Descrição de chapéu Financial Times Estados Unidos

Conselho da Boeing inicia busca por novo CEO

Dave Calhoun anunciou na segunda (25) que deixará o cargo no fim deste ano

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Claire Bushey Sylvia Pfeifer Philip Georgiadis
Chicago e Londres | Financial Times

A Boeing reformulou sua liderança duas vezes nos últimos meses, nomeando seu primeiro COO em dezembro e, em fevereiro, destituindo o chefe do programa 737 Max depois que um painel se soltou de um avião em pleno ar.

Na segunda-feira (25), a fabricante de aeronaves foi além, destacando sua luta para conter uma crise que deixou reguladores, investidores e clientes questionando seu histórico de segurança.

Dave Calhoun, nomeado há menos de cinco anos para tentar resolver uma crise desencadeada por dois acidentes com jatos 737 Max em meses consecutivos, deixará o cargo de CEO no fim do ano.

Boeing 737 Max em feira de aviação no Reino Unido - Peter Cziborra - 20.jul.2022/Reuters

O presidente do conselho, Larry Kellner, sairá em maio, e Stan Deal, chefe da divisão de aviões comerciais desde 2019, está se aposentando, sendo substituído por Stephanie Pope, que atua como COO há menos de três meses.

O conselho da Boeing se reuniu no fim de semana para finalizar os detalhes, disseram fontes familiarizadas com a situação. Mas a empresa enfrenta novamente a tarefa de encontrar um CEO capaz de lidar com problemas contínuos na qualidade de fabricação e com o aumento da fiscalização por parte de reguladores, clientes e investidores.

"Recebemos a notícia da reestruturação da gestão na Boeing com exaustão resignada", escreveu Nicolas Owens, analista da Morningstar, em nota. Calhoun e Deal "ficaram muito associados aos sucessivos defeitos de fabricação descobertos nas linhas 737 Max e 787 desde 2019 para que seu manto de liderança sobrevivesse ao próximo capítulo".

Steven Mollenkopf, ex-CEO da fabricante de chips Qualcomm, cujas qualificações em engenharia elétrica a Boeing enfatizou, assumirá a presidência do conselho, desempenhando um papel crítico na liderança da busca pelo sucessor de Calhoun.

Steve Mollenkopf, ex-CEO da Qualcomm - Divulgação/Boeing

Diretor da Boeing desde 2020, Mollenkopf não é estranho a reviravoltas corporativas. Enquanto estava na Qualcomm, a empresa enfrentou processos da Comissão Federal de Comércio dos EUA, uma oferta hostil de aquisição e pressão de acionistas.

Mollenkopf não está esperando até maio para assumir: ele e Kellner participarão de reuniões previamente agendadas com clientes de companhias aéreas da Boeing nesta semana, confirmaram as pessoas familiarizadas com o assunto.

Dave Calhoun, que recebeu US$ 65 milhões em salário e incentivos em seus primeiros três anos como CEO, disse à CNBC na segunda-feira que, como membro do conselho da Boeing, ele também tem uma opinião sobre quem deveria sucedê-lo, afirmando que gostaria de alguém que "claramente tenha experiência dentro de nosso setor".

Michael O'Leary, CEO da Ryanair, um dos maiores clientes da Boeing, disse estar "desapontado" com a saída de Calhoun, enquanto destacava alguns dos desafios que aguardam seu sucessor. Calhoun, disse ele ao Financial Times, carregou a Boeing por uma "crise existencial e estava encontrando uma saída... até ser decepcionado novamente por mais má gestão em Seattle".

A fábrica da Boeing em Renton, onde é construído o Max, fica nos arredores de Seattle. O mais importante que a Boeing poderia fazer era mudar a gestão lá, acrescentou O'Leary, chamando-a de "muito cheia de vendedores".

"Seattle é um negócio de logística. É trabalho árduo, detalhes e logística, e isso é o que tem faltado lá nos últimos 12 meses. Mas o CEO da Boeing não pode ir a Seattle consertar isso. Ele também tem um grande negócio de defesa para pensar", disse O'Leary.

