Profissionais em home office impulsionam novos negócios no litoral de São Paulo

Consumidores movimentam praias na pandemia e criam demanda por serviços online e delivery

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Profissionais adeptos do home office têm movimentado a economia de cidades do litoral de São Paulo fora da temporada e dado impulso a novos negócios —que já nascem com atendimento online e serviço de delivery.

A presença de condomínios e de casas para aluguel em Camburi, no litoral norte do estado, motivou os amigos Caio Scarton, 28, e Pedro Leitão, 24, a instalar ali a fabrica de sucos Pomona. A marca, lançada em junho, oferece delivery no iFood e atende pedidos por WhatsApp, inclusive feitos por banhistas.

Viviane Berno Ferrante, que abriu uma rotisseria na Riviera de São Lourenço, bairro de Bertioga (SP)
Viviane Berno Ferrante, que abriu uma rotisseria na Riviera de São Lourenço, bairro de Bertioga (SP) - Jardiel Carvalho/Folhapress


"Muita gente veio para cá buscando qualidade de vida na pandemia e isso também atraiu quem está interessado em abrir negócios. Fomentou bastante a região, mas deixou mais difícil a tarefa de encontrar um imóvel para instalar a produção", diz Pedro.

Seu sócio, Caio, conta que teve de viver por algumas semanas em um hostel, já que não havia casas disponíveis para alugar quando chegou ao Sertão do Camburi, bairro mais distante da praia.

Destinos que podem ser acessados em viagens curtas de carro e oferecem contato com a natureza foram muito procurados tanto para estadias mais curtas quanto para períodos mais longos, diz Germana Magalhães, analista de competitividade do Sebrae.

"Esses lugares recebiam um público que poderia até topar uma alimentação mais simples. Mas esse perfil foi fortemente alterado pela pandemia. Entendemos, em pesquisas, que agora temos pessoas que querem comer em um restaurante mais qualificado e que aceitam pagar mais por conforto", diz a especialista.

Quando abordam os clientes na praia de Camburi para vender seus sucos, Caio e Pedro reforçam o apelo saudável da bebida, que não tem açúcar ou conservantes. O produto, oferecido em embalagem de 400 ml (R$ 12), é encontrado em seis sabores, como maracujá, manga e mel.

Os sócios fazem a venda nas areias de quinta a domingo e, no restante do tempo, procuram fazer compras, cuidar do administrativo e prospectar parceiros comerciais. A dupla, que investiu R$ 65 mil no negócio, tem planos de funcionar como uma distribuidora —comercializando a bebida em restaurantes, empórios e mercados, inclusive em outras praias nas proximidades.

Além de permitir o crescimento da empresa, a estratégia também pretende equilibrar uma possível queda na demanda quando a pandemia chegar ao fim.

"A cultura de viagem mudou, e as pessoas passaram a apreciar mais o contato com a natureza. Acho que a demanda de agora não vai se manter. Mas também acredito que ela não vai voltar ao cenário de antes da Covid", diz Pedro.

Pedro Leitão (à esq.) e Caio Scarton, da sucos Pomona, empresa de Camburi
Pedro Leitão (à esq.) e Caio Scarton, da sucos Pomona, empresa de Camburi - João Miranda/Divulgação


Para Germana Magalhães, do Sebrae, uma parte do movimento gerado com o home office tende a se manter —mas turistas, em especial os que costumavam fazer viagens internacionais, devem diversificar seus destinos.

"O empresário vai ter que acompanhar esse cenário e estar pronto para reposicionar o negócio se for o caso, buscando alternativas de acordo com seu produto. Para muitos negócios ligados ao turismo, essa é a grande questão: a sazonalidade", afirma Magalhães.

Foi por volta de agosto do ano passado que a empreendedora Viviane Berno Ferrante, 31, decidiu buscar um espaço para abrir uma unidade da rotisseria Gran Sabor na região da Riviera de São Lourenço, também no litoral norte, onde estava desde março, no apartamento de sua família.

"Vi que que existia movimento até no frio e durante a semana. Muita gente acabou se mudando para lá e percebi uma oportunidade", diz.

Quando resolveu tirar o negócio do papel, a empresária se deparou com a dificuldade em encontrar um ponto comercial. "Outros empreendedores vislumbraram a mesma possibilidade. Só consegui o imóvel porque a pessoa que estava na minha frente na fila desistiu. Ainda assim, tive que apresentar todo o planejamento da empresa antes", diz.

Mas, em sua avaliação, a decisão foi acertada: a loja, que abriu no fim de outubro de 2020, já conseguiu recuperar mais de 50% do valor investido, de R$ 100 mil. "A procura por alimentos prontos foi grande. Essa necessidade de um produto mais prático fazia falta na praia", afirma.

A expectativa é que o retorno completo do aporte inicial aconteça até o fim deste ano. Isso só não aconteceu antes, explica Viviane, porque uma parte dos lucros foi convertida em capital de giro. Segundo ela, o planejamento estratégico da empresa já levou em consideração uma reserva para ser usada caso as vendas caiam no pós-pandemia.

A ideia de manter uma reserva de caixa para compensar os meses de baixa pode não funcionar para todos os perfis de negócio, diz Artur Motta, professor de empreendedorismo da Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado). Para isso, o empreendedor precisaria fazer contas e entender se é possível acumular o suficiente.

Uma das recomendações do professor é que o empresário mapeie e se conecte com o consumidor, de preferência, usando as redes sociais —assim, fica mais fácil de fazer ofertas e descobrir quando ele pretende voltar.

"Mas também é muito importante saber qual foi o motivador daquele negócio e se perguntar se ele tem condição de ser algo além do sazonal", afirma Motta.

Massas da Gran Sabor, rotisseria com unidade na Riviera de São Lourenço
Massas da Gran Sabor, rotisseria com unidade na Riviera de São Lourenço - Jardiel Carvalho/Folhapress
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.