Picolés de camarão, bacon e pão de alho são apostas para atrair clientes no verão

Sorveterias, que miram expansão, também apostam em produto saudável e regional

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São Paulo

Comidas populares, como batata frita, bacon, camarão e pão de alho, podem virar sabores de picolé nas mãos de um sorveteiro em busca de diferenciação. Essa é a proposta da Giadore, em Maringá, no Paraná.

Michel Nabil Hajj, 46, sócio-gerente, afirma que a ideia de apostar em sabores do tipo surgiu em 2021, no contexto de retomada pós-pandemia.

"Nós estamos no ramo de sorvetes desde 1998 e fazemos picolés desde 2011. De lá para cá, começamos a fazer alguns sabores diferentes, mas básicos, como tomate, gengibre e sagu, que não existiam aqui na região. Depois da pandemia, a gente queria alguma coisa para nos destacar no mercado. Começamos fazendo o picolé de bacon e deu certo."

Três potinhos de sorvete estão sobre uma bancada de madeira; o primeiro é de mangaba e tem uma cor amarela mais clara, o do meio é de nata com goiabada na cor branca com vermelho; o último é de cajá e tem uma cor amarela intensa
A Cangote Sorvetes, de São Paulo, aposta em sabores do nordeste, como caju, cajá, mangaba, seriguela, nata com goiabada, entre outros - Jardiel Carvalho/Folhapress

De acordo com dados da empresa Wise Sales, de pesquisa de mercado com foco no setor de alimentos, o Brasil tem cerca de 60 mil empresas formais no ramo de sorveterias e similares.

Para Sergio Molinari, professor de gestão estratégica de food service na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), esses números mostram que o segmento é muito pulverizado e com alta concorrência.

"É necessário ter estratégias que tornem esse negócio a opção do consumidor. Esse cenário competitivo praticamente obriga a empresa a ter elementos de diferenciação."

A Giadore produz 165 sabores de picolé, que incluem os tradicionais e também apostas como wasabi, pimenta, camarão, bacon, Doritos, batata frita, gengibre com beterraba e pão de alho com Nutella. O estabelecimento também faz sorvetes de massa, com sabores convencionais.

A empresa, que tem 14 funcionários, faz, em média, 12 mil picolés e 1.500 quilos de sorvete por semana.

Os picolés viralizaram no TikTok, em vídeos nos quais consumidores experimentam e dão sua opinião sobre os sabores mais exóticos.

Para Hajj, a estratégia de diferenciação tem funcionado.

"Não conhecemos a maioria dessas pessoas que postam. Elas vêm, compram e fazem os vídeos. Isso traz um retorno muito legal. Mesmo se o tiktoker diz que não gostou, as pessoas ficam curiosas e compram para experimentar."

Segundo ele, o principal desafio é aproveitar essa visibilidade e fidelizar clientes.

A Fit One, de Belém (PA), passou por esse dilema para se estabelecer.

A marca produz sorvetes e picolés saudáveis. Todos os produtos são feitos sem adição de açúcar, em sabores como açaí, limão com chá verde, mix de castanhas e taperebá. Há picolés veganos de chocolate com coco e capuccino e também uma linha feita com whey protein, com sabores como açaí e cupuaçu.

"Tudo que é novidade gera curiosidade. Mas, se não gerar fidelidade, o negócio não se sustenta. O maior desafio foi construir o nosso público", afirma Raissa Anaisse, 36, nutricionista e gerente da Fit One.

A empresa começou em 2014 desenvolvendo apenas quatro produtos e, hoje, conta com um catálogo de 17 itens. Atualmente, a marca tem sete funcionários fixos e produz de 8.000 a 10 mil picolés por mês na alta temporada e de a 5.000 a 8.000 na baixa.

A Fit One não vende para o cliente final, o que acontece via distribuição para lojistas. A empresa atua em Belém e outras cidades do interior do Pará, além de Macapá (AP) e Manaus (AM). Há negociações com distribuidores em Salvador e São Luís.

Segundo o professor Molinari, um passo importante para desenvolver novos produtos é fazer testes para tentar prever a aceitação.

É necessário, acrescenta, treinar a equipe para incentivar a experimentação de lançamentos e coletar a opinião de clientes. Essa fase serve ainda para melhorar sabores que entrarão no cardápio.

Nessa toada, a Picolé, que tem um espaço no Mercado Novo, em Belo Horizonte, tem uma política de dar um novo picolé caso o cliente não goste da primeira opção escolhida.

Segundo o sócio Diogo Salomão, 40, com isso, muitos provam sabores que normalmente não comprariam.

A Picolé trabalha com frutas da estação, compradas de produtores locais. O cardápio varia de acordo com a disponibilidade dos ingredientes.

A lista de sabores inclui limão-capeta com rapadura, café pingado, pipoca, melão com hortelã, milho com canela e caipirinha.

A sorveteria Cangote, de São Paulo, também aposta na regionalidade. Criada pelo baiano Anderson Boeira, 43, vende sorvetes de massa com sabores típicos do Nordeste, como cajá, seriguela, graviola, mangaba, umbu, caju, tamarindo, jenipapo e tapioca.

Como as frutas não estão disponíveis o ano todo, Boeira compra os insumos em forma de polpa e armazena.

Segundo ele, apostar na regionalidade atrai dois públicos diferentes: quem quer conhecer novos sabores e quem já possui uma memória afetiva dessas frutas.

Os empreendedores relataram um aumento na procura pelos produtos nos últimos meses, devido às ondas de calor que atingiram o país. Há grandes expectativas para o verão.

Salomão, da Picolé, diz que a empresa costuma ter um aumento de 30% nas vendas na estação. Neste ano, o crescimento veio já em meses anteriores, e a empresa está em sua capacidade máxima de produção. A marca faz, em média, 10 mil picolés por mês.

A companhia, que conta com três sócios e quatro funcionários, está em processo de expansão. Além da loja própria, vende produtos em quatro estabelecimentos parceiros e deve inaugurar uma nova loja, maior, no primeiro semestre de 2024.

A Cangote, de São Paulo, também atua no limite de produção. O espaço, que tem 30 metros quadrados, incluindo a área dedicada à produção, atende de 7.000 a 10 mil clientes por mês. De acordo com Anderson, a estratégia do verão será aumentar o horário de funcionamento para conseguir atender mais pessoas.

A Giadore, do Paraná, registrou um aumento de 50% nas vendas neste ano e comprou maquinário novo para atender a demanda. A expectativa é continuar crescendo nos próximos meses.

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