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Musk aposta no robotáxi para futuro da Tesla, mas especialistas duvidam

Analistas questionam viabilidade dos táxis autônomos que Musk prometeu ao mercado

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Jack Ewing Peter Eavis
Nova York | The New York Times

À medida que as vendas de seus carros elétricos caem, a Tesla e seu CEO, Elon Musk, buscam convencer Wall Street de que o futuro da empresa não está no árduo negócio de fabricar e vender veículos, mas no mundo muito mais empolgante da inteligência artificial.

Segundo Musk, um dos principais negócios da Tesla com base em IA serão os táxis autônomos, ou robotáxis, que podem operar praticamente em qualquer lugar e em qualquer condição. Na semana passada, o executivo disse que a Tesla está muito perto de aperfeiçoar esses veículos e obter a aprovação regulatória para colocá-los nas estradas.

A imagem mostra um carro preto com portas que se abrem para cima, estacionado em um ambiente interno elegante. Dentro do carro, Elon Musk está sentado, enquanto dois seguranças em trajes formais estão próximos, um deles gesticulando. O ambiente ao redor é moderno, com plantas e janelas grandes ao fundo.
Elon Musk entra em um carro da Tesla ao deixar hotel em Pequim - Tingshu Wang/Reuters

A visão do empresário sobre veículos autônomos, ou AVs, não se limita a carros que dirigem sozinhos. Ele afirmou que indivíduos que compram Teslas poderiam ganhar dinheiro enquanto dormem ou trabalham, permitindo que a empresa use seus carros como robotáxis.

O serviço de robotáxi, segundo Musk, catapultará a avaliação de mercado da Tesla, atualmente em torno de US$ 700 bilhões, para trilhões de dólares.

Mas primeiro, muita coisa terá que dar certo.

A ideia exigiria grandes avanços tecnológicos e mudanças fundamentais na forma como as pessoas veem os carros. A experiência de serviços de táxis autônomos como Waymo e Cruise em Phoenix, San Francisco e outras cidades desperta dúvidas sobre quando essas ofertas se tornarão lucrativas e quanto dinheiro elas gerarão.

A tecnologia da Tesla enfrentará concorrência da Waymo, subsidiária da Alphabet, de serviços de transporte como Uber e Lyft, e da Zoox, o investimento de direção autônoma da Amazon. Fabricantes de automóveis, incluindo a General Motors, que possui a Cruise, também estão buscando a direção autônoma, juntamente com empresas chinesas de tecnologia e automóveis como Baidu e BYD.

"É um negócio super competitivo que não é muito lucrativo", disse Ross Gerber, CEO da Gerber Kawasaki Wealth and Investment Management, que possui ações da Tesla e da Uber.

A Tesla tornou-se a empresa de automóveis mais valiosa do mundo porque os investidores acreditavam que Musk poderia alcançar seu objetivo de vender 20 milhões de carros por ano, em comparação com cerca de 1,8 milhão no ano passado. A Toyota, maior montadora do mundo, vendeu mais de 11 milhões de carros em 2023. Nos últimos seis meses, no entanto, as vendas de carros da Tesla caíram.

Musk disse recentemente que a imagem de que a Tesla fracassou é equivocada e que os investidores deveriam comprar e manter ações da companhia por causa de seu trabalho em projetos ambiciosos como os robotáxis e um robô humanoide chamado Optimus.

Alguns analistas de Wall Street e muitos dos fãs ardorosos de Musk veem a mudança como evidência da genialidade do empresário. Mas o ceticismo em relação aos planos da empresa tem crescido, ainda mais depois que a empresa relatou na semana passada uma queda de 45% no lucro do segundo trimestre e adiou a revelação do design de seu robotáxi para outubro. Ela estava prevista inicialmente para agosto.

