Produtos sustentáveis para bebês e crianças vendem mais na pandemia

Momento gera reflexão e dá impulso a marcas de fraldas, vestuário e cosméticos ecológicos

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Denise Meira do Amaral
São Paulo

Cosméticos veganos, roupinhas de algodão orgânico e fraldas reutilizáveis ganham espaço com uma nova geração de mães e pais presumidamente mais preocupados com o futuro do planeta.

No último ano, a marca Bebês Ecológicos cresceu cerca de 20% com a venda fraldas feitas de material impermeável e respirável, que podem ser lavadas na máquina."Como o modelo descartável leva em torno de 400 anos para se decompor, todas as fraldas utilizadas até hoje ainda estão entre nós", afirma Ana Paula Silva, 37, fundadora da marca ao lado do marido, Cláudio Spínola, 47.

Do nascimento até o desfralde, um bebê usa cerca de 5.000 fraldas descartáveis. No caso da versão ecológica, são utilizadas em média 24 unidades, além de absorventes feitos de tecido. Fora o ganho ambiental, Ana Paula afirma que os pais têm uma economia de 70% com o modelo reutilizável. Cada fralda, incluindo o absorvente de tecido, custa em torno de R$ 70.


A Bebês Ecológicos vende cerca de mil fraldas por mês —no começo, em 2009, eram cem. Em seu ecommerce, a empresa oferece ainda listas de chá de bebê com curadoria de produtos naturais. A cesta Bela Baby Box, parceria com Bela Gil, custa a partir de R$ 265. Com 17 funcionários, a empresa tem uma loja física em São Paulo temporariamente fechada por causa da pandemia. A média de faturamento mensal do negócio chegou a R$ 74 mil neste ano.

Ao observar o crescimento desse mercado, as empreendedoras Fernanda Detoni, 30, e Luana Jacobus, 37, criaram a Niu Bebê, uma marca de roupas que se adaptam melhor às fraldas ecológicas, já que elas ocupam um volume um pouco maior do que as descartáveis.

Luana, que é mãe de Inácio, de quase dois anos, foi quem teve a ideia. "As calças dele ficavam presas na metade do bumbum, e o macacão não fechava. Percebi que isso poderia virar um negócio."

A empresa, de Porto Alegre, nasceu em abril de 2020, só com a loja virtual. As peças são unissex, com cores vibrantes e sem estampas. No site, é possível comprar um macacão por R$ 99 e um kit com quatro calças por R$ 134,70.

A Niu Bebê entrega para todo Brasil e vende cerca de cem produtos por mês. Em abril, teve faturamento de R$ 6.000. A marca de roupinhas de algodão orgânico Timirim também sentiu o interesse pelas peças aumentar na pandemia.

Com faturamento de R$ 650 mil em 2020 e volume de vendas 45% superior a 2019, a etiqueta nascida só no online em 2016 hoje é vendida em dez multimarcas no país e uma no Chile. Um macacão com estampa de baleias, por exemplo, sai por R$ 155, e um body kimono, por R$ 95.

Uma das linhas da marca foi criada com estampas do mestre da xilogravura pernambucano J. Borges. "Não queríamos ser uma marca ecochata. É possível unir o lúdico e a arte à ética e à sustentabilidade", diz Ninon Daunis, 32, cofundadora e mãe de dois bebês.Segundo ela, mais que não agredir o meio ambiente, a meta é primar pela ética e pelo respeito às pessoas que estão na envolvidas em todas as etapas do processo —entre elas plantio e costura.

A Nó & Nó, de Larissa Naracci, 37, voltada a público similar, tem a mesma preocupação com as peças que produz. "Além de usarmos um algodão sustentável, que apesar de não ser orgânico tem certificado, é fundamental que as costureiras, que são primordialmente mães, recebam salários justos", afirma.

O cultivo do algodão tradicional é quarta cultura que mais consome agrotóxicos, sendo responsável por cerca 10% do volume total de pesticidas utilizado no Brasil —incluindo quase 50 agrotóxicos proibidos na União Europeia. Os dados são do relatório Fios da Moda, lançado em abril pela plataforma Modefica com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas e a consultoria Regenerate Fashion.

Com base em Sorocaba (SP), a No & Nó saltou de R$ 10 a R$ 30 mil em vendas por mês antes da pandemia para valores entre R$ 60 mil e R$ 140 mil. São roupas sem gênero, vendidas online e embaladas em um saquinho de pano em caixa de papelão para envio.

Mariana Alves e Johny Dallasuanna seguram embalagens de cosméticos veganos
Mariana Alves e Johny Dallasuanna, da Verdê Kids, que vende cosméticos naturais e veganos e também brinquedos feitos de madeira e papel, fraldas ecológicas - Divulgação



Outra marca da mesma linhagem, mas de outro setor, é a curitibana Verdê Cosméticos, fundada em 2019, que aproveitou a procura cada vez maior por produtos infantis em seu marketplace para criar o braço infantil Verdê Kids, em agosto do ano passado. Além dos tradicionais cosméticos naturais e veganos, passou a vender também brinquedos feitos de madeira e papel, fraldas ecológicas, livros educativos e slings de algodão orgânico.

Mariana Alves, 35, cofundadora da marca ao lado do marido, Johny Dallasuanna, 32, é vegana e apostou no mercado de produtos naturais após passar por um problema de saúde e ter dificuldades para achar os produtos de que precisava em um só lugar.

"Na pandemia, notamos que até as pessoas não veganas repensaram seus hábitos e adotaram um estilo de vida mais saudável, tentando reduzir a exploração animal", diz Mariana, que se associou a Mayara Marenda, 31, para criar a Verdê Kids.

Os produtos de maior sucesso são o xampu e sabonete líquido da Verdi Natural, vendido a R$ 39,90, o óleo essencial infantil para cólicas, da You & Oil, por R$ 86,90, e a pomadinha natural expectorante, da Pura Chuva, por R$ 33,60.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.