investimentos TechMet. O objetivo do projeto é produzir níquel e cobalto, usados em baterias de lítio, com uma pegada baixa de carbono, seguindo os preceitos do ESG, para veículos elétricos.

Em dezembro, a DFC (braço de investimentos internacionais do governo dos EUA) anunciou um aporte de US$ 50 milhões na TechMet, que se soma a um repasse anterior, em 2020, totalizando US$ 105 milhões. Hoje, a empresa é avaliada em mais de US$ 1 bilhão.

O investimento da DFC na empresa se explica pela "estratégia dos EUA de encorajar e construir cadeias de suprimento de minerais críticos em alinhamento com os interesses americanos e que sejam independentes da China", disse o CEO da TechMet, Brian Menell, ao portal Axios logo após o anúncio do aporte.

Fernandez afirma que os EUA também estão discutindo com o Brasil alguma forma de participação na Parceria de Segurança Mineral (MSP, na sigla em inglês), um grupo integrado por 13 países e a União Europeia para fomentar investimento público e privado nas cadeias globais de minerais críticos.

"Estamos trabalhando com o Brasil para encontrar maneiras para a Parceria de Segurança Mineral receber apresentações de projetos de minerais críticos onde o Brasil deseja investimento", afirma ele. "Estamos trabalhando para aumentar o investimento dos países da MSP não apenas na extração, mas também na adição de valor no processamento e fundição. O Brasil quer ser mais do que simplesmente um país de mineração."

Especialistas, no entanto, defendem que a MSP precisa ir além e incluir países latino-americanos, entre eles o Brasil, como parceiros –o que se tornou ainda mais premente tendo em vista a possibilidade de esses países se unirem no âmbito do Brics, alertam os pesquisadores Christopher Hernandez-Roy, Nate Laske e Henry Ziemer em artigo publicado no Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, com sede em Washington.

"Dado o papel vital que a América Latina e o Caribe desempenharão em qualquer cenário de emissões líquidas zero, Washington precisa garantir que esses países sejam tratados como parceiros iguais. Ao impor padrões mais rigorosos para facilitar a cooperação internacional, a adesão à Parceria de Segurança Mineral poderia ajudar a mitigar as externalidades ambientais e sociais negativas resultantes da expansão das operações de mineração na região", escrevem.

Para além da mineração, os EUA vêm usando a agenda verde para se aproximar dos países da região e competir com a influência chinesa. Um desses instrumentos é a Parceria das Américas para a Prosperidade Econômica (Apep, na sigla em inglês), lançada em junho de 2022. Em encontro na Casa Branca em novembro, Biden anunciou uma série de investimentos sustentáveis e focados no clima.

O presidente americano, Joe Biden, recebe lideranças da América Latina na Casa Branca; da esq. para a dir., a ministra das relações exteriores mexicana, Alicia Bárcena, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, a presidente peruana, Dina Boluarte, o presidente da Costa Rica, Rodrigo Chaves Robles, o presidente do Equador, Guillermo Lasso, o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, Biden, o presidente da República Dominicana, Luis Abinader, o presidente chileno, Gabriel Boric, o presidente colombiano, Gustavo Petro, o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e a ministra das Relações Exteriores do Panamá, Janaina Tewaney - Jim Watson/AFP

O grupo reúne, além de Washington, Canadá, Barbados, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, México, Panamá, Peru e Uruguai. O Brasil não faz parte.

"Quando nós estávamos criando a Apep, o Brasil estava passando por eleições. Então obviamente nós não queríamos sermos vistos interferindo nessas eleições ou envolvidos nelas", responde Fernandez ao ser questionado sobre a ausência do país.

"Mas nós contemplamos a incorporação de países adicionais. Nós esperamos que países adicionais se juntem à Apep", reforça. "Uma das iniciativas que trabalhamos na Apep é energia limpa e o Brasil é um líder. É um país que muitos buscam emular."

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