Descrição de chapéu Chuvas no Sul PIB

Moody's vê metas fiscais mais desafiadoras com enchente no Rio Grande do Sul

Alerta vem logo após a agência de classificação de risco elevar a perspectiva do Brasil de 'neutra' para 'positiva'

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São Paulo

A agência de classificação de risco Moody's afirmou em relatório divulgado nesta segunda-feira (13) que as metas fiscais soberanas do Brasil se tornaram mais desafiadoras após o anúncio de um pacote de socorro ao Rio Grande do Sul por causa da enchente histórica no estado.

O alerta vem menos de duas semanas após a agência elevar a perspectiva da nota de crédito do país de "neutra" para "positiva".

Na ocasião, a Moody's disse que deixou inalterada a nota de classificação de risco para o crédito soberano do país por ainda enxergar riscos fiscais, que colocam em dúvida a continuidade da organização das contas públicas pelo governo.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de ministros e do presidente da Câmara, Arthur Lira, em anúncio sobre medidas relacionadas ao desastre das chuvas no Rio Grande do Sul
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado de ministros e do presidente da Câmara, Arthur Lira, em anúncio sobre medidas relacionadas ao desastre das chuvas no Rio Grande do Sul - Gabriela Biló/Folhapress

No relatório desta segunda, a agência afirmou que, se o pacote de apoio fiscal ao RS no valor de R$ 51 bilhões (0,5% do PIB [Produto Interno Bruto]) for entregue conforme prometido, ela projeta um aumento do déficit geral de 0,5 ponto percentual em relação à última projeção da agência, de 6,2% para 6,7% ao ano.

"Os gastos emergenciais testarão a capacidade do governo central de enfrentar as necessidades de despesas adicionais enquanto tenta alcançar a consolidação fiscal", afirmou a Moody's.

Para o déficit primário deste ano, a Moody's mantém projeção entre 0,5% e 0,75% do PIB. Mas a analista sênior da agência Samar Maziad disse à Folha que o viés é de alta por conta do pacote de estímulos para o Sul. Ainda assim, ela reforça que esse viés altista está dentro da visão mais conservadora da Moody's para o resultado fiscal do Brasil.

Ela ponderou que, apesar do tamanho da calamidade, a enchente no Rio Grande do Sul é apenas um elemento entre tantos outros que a agência analisa para a classificação da nota de crédito do país. Maziad reafirmou a análise da agência feita no último relatório sobre o Brasil

"Nós não mudamos nossas projeções neste momento. Talvez vejamos uma inflação mais alta por causa de preços de alimentos, por exemplo. Mas, no geral, para a perspectiva de crédito, os motores para um resultado positivo (...) não esperamos que mudem", diz. "O foco agora é na melhora do resultado fiscal", completa.

No dia 1º de maio, a Moody's elevou a perspectiva do Brasil pela primeira vez desde 2018. Mas as notas de crédito dos títulos de dívida do governo seguem inalteradas desde 2016.

Pela classificação da agência, o Brasil está com notas "Ba2". Trata-se do mesmo degrau das notas das agências S&P Global Ratings e Fitch, que elevaram no ano passado suas classificações de risco para o país, ambas de BB- para BB.

Com isso, o Brasil ainda está no nível especulativo e a dois degraus abaixo do chamado grau de investimento. É neste que o país se torna seguro —ou seja, com baixos riscos de calote para quem investe em seus títulos de dívida.

A Moody's disse avaliar que as possibilidades para o crescimento real do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil são mais robustas do que antes da pandemia de Covid-19.

A agência citou as reformas estruturais colocadas em prática nos últimos governos, o que reduz as incertezas em relação à direção futura das políticas públicas do país.

Mas a Moody's chamou atenção para os riscos fiscais do país. "A afirmação do rating Ba2 está baseada na força fiscal ainda relativamente fraca do Brasil, dado o nível elevado de endividamento do país e sua fraca capacidade de pagamento da dívida, que permanece sensível a choques econômicos ou financeiros", disse.

No relatório desta segunda-feira, o time de analistas da agência ponderou que a magnitude do pacote de socorro fiscal ao Rio Grande do Sul é significativamente menor que à do auxílio adotado durante a pandemia de Covid-19, que foi de cerca de 8% do PIB e se traduziu em um déficit geral de quase 12%.

"O efeito dos gastos emergenciais relacionados às enchentes nas contas fiscais e na trajetória da dívida do Brasil ainda é administrável", disse o relatório. "Mas o governo precisará endereçar outras medidas para atingir a consolidação fiscal nos próximos anos", afirmou.

A Moody's citou algumas medidas defendidas recentemente por integrantes do governo como positivas para a organização das contas públicas na situação atual, como a necessidade de conter o aumento de gastos obrigatórios e a desvinculação de benefícios previdenciários do salário mínimo.

Esta última medida foi aventada pela ministra Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), mas ela acabou ficando isolada em seu posicionamento, segundo apurou a Folha. A ministra não teve respaldo nem mesmo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A conduta de Tebet chegou a ser apontada como um exemplo de desgoverno durante um jantar do ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) com a coordenação da bancada do PT na Câmara.

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