Procura por brinquedos educativos e jogos de tabuleiro cresce na pandemia

Kit para a construção de castelos e lanterna que projeta slides na parede são campeões de vendas

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São Paulo

Em plena era da diversão online, brinquedos analógicos e educativos passaram a ser mais procurados ao longo do último ano.

O mercado brasileiro de brinquedos e jogos tradicionais, que cresceria só 1% em 2020 segundo projeções pré-pandemia, acabou aumentando 3,16%, de acordo com o Euromonitor International.

As duas categorias que mais se destacaram refletem as novas rotinas familiares em tempos distanciamento: brinquedos de construção, com alta de 23,68%, e jogos e quebra-cabeças, com 17,82%.

O ecommerce de brinquedos criativos PlayLab quadruplicou as vendas em 2020, em comparação com o ano anterior. Entre os 2.200 itens para bebês, crianças e adolescentes, 35% são de marcas estrangeiras, como a francesa Janod e a inglesa Galt.

Casal brinca com blocos montando um pássaro colorido
O casal Saulo Pinotti e Rosaria Pilia fundou o e-commerce PlayLab, especializado em brinquedos criativos, que viu vendas quadruplicarem na pandemia. - Jardiel Carvalho/Folhapress

Têm feito sucesso kits para construir casas, castelos ou uma estação de bombeiros, com tijolos em miniatura e argamassa à base de areia fina e extrato de milho. Os produtos, da alemã Teifoc, custam entre R$ 136 e R$ 479,90.

O best-seller, porém, é a Lanterna de Contos (R$ 109,90), da francesa Moulin Roty, que projeta histórias na parede, como os antigos slides.

“Assim que a pandemia começou, os pais perceberam que teriam mais tempo em casa com os filhos e buscaram novas formas de entretê-los”, diz Rosaria Pilia, 43, que fundou o PlayLab em 2018 com o marido Saulo Pinotti, 38.

Foram muito procurados os brinquedos relacionados ao desenvolvimento motor, provavelmente em razão dos espaços mais restritos”, afirma a empresária.

O distanciamento social também impulsionou de forma inédita as vendas de jogos de tabuleiro, uma cultura forte em países com inverno rigoroso agora com mais espaço entre os brasileiros.

Nesse segmento, as editoras detêm títulos exclusivos, criados por designers nacionais ou licenciados de outros países. Esses produtos pouco lembram os antigos Banco Imobiliário e War.

“São jogos que dependem somente de raciocínio lógico e estratégia, não de sorte”, diz Eduardo Cella, 41, fundador da PaperGames.

A editora de Americana, no interior de São Paulo, tem 50 itens no catálogo, quase todos importados, distribuídos por meio de 250 revendedores físicos e virtuais. As vendas, no ano passado, cresceram 50% em relação a 2019.

“Não estamos em lojas generalistas de brinquedos, apenas em livrarias, lojas especializadas em jogos e no universo geek”, afirma ele.

A maioria dos títulos é dirigida a famílias, para que crianças e adultos joguem juntos —estratégia que visa atingir um número maior de consumidores, diz o empresário.

Um dos mais procurados é o Saboteur, que custa R$ 86,90. Os jogadores assumem o papel de anões mineradores em busca de ouro, mas alguns têm como meta sabotar os demais.

Com 254 jogos do catálogo, a editora de jogos Galápagos atua no mesmo nicho, mas com foco crescente na produção de designers nacionais.

“Neste ano, vamos lançar mais jogos brasileiros do que nunca. Já temos uma marca forte o suficiente para isso”, diz Yuri Fang, 36, cofundador.

Com 700 revendedores físicos e online, a empresa tem cerca de metade do catálogo destinado a crianças com até dez anos de idade.

Um dos produtos mais vendidos é o Ticket to Ride (R$ 329,99), no qual jogadores a partir de oito anos desenvolvem estratégias para construir rotas de trem.

“Até 2019, vendíamos em média 100 mil jogos por ano. Em 2020, fechamos o ano com 850 mil”, afirma Yuri.

Homem sentado em sofá azul; na mesa, um jogo
Yuri Fang, fundador da Galápagos, empresa que faz jogos de tabuleiro - Karime Xavier/Folhapress

Até editoras de livros estão apostando em títulos que também são brinquedos. Fundada há 21 anos por Paulo Tadeu, 57, a Matrix viu as vendas de livros-caixinhas crescerem 20% desde o começo da pandemia. ​

Esses produtos têm fichas, que apresentam atividades para serem cumpridas. Entre as obras destinadas ao público infantil, já fazia sucesso a “Oficina de Inteligência para Crianças — 100 Exercícios para Estimular o Cérebro” (R$ 40), de Marjorie Bert.

Em 2020, os best-sellers foram as caixinhas com temas da Turma da Mônica, que Tadeu desenvolveu em parceria com Mauricio de Sousa, e a Brincando de Mindfulness, de Patricia Calazans, indicada a partir dos quatro anos. Cada uma custa R$ 37.

“Durante a pandemia, as crianças ficaram mais nervosas e agitadas, o que fez com que os pais procurassem mais pelo título. Já foram vendidas 30 mil unidades”, diz Tadeu.

As vendas pela Amazon respondem por metade do faturamento da Matrix.

O comércio de brinquedos tradicionais via marketplaces teve um crescimento expressivo em 2020, diz Angelica Salado, gerente de pesquisa do Euromonitor. “Esses canais representam uma janela de oportunidade para pequenas fabricantes e lojistas acessarem mais consumidores de forma eficiente.”

A especialista, no entanto, afirma que essa tendência não deve implicar o desaparecimento dos pontos físicos. “As lojas que quiserem sobreviver irão precisar se reinventar e se tornar espaços de passeio e experiências.”

Como bons exemplos, ela cita as cinco flagships da RiHappy, lojas que dispõem de amplos espaços de experimentação, onde as crianças podem testar os brinquedos à vontade, e as 17 unidades dentro de supermercados Extra, que oferecem conveniência aos pais.

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