Descrição de chapéu Energia Limpa

Aluguel de carros elétricos no Brasil enfrenta desafios de infraestrutura e desconhecimento do público

Chegada da BYD ao país, investimentos da 99 e aumento de vendas no setor animam

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Matheus Rodrigo
São Paulo

Alto custo, dificuldade para obter peças de reposição, poucos pontos de recarga e desconhecimento são desafios do setor de locação de carros elétricos ou híbridos, apontam lideranças do setor.

Em 2023, havia 8.426 carros eletrificados para aluguel no Brasil, o que representa 0,5% da frota total de 1,5 milhão de veículos do setor, segundo dados da ABLA (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis).

Os carros eletrificados são tanto os veículos elétricos, movidos exclusivamente a bateria, quanto os híbridos, que podem ser abastecidos com energia elétrica e com combustíveis convencionais (etanol, por exemplo).

A imagem mostra a traseira de um carro elétrico conectado a um carregador. Ao fundo, há uma fila de estações de carregamento Tesla, com cabos conectados a alguns veículos. A cena é ambientada em um local com vegetação ao redor.
Carro elétrico conectado em uma estação de carregamento da Tesla, em Berlim - Odd Andersen - 19.set.2023/AFP

Os carros elétricos, contudo, têm recebido investimentos recentes de aplicativos de transporte como 99 e Uber, além da chegada da fabricante BYD em território nacional.

"O Brasil ainda tem um número muito pequeno de veículos eletrificados. O preço da locação acompanha o do carro e, quando se compara aos a combustão, ele é mais caro", diz Paulo Miguel Júnior, vice-presidente da ABLA.

A Localiza tem duas linhas voltadas a carros elétricos ou híbridos, com veículos como Renault Zoe e-tech e GWM Haval H6. Segundo a empresa, os modelos eletrificados têm diárias que ficam entre R$ 214,90 e R$ 755.

Os elétricos também estão presentes no programa de assinaturas da locadora, em que um cliente faz um contrato e paga uma taxa mensal para ter acesso a um carro zero-quilômetro por dois, três ou quatro anos. Nas assinaturas de 24 meses de veículos como BYD Dolphin e BYD Han, os valores variam entre R$ 4.500 e R$ 17 mil.

Outra locadora com frota de elétricos é a Unidas. Em uma das categorias da empresa, o veículo Fiat 500e Icon ou similares podem ser encontrados em valores a partir de R$ 129,90 por dia. Questionada sobre a oferta de carros elétricos, a Movida não revelou os modelos que compõem sua frota.

Setor diz que estrutura para recarga precisa melhorar

Paulo Miguel Júnior destaca a infraestrutura disponível e dúvidas relacionadas à recarga como gargalos do setor. "O cliente precisa compreender como funcionam os pontos de reabastecimento de carros elétricos (eletropostos) e, no geral, está apressado na locação diária."

Davi Bertoncello, diretor de comunicação da ABVE (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), defende ser necessário aprimorar a qualidade dos carregadores dos veículos em eletropostos e a recarga em áreas remotas. "Não adianta colocar infraestrutura de recarga só em grandes cidades. A mobilidade elétrica acontece dentro de um ecossistema."

O custo de operação dos carros elétricos é alto também para as locadoras, afirma Marco Aurélio Nazaré, presidente da ABLA. "Os valores e as dificuldades para obter peças de reposição são problemas. Se o motorista estiver usando o carro para trabalhar por aplicativo, ele não pode parar, o que gera receita é ele rodar", afirma.

Além disso, segundo a agência de aluguel de carros byecar, o setor de assinatura de veículos enfrenta um aumento nos casos de inadimplência. De acordo com a empresa, a média de dívidas da categoria cresceu 63%, indo de 5,1% para 8,3% entre junho de 2023 e de 2024.

Uma saída para o consumidor e para as locadoras é apostar em carros híbridos, segundo Nazaré. "O híbrido flex é uma solução. Você vai dirigir o carro elétrico na cidade por um tempo e, quando consumir a energia elétrica, ele vai passar para combustão a álcool."

Para Davi Bertoncello, contudo, os híbridos são apenas um meio para a popularização dos modelos elétricos. "Podem ser uma solução intermediária. Eles oferecem uma alternativa para quem tem receio da infraestrutura de recarga e autonomia dos veículos, mas defendo o foco pela eletrificação total."

Questionada sobre as dificuldades para implantar veículos elétricos em sua frota, a Unidas diz que acompanha a expansão do setor no país. "Acreditamos que a substituição das frotas será um processo gradativo." Outras empresas do setor, Localiza e Movidas, foram contatadas sobre o tema, mas não se pronunciaram.

A locação de carros é muito relacionada aos aplicativos de transporte como Uber e 99. Um levantamento da ABLA aponta que entre 18% e 20% dos veículos alugados são utilizados para este fim.

Em 2022, a 99 anunciou o programa Aliança pela Mobilidade com o foco em veículos eletrificados e energia limpa. A parceria envolve empresas como BYD, Movida, Unidas, Raízen, entre outras.

Segundo Thiago Hipolito, diretor sênior de inovação na 99, hoje, a empresa tem mais de 4.000 veículos eletrificados em sua plataforma —a meta é atingir 20 mil até 2025 . A 99 também anunciou, em julho de 2024, a 99e-Pro, opção para escolher corridas com carros eletrificados.

Por enquanto, as iniciativas da empresa estão concentradas na cidade de São Paulo. "A 99 está comprometida em replicar o modelo em outras cidades brasileiras", afirma Hipolito.

Para Paulo Miguel Júnior, da ABLA, o modelo da empresa traz uma alternativa para o mercado. "Tem frotas dedicadas, com abastecimento próprio e que não usam a rede de eletropostos distribuída pela cidade."

O Uber Green, que deve chegar ao Brasil neste ano, também possibilitará ao usuário solicitar viagens apenas com carros elétricos.

Apesar das dificuldades no setor de locação, os carros elétricos, de maneira geral, têm tido um aumento no país. Dados da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) apontam que 19,3 mil carros elétricos foram emplacados no Brasil em 2023.

O setor de eletrificados também teve uma expansão. Os veículos híbridos saíram de 40,8 mil emplacamentos em 2022 para 74,6 mil em 2023. No total, os eletrificados, com elétricos e híbridos, aumentaram 91% de um ano para o outro, passando de 49,2 para 93,9 mil.

Em março de 2024, a BYD iniciou as obras da primeira fábrica de carros elétricos no Brasil, na região metropolitana de Salvador (BA). A expectativa é que a filial esteja pronta até 2025, com capacidade para produzir 150 mil veículos por ano. A chegada da BYD ao país deve acelerar a expansão dos carros elétricos, afirma Paulo Miguel Júnior.

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