Conheça o bloke core, estilo que mistura camisas de futebol e moda

Linhas lançadas para o mundial focam peças que podem ser usadas fora do contexto de torcida

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São Paulo

Conhecido como "blokecore", o uso das camisas de time como item de moda é uma tendência que ganha corpo com a aproximação da Copa do Mundo e inspira coleções de produtos especiais para o evento.

Junção da gíria inglesa "bloke" (mano, em português) e da palavra "core", que pode ser traduzida como essência, o estilo, que ganha popularidade no Brasil, tem origens diversas, diz Valeska Nakad, professora de design de moda da Faculdade Belas Artes.

Retrato de Henrique Coronati, dono da RetrôGol. A empresa de produtos esportivos desenvolveu camisas comemorativas para a Copa do Mundo de Futebol 2022
Henrique Coronati, dono da RetrôGol, mostra camisas à venda na loja; a empresa desenvolveu peças comemorativas para a Copa de 2022 - Jardiel Carvalho/Folhapress


"Muita gente diz que [o blokecore] nasceu no Reino Unido, mas a gente sempre viu muito isso nas favelas brasileiras, e as camisas vêm ganhando cada vez mais aderência e sendo usadas em combinação com outras peças, como calças e saias."

Ela explica que um evento da proporção do Mundial faz com que mais pessoas busquem esse tipo de item.

Henrique Coronati, 36, fundador da RetrôGol, conta que a ideia de lançar produtos especiais para a Copa é antiga.

Segundo ele, desde 2013, quando abriu a empresa em São Caetano do Sul, na Grande São Paulo, esta é a primeira vez que sentiu a marca consolidada o suficiente para produzir camisas especiais, em homenagem às cinco conquistas da seleção brasileira.

Coronati espera vender cerca de 20 mil produtos da coleção, lançada em setembro. As peças custam entre R$ 120 e R$ 150, e a expectativa é faturar R$ 3 milhões com a linha.


"A coleção Brasil Copas é algo que a gente queria fazer havia bastante tempo, e que sentíamos que nosso público também buscava. Homenagear as seleções que conquistaram o Mundial é interessante porque mexe com a nostalgia e com o orgulho do torcedor."

Esse apelo às glórias do time, segundo Flávio Augusto da Silva, consultor do Sebrae-SP, é crucial para atrair o público. "A questão de a camisa lembrar um título ou um momento específico é interessante porque as vendas passam a depender menos de como o futebol do time está atualmente, algo que o empreendedor não tem como controlar."

Flávio acrescenta que as camisas retrô podem ser uma alternativa ao simbolismo atribuído recentemente à peça oficial. "A gente vive um momento em que a camisa da seleção brasileira é associada a determinado grupo político, então pode ser até uma vantagem não ter apenas a camisa da CBF, e poder contemplar quem quer uma alternativa."

Além da coleção especial para a Copa, a RetrôGol vende camisas de clubes brasileiros, europeus, e de outras seleções. Algumas, mesmo com menos expressão no futebol, como Camarões e Israel, são bem procuradas, diz Coronati.

"Camisas de seleções menos expressivas muitas vezes acabam vendendo bem pelas comunidades desses países presentes no Brasil e muito também pela beleza. O público procura isso", conta.
Para a professora Valeska, essas camisas que, além do motivo esportivo, têm apelo estético, mostram que o "blokecore" é um movimento relevante também entre os clubes.

"A gente vê cada vez mais camisas lançadas pelos clubes com algo voltado para o uso do torcedor em diversos ambientes. Peças coloridas, com texturas e estampas diversificadas. A moda vem incluindo as camisas de time, mas também os clubes têm aderido a elementos da moda."

Camisas comemorativas das conquistas da seleção brasileira na loja RetrôGol, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo
Camisas comemorativas das conquistas da seleção brasileira na loja RetrôGol, em São Caetano do Sul (Grande São Paulo - Jardiel Carvalho/Folhapress


A marca de roupas LaVíbora também aproveita o período da Copa para lançar produtos especiais. Com sede em Votuporanga, no interior de São Paulo, a empresa não costuma ter artigos esportivos em seu catálogo, mas viu no Mundial uma chance de lançar a coleção que, segundo o fundador da marca, Luan Bigotto, 28, busca todos os públicos.

"Ainda que haja uma afinidade, o nosso público não é específico do futebol e, mesmo assim, as vendas têm ido bem, muitos dos clientes são pessoas que ouvem sobre a Copa e querem aderir a esse estilo que está em voga", diz ele.

Fundada em 2016, a empresa tem dez funcionários, e vende exclusivamente online.

A linha para a Copa, lançada no começo de outubro, é composta de quatro modelos de camisas e duas cores de shorts, e os artigos variam de R$ 90 a R$ 150.

Segundo Bigotto, o produto mais vendido tem sido uma camisa alusiva à da seleção brasileira que pode ser personalizada com nome e número de preferência do cliente. A camisa não é igual à usada em campo pois não tem o licenciamento exigido pela CBF.

A Federação Nacional do Comércio estima que seja movimentado R$ 1,4 bilhão em produtos relacionados ao evento neste ano. Para aproveitar a data, o empreendedor deve compreender bem seu público e se adaptar ao aumento nas vendas que um evento como o Mundial traz ao negócio, diz Silva, do Sebrae-SP .

"É importante que haja um plano de ação visando quem está comprando, e qual o período em que as vendas vão crescer. A Copa dura 30 dias, e a seleção campeã faz sete jogos, então é fundamental dosar o estoque para não ter uma sobra de produtos nem atrasar a demanda", afirma.

Ele também ressalta que os produtos devem ter um atrativo extra. "Uma boa forma de chamar a atenção é vender produtos em kits. Pode ser algo voltado para uma família, ou peças diversas, como uma camiseta e um boné."

Na linha de produtos especiais a LaVíbora lançou conjuntos com camisetas e shorts combinados, por um valor promocional. "Os shorts são muito buscados, e achamos que colocá-los junto das camisetas atrairia um público diferente para os dois", afirma Bigotto.

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