O preço das ações da Tesla caiu cerca de 6% desde o balanço. Gerber sugeriu que Musk está tentando desviar a atenção do negócio principal da empresa. "É uma reorientação conveniente quando você está tendo dificuldades para vender carros", disse Gerber.

Ainda assim, alguns analistas acreditam que os robotáxis e o software de direção autônoma poderiam gerar lucros significativos para a Tesla.

O mercado de robotáxis pode valer US$ 5 trilhões algum dia, disse Tom Narayan, analista da RBC Capital Markets. E embora ele tenha acrescentado que "os reguladores não permitirão que uma empresa tenha um monopólio", a RBC estimou que o potencial econômico dos robotáxis da Tesla já representava mais de US$ 400 bilhões do valor de suas ações.

A Tesla oferece dois tipos de software de assistência ao motorista para os carros que vende atualmente. Um é chamado Autopilot e o outro, uma opção mais avançada, é comercializado como Full Self-Driving e custa US$ 99 por mês. Alguns analistas dizem que esses sistemas também poderiam ser uma grande fonte de lucros.

A empresa tem trabalhado na direção autônoma há anos, e Musk repetidamente disse que estava a poucos meses de criar um sistema que poderia operar carros perfeitamente sem assistência humana. Mas os dois sistemas de assistência ao motorista da Tesla, que podem acelerar, dirigir e frear sozinhos, exigem que os motoristas estejam preparados para retomar o controle a qualquer momento. Alguns usuários relatam que precisam intervir frequentemente.

Acidentes atribuídos ao uso do software geraram inúmeros processos judiciais e uma investigação pela Administração Nacional de Segurança no Trânsito Rodoviário. A agência disse que a tecnologia não oferece segurança suficiente sem que os motoristas fiquem atentos. Em abril, emitiu um relatório ligando centenas de acidentes e pelo menos 29 colisões fatais ao uso desses sistemas da Tesla.

Especialistas que estudaram modelos de direção autônoma disseram que Musk escolheu uma abordagem mais difícil para carros autônomos do que outras empresas. Por exemplo, a Tesla usa câmeras relativamente acessíveis para detectar objetos e pessoas, em vez de investir em câmeras mais caras ou sensores Lidar, que usam pulsos de laser e que alguns especialistas dizem ser melhores.

A Tesla também está tentando construir robotáxis que operariam em qualquer ambiente, incluindo lugares para os quais a empresa não criou mapas detalhados. Em contraste, os veículos da Waymo operam em lugares que a empresa mapeou minuciosamente.

"Você está tentando resolver os problemas mais difíceis", disse Philip Koopman, professor associado de engenharia elétrica e de computação na Universidade Carnegie Mellon, um centro líder de pesquisa em veículos autônomos. "Eu ficaria surpreso se a Tesla conseguisse um robotáxi 'de verdade' nos próximos 10 anos sem sensores e mapas."

Outro desafio para a Tesla será convencer os proprietários dos carros a colocarem seus veículos em seu serviço de robotáxi —uma abordagem que Musk recentemente descreveu como "Airbnb sobre rodas".

Serviços como Turo e Getaround permitem que as pessoas aluguem seus veículos pessoais. Mas não está claro quantas pessoas emprestariam seus carros a estranhos. Se o número for muito grande, os lucros provavelmente serão pequenos.

"Digamos que todos que possuem um Tesla possam alugá-lo", disse Christopher Robinson, diretor sênior da Lux Research que estudou robotáxis. "Você vai inundar o mercado e os preços vão cair."

Robinson observou que os robotáxis, embora eliminem os motoristas, exigiriam muito trabalho humano. Os carros precisarão ser limpos, mantidos e reparados. Um serviço de táxi autônomo teria que empregar agentes de atendimento ao cliente, engenheiros que monitoram remotamente os carros e técnicos que consertam e recuperam veículos que têm problemas.

"É um táxi ligeiramente melhor", disse Robinson. "Não acho que seja tão disruptivo quanto as pessoas pensam."

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