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Segundo semestre chega com incertezas para pequeno e médio empresário

PIB mostra setor de serviços em alta, mas seguido por inflação e crédito caro

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São Paulo

O segundo semestre de 2022 tornou-se o lugar em que todos os empresários gostariam de estar. Ao longo da pandemia, esse período foi apontado como o momento de normalização das atividades. Agora, a poucos dias da segunda metade do ano, a situação não está tão encaminhada como esperado.

"Infelizmente não tem milagre na economia, estamos colhendo quase dois anos de diminuição da produção por conta da pandemia, e o aumento do consumo faz com que os preços subam", diz Pedro Almeida, diretor da Multiplicando Sucessos, consultoria especializada em franquias. "Há também a imprevisibilidade dos preços do diesel, principal responsável pelo aumento dos custos logísticos."

Almeida lembra que 93% de toda produção depende do transporte rodoviário, e que quase 100% da frota de caminhões utilizam diesel. Na sexta (17), a Petrobras anunciou um reajuste de 14,26% no preço desse combustível.

A pressão inflacionária —até maio, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 11,73%— é apenas um dos componentes que dificultam a sonhada volta à normalidade.

"Acreditamos que o maior desafio será fazer previsões neste segundo semestre. Ainda temos um ano de eleições, e é fato que muitos empreendedores acabam segurando seus investimentos para entender primeiramente como será o cenário político e econômico da atual ou da nova gestão que assumirá o Brasil em 2023", diz o especialista.

Apesar das dificuldades, há empreendedores que enxergam um bom horizonte. São negócios que conseguiram se manter durante os anos mais duros da pandemia e, agora, se preparam para o próximo ano.

Com serviços para a área de construção civil, a empresa de soluções em big data Prospecta Analytica apresentou um crescimento de 90% em 2020 e de 120% em 2021, chegando a um faturamento de R$ 15 milhões no último ano, quando abriu 21 unidades pelo país.

"No primeiro ano da pandemia, a construção foi determinada como um serviço de emergência —isto é, essencial—, então foi um dos setores que não parou", diz Wanderson Leite, CEO da Prospecta. "Para 2023, com certeza, a construção civil vai conseguir bater o recorde dos últimos dez anos, isso eu posso cravar pelos números que temos visto. Evidentemente dependemos de vários fatores e também estamos em ano eleitoral, mas, dando tudo certo, o próximo ano tem tudo para ser o melhor dos últimos dez."

Wanderson Leite, presidente da Prospecta Analytica
Wanderson Leite, presidente da Prospecta Analytica - Jardiel Carvalho - 10.jun.22 /Folhapress

Se a crise sanitária gerou oportunidades na área de construção, empreendedores que lidam com crédito também registraram crescimento. Mas se por um lado é um sinal de retomada, por outro mostra o problema de empresas que não conseguiram manter as contas em dia.

"Nossos franqueados não pararam, eles trabalharam remotamente atendendo à demanda do pessoal que estava precisando de crédito, inclusive pequenos empresários", diz Ademilson Mendes, diretor da rede Azul Empréstimo.

Mendes diz que houve ainda o aumento do número de franqueados: a Azul deve terminar 2022 com cem novas lojas. "Está sendo o melhor ano para nós, muitas pessoas que perderam seus empregos na pandemia e outras cujos negócios se tornaram inviáveis começaram a nos procurar, a demanda está muito grande neste primeiro semestre."

Entretanto, para quem precisa de crédito, o cenário não é dos melhores. As seguidas altas na taxa básica de juros elevam o custo do dinheiro, afetando as principais linhas acessadas pelos pequenos empresários. Na última quarta (15), o Banco Central elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, a 13,25% ao ano.

A junção de inflação com empréstimos mais salgados resulta no encarecimento de produtos e serviços.
Essa é uma das preocupações demonstradas pelos empreendedores em pesquisa recente feita pela ABF (Associação Brasileira de Franchising). Segundo o levantamento, 67% dos entrevistados disseram que repassaram as altas dos custos para os preços.

O estudo mostra ainda que 58% dos empresários ouvidos readequaram as operações, enquanto 44% promoveram a troca de fornecedores para tentar minimizar os problemas gerados pela inflação.

"Um dos fatos mais importantes é que, em todos os segmentos, quem paga a conta da inflação é o consumidor final. Com margens cada vez mais apertadas pelo aumento dos insumos e dos custos de logística, o empreendedor precisa repassar esse aumento, tornando o produto ou serviço ainda mais caro", diz Pedro Almeida, da Multiplicando Sucessos.

Renato Ticoulat, presidente da rede Limpeza com Zelo, observou de perto todos os movimentos de retração e retomada. Com a necessidade de reforçar a higienização de ambientes, ele viu sua empresa crescer durante a crise sanitária. Mas testemunhou também os problemas, e acredita que a maior parte dos negócios ainda não se recuperou.

"Temos, só em São Paulo, 547 clientes que ainda não voltaram, e os grandes, mais estruturados, ainda estão operando com efetivo de limpeza reduzido", diz.

Ticoulat explica que, apesar da retração entre os clientes "pessoa jurídica", novas oportunidades têm surgido. "Nos últimos anos, foram vendidos 250 mil apartamentos no Brasil, que estão sendo entregues agora. Esses imóveis demandam, pelo menos, 30 mil faxineiros, então é um segmento novo que está sendo agregado ao serviço de limpeza."

O exemplo da Limpeza com Zelo mostra como os diferentes setores são interligados. O aquecimento do mercado imobiliário, que fomenta o setor de higienização, também impulsiona os negócios da Prospecta Analytica, criando um movimento que se reflete no comércio e, por consequência, no PIB (Produto Interno Bruto).

O PIB do setor de serviços teve alta de 1% no primeiro trimestre em comparação aos três últimos meses de 2021. O segmento responde por cerca de 70% do indicador nacional, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Mas se tudo está interligado, retorna-se à questão política. Flávia Nunes, consultora de varejo e franquias da Complement, tem visto certo receio por parte dos empreendedores, e isso também está relacionado às preocupações em ano eleitoral.

"Temos uma questão política que deixa a todos um tanto insatisfeitos, perdidos. Estamos ainda entendendo onde caminhar nesse ambiente."

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