Descrição de chapéu Financial Times Energia Limpa China

Maior fabricante de energia solar diz que boicote à China vai reduzir descarbonização

Vice-presidente da Longi afirma que plano para reduzir fornecimento chinês pode prejudicar o Ocidente

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Edward White
Xangai (China) | Financial Times

O maior fabricante de painéis solares do mundo alertou que a Europa e os Estados Unidos correm o risco de uma desaceleração na descarbonização de suas economias se restringirem a participação de empresas chinesas de suas cadeias de suprimento de energia renovável.

A China domina a fabricação de painéis solares, respondendo por mais de 80% da produção global após décadas de um intenso apoio estatal, rápido crescimento da demanda doméstica e muita competição local.

Mas líderes políticos e industriais ocidentais têm pedido uma maior diversidade no fornecimento diante do excesso de importações chinesas, além de expressarem preocupações de segurança em relação ao uso de componentes fabricados na China em infraestruturas críticas.

Operários trabalham na fabricação de placas de energia solar na China
Placas para energia solar são fabricadas na Longi Green em Xi'an, na China - Liu Xiao - 30.mar.2021 / Xinhua

Dennis She, vice-presidente da Longi Green Energy Technology, que detém cerca de 20% do mercado global de módulos fotovoltaicos, disse ao Financial Times que os países ocidentais "pelo menos desacelerariam" suas transições para deixar os combustíveis fósseis se reduzissem o fornecimento de energia solar da China. Ele também alertou que o custo de painéis solares produzidos sem envolvimento chinês em países como os EUA seria "o dobro".

A Europa constrói menos de 3% dos painéis solares necessários para atingir a meta de ter 42,5% da energia gerada por fontes renováveis até 2030.

She disse que importar volumes maiores da China significaria mais empregos nas etapas posteriores à cadeia de suprimentos, além da fabricação de painéis, incluindo a construção de novos empreendimentos solares, bem como engenharia, design e instalação.

"Você não precisa eliminar a maioria dos empregos posteriores à cadeia de suprimentos para proteger 1% [dos empregos europeus na fabricação de painéis solares]— isso não faz sentido", disse She.

A avaliação ocorre em meio a uma crescente preocupação ocidental de que os subsídios de Pequim para suas indústrias de tecnologia limpa —que também incluem energia eólica, baterias e veículos elétricos—tenham aumentado a capacidade de fabricação chinesa muito além dos níveis necessários para atender à demanda doméstica, levando a práticas comerciais injustas, já que as fábricas chinesas agora inundam os mercados internacionais com exportações.

No mês passado, um grupo de senadores dos EUA, envolvendo os dois principais partidos, pediu ao presidente Joe Biden que aumentasse as tarifas sobre as importações de painéis solares fabricados na China. Os produtos altamente subsidiados estavam prejudicando os esforços americanos de "relocalizar" a fabricação doméstica, disseram eles, acrescentando que a supercapacidade da China representava "uma ameaça existencial" à segurança energética dos EUA.

Em resposta ao protecionismo ocidental, a indústria deste setor da China, que resistiu a várias rodadas de tarifas da Europa e dos EUA nos últimos 15 anos, está cada vez mais expandindo sua capacidade de fabricação mais próxima dos clientes no exterior, incluindo os EUA.

No entanto, algumas tentativas de transferir a produção para o sudeste asiático foram vistas nos EUA como uma forma de driblar as restrições. Empresas, incluindo uma subsidiária da Longi, foram consideradas culpadas nos EUA por usar fabricação estrangeira para "evitar" tarifas sobre componentes fabricados na China.

A Longi produz a maioria de seus produtos na China, mas também possui fábricas no Vietnã e na Malásia, e planeja uma nova fábrica na Índia.

Para mitigar o agravamento do risco geopolítico, She disse que a Longi está cada vez mais "tentando trabalhar com países", inclusive por meio de parceiros locais em joint ventures, para estabelecer uma maior capacidade de produção solar.

Isso inclui os EUA, onde o grupo listado em Xangai estabeleceu uma joint venture com a Invenergy em Ohio. A Longi também está em negociações para entrar na Arábia Saudita por meio de um parceiro local.

No entanto, para atender às economias em desenvolvimento em regiões como sudeste asiático, América Latina e África, a Longi está aumentando as exportações da China, afirmou She, observando que cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem sem acesso à eletricidade.

"Para o restante do mercado, a energia solar é um 'presente dos deuses' muito bom... você tem o (painel) solar da China, o sol é o seu próprio sol", disse ele.

A consultoria de energia Wood Mackenzie prevê que, após investimentos de mais de US$ 130 bilhões apenas no ano passado, a China continuará liderando a tecnologia solar e dominando mais de três quartos da capacidade mundial de fabricação de polissilício, wafer, células e módulos solares pelos próximos três anos, pelo menos.

No ano passado, os custos de produção solar na China caíram mais de 40% para cerca de US$ 0,15 por watt, em comparação com US$ 0,30 na Europa e US$ 0,40 nos EUA, segundo a Wood Mackenzie. A queda foi impulsionada em parte pelos menores custos de materiais e pelo excesso de oferta.

A taxa atual de utilização da fábrica da Longi caiu para entre 70% e 80% devido ao excesso de oferta, mas espera-se que a consolidação da indústria e o crescimento da demanda nos próximos anos ajudem a empresa a ganhar participação de mercado e melhorar a lucratividade.

"Todos estão sofrendo neste momento", disse She, acrescentando que apenas as companhias com produção suficiente, como a Longi, provavelmente sobreviverão.

"Pequenos jogadores, ou novos jogadores de outras indústrias, desaparecerão do mercado... Não posso lhe dizer o número exato, mas empresas de segundo e terceiro nível, a maioria das empresas, na verdade, estão em risco", avaliou.

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