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Vibra levanta R$ 1,5 bi com debêntures de transição verde após impasse sobre sede

Compra de um imóvel que a companhia alugava desde a época que era a estatal BR Distribuidora dificultou captação

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São Paulo

A Vibra Energia, que antes era chamada de BR Distribuidora mas mudou de nome após a Petrobras deixar de ser sócia da companhia em um processo de privatização, conseguiu levantar nesta semana R$ 1,5 bilhão com a emissão de debêntures de transição verde.

A operação foi considerada uma vitória internamente, após uma polêmica atrapalhar a captação.

Segundo pessoas próximas da operação, a compra de um prédio que a empresa alugava desde a época que ainda era estatal deixou investidores do mercado de capitais de dívida com o pé atrás.

O prédio em questão que fica no centro do Rio de Janeiro é da incorporadora Confidere, que celebrou em 2011 um contrato de aluguel do imóvel com a então BR Distribuidora.

Ex-BR Distribuidora, a companhia passou a se chamar Vibra Energia em 2021, após sua privatização
Ex-BR Distribuidora, a companhia passou a se chamar Vibra Energia em 2021, após sua privatização - Camila Picolo/Divulgação

Quando a Vibra foi privatizada durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), a companhia solicitou uma revisão do quanto pagava de aluguel, já que o preço era considerado muito superior ao valor de mercado, segundo uma fonte próxima da empresa.

Nesse meio-tempo, a Confidere entrou em processo de execuções judiciais (pré-falimentar) e o prédio onde a Vibra está estabelecida no Rio de Janeiro foi leiloado. A companhia então decidiu comprar o imóvel, para manter sua operação ali sem pagar aluguel.

Para o mercado de ações, a novidade foi positiva já que a mudança vai melhorar as margens da companhia no longo prazo. O problema é que, no mercado de dívidas, a compra deixou investidores irritados.

Acontece que, antes do processo de falência, a Confidere emitiu CRIs (Certificados de Recebíveis Imobiliários) no mercado de longo prazo (18 anos) com lastro no aluguel da então BR Distribuidora.

O imóvel em si não foi colocado como garantia. Ou seja, o risco jurídico da operação era a Confidere, mas o risco financeiro foi vendido para os investidores como sendo exclusivamente da BR, empresa que pagava os aluguéis.

Contudo, com a compra do imóvel, a agora Vibra Energia, por lógica, deixou de pagar os aluguéis, única garantia de pagamento do título de dívida, o que prejudica os retornos dos investidores que compraram os CRIs.

A aquisição do imóvel gerou um clima hostil no mercado, que até acabou atrasando o cronograma previsto para a oferta dos títulos.

Mesmo assim, a operação foi bem-sucedida em parte pela intervenção dos bancos que coordenaram a emissão dos títulos de dívida, importante para o convencimento dos investidores. Contribuiu também a nota de crédito que a Moody's local deu aos títulos —AAA.br, que é a mais alta dada pela agência de classificação de risco.

O valor levantado está dentro do que era esperado pela empresa. O encerramento da emissão das debêntures simples, ou seja, não conversíveis em ações, aconteceu em duas séries na terça-feira (7) e teve participação dos bancos UBS BB, Santander, Itaú BBA e Bradesco BBI.

Estava prevista também a emissão de um lote adicional, que somaria uma captação de R$ 2 bilhões, mas a companhia teve dificuldades para colocar os papéis no mercado.

As debêntures da primeira série serão remuneradas pela taxa DI (Depósito Interfinanceiro) de um dia mais 1,07% ao ano e vencem em sete anos, ou seja, abril de 2031.

As debêntures da segunda série serão remuneradas pela taxa DI de um dia mais 1,25% ao ano e vencem em dez anos, ou seja, em abril de 2034.

Procurada, a Vibra disse considerar "que seu objetivo de captar recursos a taxas e prazos competitivos foi plenamente satisfeito, tendo sido bem-sucedido mesmo em um cenário macroeconômico desafiador".

A companhia ainda se disse lesada pela situação com a Confidere, assim como os tomadores dos CRIs da incorporadora. "Ressaltamos nossa solidariedade aos investidores que, assim como a Vibra, foram lesados nessa operação", disse em nota enviada à Folha.

O valor levantado com a oferta será utilizado pela Vibra em atividades relacionadas à transição energética, expostas em um framework pela companhia. Entre elas está a diminuição de suas emissões diretas de gases de efeito estufa, "principalmente as de combustão móvel e fugitivas".

Também está prevista a ampliação da parcela de uso de fontes renováveis, a substituição do modal rodoviário por ferrovia e cabotagem, utilização de caminhão elétrico na frota, aumento na oferta de biocombustíveis, como diesel verde, etanol e biometano, além da geração de energia verde, como a solar.

A Vibra afirmou em documento anexado na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) que a oferta dos títulos foi destinada exclusivamente a investidores profissionais.

Do total de 1,5 milhão de debêntures emitidas, no valor de R$ 1.000 cada, 89,7% estão com fundos de investimentos, e o restante foi adquirido por instituições financeiras.

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