Historicamente, a divisão de aviação comercial gera a maior receita dos três nichos de negócios da Boeing, embora o negócio de defesa a tenha superado durante os momentos mais difíceis das crises do Max e da Covid-19. Mas, nos últimos dois anos, a divisão de defesa relatou prejuízos.

O'Leary disse que ainda não havia trabalhado com Pope, que se tornou diretora de operações em janeiro e que tem sido considerada uma forte candidata ao cargo de CEO.

Ela tem um histórico sólido de entrega de lucros no negócio de serviços da Boeing, enquanto as divisões comercial e de defesa enfrentavam dificuldades.

A COO da Boeing, Stephanie Pope - Divulgação/Boeing

"Ela veio do lado financeiro, o que eu acho que é um bom ponto de partida", disse O'Leary. "São as pessoas com olho para detalhes e a capacidade de atenção para a logística."

Outra possibilidade é Dave Gitlin, um diretor da Boeing que é o CEO da Carrier, que fabrica sistemas de aquecimento e refrigeração, escreveu Peter Arment, analista da Baird, em uma nota. Gitlin tem experiência em aeroespacial, tendo ocupado cargos anteriormente na Collins Aerospace e na United Technologies.

Um terceiro concorrente é Patrick Shanahan, chefe do problemático fornecedor da Boeing, Spirit AeroSystems. A Boeing está em negociações sobre uma possível aquisição da Spirit, que foi separada em 2005.

Shanahan passou três décadas na Boeing e ajudou a colocar a montagem do 787 Dreamliner de volta aos trilhos quando estava enfrentando atrasos. Ele foi escolhido durante a administração do então presidente Donald Trump como chefe interino do Departamento de Defesa.

A Boeing provavelmente vai querer um sucessor mais jovem para permitir que ele ou ela permaneça no cargo por uma década, disse Arment. Isso poderia dar uma vantagem para Pope ou Gitlin, que estão na casa dos 50 anos. Shanahan está na casa dos 60 anos, o que "prejudica suas chances, mas sabemos que o mercado adoraria ver sua seleção".

Muito dependerá de como —e se— Pope conseguirá colocar o negócio comercial da Boeing de volta aos trilhos, disse uma fonte, observando que "isso seria uma conquista significativa".

Restabelecer relações com clientes de companhias aéreas frustrados será apenas um dos desafios. Ela terá que trabalhar com os funcionários de produção que constroem os aviões, reguladores investigando os processos de fabricação e controle de qualidade da Boeing e, por fim, os fornecedores da empresa, quando a agência que regula o setor permitir que a empresa aumente a produção novamente.

A iminente saída de Calhoun significa que Pope "tem cerca de nove meses para instilar mudanças de comportamento significativas na unidade de aeronaves comerciais que escaparam de seus antecessores por quase cinco anos", observou Owens da Morningstar.

A saída do chefe da Boeing não é suficiente para impulsionar as ações do grupo aeroespacial.

Preocupações permanecem sobre a profundidade da expertise de gestão na Boeing. Byron Callan, diretor administrativo do grupo de pesquisa Capital Alpha Partners, disse: "Dadas as dificuldades da empresa nos últimos anos, não está claro para nós quão profundo é o banco de talentos internos que poderiam estabilizar as operações aeroespaciais comerciais da empresa".

"Pelo menos, esperaríamos um novo CEO da Boeing com alguma experiência em aeroespacial e manufatura", acrescentou.

A empresa precisava de uma "mudança cultural drástica", disse Ron Epstein, analista do Bank of America, aos clientes, chamando as últimas mudanças de "os primeiros passos corretos para remover a 'velha guarda' e abrir caminho para uma nova equipe".

Incertezas permanecem sobre como abordar quaisquer mudanças exigidas pela agência reguladora, a possível aquisição da Spirit e reconstruir a confiança com clientes, investidores e viajantes, disse Epstein, mas "esta pode ser a primeira chance real, em muito tempo, que a Boeing teve para limpar a casa e redefinir sua própria narrativa".

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.