Governo dos EUA abre investigação sobre avião da Boeing que perdeu a tampa da porta em pleno voo

Departamento de Justiça apura incidente ocorrido em 5 de janeiro com o modelo 737 Max 9, operado pela Alaska Airlines

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Niraj Chokshi Glenn Thrush Mark Walker
Nova York | The New York Times

O Departamento de Justiça dos EUA (DOJ, da sigla em inglês) abriu investigação criminal sobre a Boeing pelo incidente ocorrido em 5 de janeiro, quando a tampa da porta de um modelo 737 Max 9, operado pela Alaska Airlines, se soltou em pleno voo nos Estados Unidos. A informação foi dada primeiramente pelo jornal The Wall Street Journal e confirmada por uma pessoa familiarizada com o assunto.

A companhia aérea disse que está cooperando com a investigação. "Em um evento como este, é normal que o DOJ esteja conduzindo uma investigação", disse a Alaska Airlines em comunicado. "Estamos cooperando plenamente e acreditamos que não somos alvo da investigação." A Boeing não fez comentários.

Em 5 de janeiro, não houve feridos graves, mas poderia ter sido catastrófico se o painel tivesse se soltado minutos depois, a uma altitude mais alta. O equipamento que se desprendeu é usado para cobrir uma lacuna deixada por uma porta de saída desnecessária. Uma investigação preliminar do NTSB (Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, na sigla em inglês) sugeriu que o avião pode ter saído da fábrica da Boeing sem a tampa parafusada.

Tampa de porta do avião da Alaska Airlines, que se soltou em pleno voo em 5 de janeiro
Tampa de porta do avião da Alaska Airlines, que se soltou em pleno voo em 5 de janeiro - Divulgação/NTSB/via Reuters

O Departamento de Justiça já havia dito que estava revisando um acordo de 2021 de uma acusação criminal federal contra a empresa, após dois acidentes envolvendo modelos do Boeing 737 Max 8, que mataram 346 pessoas. Em outubro de 2018, um modelo da aeronave comprado pela Lion Air caiu na Indonésia, sem causa aparente. Cinco meses depois, outro 737 Max, agora operado pela Ethiopian Airlines, caiu na Etiópia.

No acordo feito em 2021, a Boeing se comprometeu a pagar mais de US$ 2,5 bilhões, a maior parte em forma de compensação a seus clientes. O Departamento de Justiça concordou em retirar a acusação de que a Boeing havia enganado a FAA (Administração Federal de Aviação) ao omitir informações relevantes para a aprovação do 737 Max 8. Não estava imediatamente claro se a investigação criminal estava relacionada à revisão do acordo de 2021 ou a uma investigação separada.

O acordo foi criticado por ser muito leniente com a Boeing e por ter sido fechado sem consultar as famílias das 346 pessoas mortas nesses acidentes. O modelo foi proibido de voar por 20 meses e só retomou o serviço no final de 2020. Desde então, foi usado em milhões de voos, na maioria das vezes sem incidentes —até o voo da Alaska Airlines em 5 de janeiro.

Na sexta-feira (8), a Boeing informou a um painel do Congresso dos EUA que não conseguiu encontrar um registro muito importante detalhando seu trabalho no painel que se soltou posteriormente.

A empresa havia sido solicitada a fornecer qualquer documentação relacionada à remoção e reinstalação do painel. Em uma carta à senadora Maria Cantwell, presidente do Comitê de Comércio, Ciência e Transporte, a Boeing disse que realizou uma busca extensa, mas não conseguiu encontrar um registro das informações solicitadas pelo painel do Senado e pelo conselho de segurança.

"Também compartilhamos com o NTSB o que se tornou nossa hipótese de trabalho: que os documentos exigidos por nossos processos não foram criados quando a tampa da porta foi aberta", diz a carta da Boeing. "Se essa hipótese estiver correta, não haveria documentação a ser produzida."

Na carta, a Boeing também disse que enviou ao NTSB, em 4 de março, os nomes de todas as pessoas que trabalhavam na montagem da tampa da porta do 737. Os dados foram encaminhados dois dias depois da solicitação.

A tampa da porta foi aberta em setembro na fábrica da Boeing em Renton, Washington, para reparar rebites danificados na fuselagem do avião, de acordo com um documento revisado pelo The New York Times. Os rebites são muito usados para unir e fixar peças em aviões. O pedido para abrir a tampa veio de funcionários que trabalham para a Spirit AeroSystems, empresa responsável por montar a tampa da porta.

De acordo com o documento, em 18 de setembro, um mecânico da Spirit AeroSystems foi designado para começar o trabalho de reparo dos rebites, e a tampa da porta estava sendo aberta para que os reparos pudessem ser feitos. O documento mostra que os reparos foram concluídos dois dias depois e a aprovação foi dada para fechar a porta novamente.

O documento não informa quem foi designado para reinstalar a tampa da porta ou se houve a inspeção após a troca da peça. Não contém nenhuma outra informação sobre quais funcionários da Boeing estavam envolvidos na remoção e substituição da tampa da porta.

A explosão no voo de 5 de janeiro mais uma vez provocou críticas sobre as práticas da Boeing, com legisladores contestando a empresa. O NTSB ainda está investigando o incidente, mas sugeriu em um relatório preliminar que a Boeing pode ter entregue o avião à Alaska sem instalar os parafusos necessários para manter a tampa da porta no lugar.

A FAA aumentou as inspeções na fábrica onde a Boeing monta o 737 Max e limitou quantos aviões a empresa pode fabricar por mês. Uma auditoria da agência reguladora encontrou falhas de qualidade na Boeing, e a agência deu à empresa alguns meses para desenvolver um plano para melhorar o controle de qualidade.

No mês passado, um painel de especialistas reunido pela FAA divulgou um relatório muito aguardado decorrente dos acidentes do Max. Concluiu que a cultura de segurança da Boeing ainda estava deficiente, apesar das melhorias nos últimos anos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.