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Franqueado deve entender mercado antes de investir em outros países

Estados Unidos, Portugal e América Latina estão entre os principais destinos de franquias brasileiras

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Rio de Janeiro

Redes brasileiras têm conquistado espaço crescente no exterior —em especial nos EUA, em Portugal e em países da América Latina. Quem está disposto a investir fora, porém, deve entender as diferenças entre os mercados e manter contato constante com a franqueadora.

Para Isabela Garcia, franqueada da Anjos Colchões & Sofás no Paraguai, destacar a origem da mercadoria foi uma importante estratégia para tornar o negócio mais competitivo. "Sempre falamos que a loja traz artigos importados, porque aqui o Brasil é conhecido por fazer bons produtos. Eles [os clientes] acabam dando um valor maior", diz a empresária, dona de cinco lojas da rede.

Ela inaugurou a primeira franquia da Anjos Colchões & Sofás fora do país em 2014, em Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu (PR).

Isabela André é dona de cinco franquias da loja Anjos Colchões & Sofás no Paraguai
Isabela André é dona de cinco franquias da loja Anjos Colchões & Sofás no Paraguai - Kiko Sierich - 8.jun.22/Folhapress

Para começar o negócio no Paraguai, a empresária fez antes um estudo do mercado. Ela também contratou uma consultora para ajudá-la a entender aspectos legais da abertura da empresa, da criação do RUC (equivalente ao CNPJ) à contratação de funcionários.

Segundo Adriana Camargo, sócia do Grupo Latino Americano de Franquias, desenvolver estratégias de crescimento é fundamental antes de sair do país, porque permite que a rede aprenda sobre a concorrência e a burocracia necessária para dar início à empresa.

Camargo afirma que é comum que marcas levem para o exterior o mesmo modelo de negócios usado no Brasil, o que pode ser arriscado. "É preciso estudar o novo mercado. Assim, a empresa pode encontrar os parceiros ideais para adaptar o produto ou serviço sem perder o DNA."

No caso da Anjos, Isabela Garcia também pôde aprender com sua equipe de dez funcionários, que são paraguaios. Com ajuda do retorno dado por eles, a empresária diversificou as opções de produtos. Além de colchões e sofás, ela passou a vender novos artigos, como lençóis e capas para travesseiro.

Na abertura da primeira unidade, Isabela investiu cerca de R$ 100 mil. Em 2021, a franquia vendeu 692 colchões e 239 sofás e teve faturamento de cerca de R$ 4,8 milhões.

O Paraguai é o terceiro principal destino das marcas brasileiras, de acordo com a ABF (Associação Brasileira de Franchising). Em primeiro lugar, estão os Estados Unidos, que abrigam 69 redes, seguido por Portugal, com 51. Dos dez países com maior número de marcas brasileiras, cinco são da América do Sul.

"Há procura por países que são próximos geográfica ou culturalmente, porque os empresários buscam suas áreas de conforto. No caso dos brasileiros, são Portugal, que tem o mesmo idioma, ou outros países da América Latina", diz Daniela Khauaja, professora da pós-graduação da ESPM e pesquisadora de internacionalização de marcas.

A Calçados Bibi, empresa especializada em sapatos infantis, se expandiu principalmente para países que têm proximidade com o Brasil. Um deles foi o Equador, onde o engenheiro Eduardo López é franqueado de seis lojas da rede.

Ele, que é equatoriano, teve o primeiro contato com a marca há 28 anos, quando morou no Brasil. Ao voltar para o Equador, o engenheiro se tornou distribuidor dos produtos da Bibi, vendendo para lojas multimarcas. Em 2019, recebeu o convite para se tornar franqueado da rede.

O empresário viu o investimento na franquia como uma boa oportunidade de negócio devido à baixa concorrência de lojas especializadas em calçados infantis no Equador.

A empresa cresceu com a volta presencial do comércio e, em 2021, vendeu 48 mil pares de calçados, com faturamento de cerca de R$ 5,1 milhões. Desse valor, 6% é voltado ao pagamento de royalties. No Equador, a Calçados Bibi conta com 35 funcionários.

Antes de iniciar o negócio, a empresa matriz ofereceu treinamentos para que o empreendedor pudesse aprender mais sobre a marca. Nesse período, ele visitou unidades da Bibi no Brasil e no Peru, onde aprendeu as práticas de venda de cada loja e como aplicá-las.

Hoje Eduardo assiste a capacitações semanais realizadas pela fábrica e participa de reuniões com a equipe do Brasil para definir estratégias da franquia.

De acordo com Adriana Camargo, do Grupo Latino Americano de Franquias, o acompanhamento ao franqueado é essencial para seu desempenho no exterior. "A base do sucesso está com o franqueador. Ele precisa oferecer suporte porque, quando a franquia vai bem, a marca vai bem."

Nos EUA, a franquia da Emagrecentro, do mercado de saúde e estética, conta com uma equipe de médicos brasileiros para ajudar nos tratamentos, que incluem cronogramas de atividades físicas e mudanças na dieta.

Funcionários da rede de mercadorias e serviços de emagrecimento podem entrar em contato com os especialistas para falar sobre o atendimento de cada cliente.

A expansão para os EUA foi iniciada em 2018 pelo fundador da marca, o médico Edson Ramuth. Uma das razões para a empresa inaugurar uma unidade nos EUA foram as altas taxas de obesidade no país. Para se adequar ao público, mudou o nome para Best Shape (melhor forma, em inglês).

Em 2021, o administrador Marco Antonio Tricarico se tornou franqueado da rede na Flórida, com duas lojas em diferentes cidades. No início, a marca atraiu principalmente o público brasileiro, que tem boa presença na região.

Segundo a professora Daniela Khauaja, focar apenas na comunidade de brasileiros ao abrir uma franquia no exterior é arriscado. Mesmo que o grupo seja grande, é provável que a empresa tenha dificuldades em competir com outras do mesmo setor.

"O resultado financeiro pode ser positivo a curto prazo, mas, a médio prazo, você não está realmente inserido no contexto daquele mercado", afirma.

Hoje, a Emagrecentro melhorou seu alcance entre clientes americanos, que são 80% dos cerca de cem atendidos por semana. Para isso, Marco Antonio realizou campanhas digitais em inglês, promovendo imagem de saudabilidade do corpo. Mas, segundo o empresário, o alto custo para manter a rede no país ainda é desafiador.

O administrador conta que os contratos de aluguel para empresas podem exigir seis meses de pagamento adiantado e não há opção de parcelar compras. Por outro lado, ele afirma que a relação entre investimento e lucro apresentada pela rede brasileira vem sendo satisfatória.

O valor mínimo para investir em uma franquia da Emagrecentro é de US$ 100 mil (cerca de R$ 511 mil).
No ano passado, o faturamento de Marco Antonio foi de US$ 450 mil (cerca de R$ 2,3 milhões), do qual 10% é voltado ao pagamento de royalties. A empresa tem seis funcionários.

No caso das marcas, o lucro não é a única vantagem de se internacionalizar. Para a professora Daniela Khauaja, empresas que têm franquias no exterior podem se tornar mais atrativas no mercado nacional. "Para alguém em busca de investir, saber que uma franquia já é internacional mostra que aquela empresa teve um aprendizado grande e tende a ser mais sólida", diz.

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