O engenheiro Jerson Kelman, 76, estreia uma coluna quinzenal a partir desta terça-feira (20), com publicação às quartas na edição impressa, no caderno Mercado.
A chegada do novo colunista vem para reforçar a cobertura de transição energética da Folha, que, aos 103 anos, lançou uma campanha pela expansão da energia limpa no Brasil. Além de tema de novas colunas, a pauta agora faz parte do slogan do jornal e será a base de uma cobertura extensiva.
Kelman, hoje conselheiro das empresas Evoltz, Iguá e Orizon, divide sua atuação em duas áreas: energia, com foco em energia elétrica, e água, com foco em saneamento.
Formado em engenharia civil pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é mestre em hidráulica pela mesma instituição e doutor em hidrologia e recursos hídricos pela Colorado State University, nos Estados Unidos.
Pela universidade fluminense, também se tornou livre-docente e dela foi professor de pós-graduação por cinco décadas. Também foi pesquisador do Cepel (Centro de Pesquisas de Energia Elétrica) ao longo de quase 20 anos.
Na vida profissional, foi o primeiro presidente da ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento), entre 2001 e 2004, e, na sequência, foi diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), de 2005 a 2008.
Também presidiu o Grupo Light, empresa de energia do estado do Rio de Janeiro, entre 2010 e 2012. Foi interventor da Enersul, de Mato Grosso do Sul, de 2013 a 2014, e depois foi presidente da Sabesp entre 2015 e 2018, à época da crise hídrica.
"Como mostrou o seminário da Folha, o Brasil tem condições excepcionais de associar desenvolvimento sustentável com protagonismo mundial na transição energética. Vou aproveitar o espaço da coluna para mostrar as armadilhas que podemos ter no caminho e as cascas de banana que devemos evitar, para tomar partido nessa oportunidade histórica", afirma ele.
O país, segundo o especialista, tem condições para produzir e exportar produtos de alta energia e baixo carbono, como o hidrogênio verde, a bola da vez entre as fontes de matriz limpa.
Um exemplo das ditas "cascas de banana" é a possibilidade de politização do conhecimento técnico de órgãos "muito competentes", como Aneel, EPE (Empresa de Pesquisa Energética), ONS (Operador Nacional do Sistema) e CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica), além do Ministério de Minas e Energia.
"Precisamos preservar o patrimônio de conhecimento dessas instituições e impedir que ele seja capturado por interesses conjunturais do governo de ocasião, seja lá qual for esse governo. Vejo uma espécie de ‘puxadinho’ do orçamento público no Congresso para financiar políticas que não são pagas pelo contribuinte, mas pelo consumidor."
Politicamente, Kelman crava que, por ter vivido a juventude sob a ditadura militar, sempre estará "vinculado à causa democrática".
"Tenho aversão a atores da política nacional que usam sua posição, seja no Executivo, seja no Legislativo ou Judiciário, para socializar custos e privatizar benefícios. Minha cruzada é contra eles."
Na coluna, também quer revisar políticas públicas do setor de energia e saneamento, seja para desestimular a continuidade de iniciativas que "já cumpriram seu propósito", seja para incentivar a criação de novas ações, na esteira das mudanças tecnológicas e da oportunidade de protagonismo mundial do Brasil.
Kelman é autor de dois livros: "Cheias e Aproveitamentos Hidroelétricos", de 1983, e "Desafios do Regulador", de 2009. Escreveu 29 prefácios, 127 artigos científicos ou técnicos e 278 artigos publicados em jornais do país —inclusive na Folha, no qual argumentou a favor da privatização da Sabesp e do Marco Legal do Saneamento, aprovado em 2020.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.