Separatista Quim Torra é eleito presidente regional da Catalunha

Escolha encerra seis meses de crise política na região após tentativa de independência

Patu Antunes
Barcelona | Associated Press e AFP

A Catalunha encerrou um imbróglio de seis meses com a escolha nesta segunda-feira (14) de seu novo presidente regional, Quim Torra, por 66 votos a favor e 65 contra, além de quatro abstenções, pelo Parlamento local.

O novo presidente regional catalão, Quim Torra, acena ao deixar o Parlamento catalão nesta segunda (14)
O novo presidente regional catalão, Quim Torra, acena ao deixar o Parlamento catalão nesta segunda (14) - Lluis Gene/AFP

O separatista Torra foi escolhido a dedo por  Carles Puigdemont, ex-presidente catalão que está foragido em Berlim, acusado na Espanha de rebelião e mau uso de dinheiro público após liderar a tentativa de independência da região, em outubro de 2017.

A expectativa agora é que o governo espanhol encerre sua intervenção na região.

Não se pense, porém, que Torra marca uma ruptura de Puigdemont. Ele disse repetidas vezes no Parlamento que estava pedindo votos em nome dele e do ex-presidente e que seu mandato é provisório.

“O nosso presidente é Puigdemont”, afirmou, acrescentando que “mais cedo ou mais tarde” voltará ao cargo. Ele só aceitou o cargo para que não fossem convocadas novas eleições gerais, como a ocorrida em 21 de dezembro de 2017, quando o bloco separatista (com Puigdemont inclusive) foi o mais votado.

A escolha de Torra, portanto, causa mais dúvidas do que certezas. “Ela tem um sabor agridoce. Por um lado, era necessário que a Catalunha voltasse à normalidade. Mas, por outro, foi uma escolha marcada pela personalidade do candidato, por seus tuítes e artigos’’, diz José Juan Moreso, professor de filosofia do direito da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona.

Torra, segundo o coletivo Maldito Bulo (que pesquisa fake news nas redes sociais), é autor de posts e textos xenófobos, racistas e depreciativos sobre a Espanha. 

Entre 2012 e 2013, no seu perfil do Twitter, já apagado, afirmou que ‘’os espanhóis só sabem espoliar’’ e que os catalães ‘’se esqueceram de olhar para o sul [referência ao território espanhol] e voltam a olhar para o norte, onde as pessoas são limpas, nobres, livres e cultas. E felizes’’.

O novo presidente regional se desculpou pelos tuítes, mas manteve o tom desafiador do chefe Puigdemont. Ele prometeu ‘’trabalhar sem descanso para a república catalã’’ e promete iniciar um ‘’processo constituinte’’.

As reações no Parlamento foram imediatas. Inés Arrimadas, liderança do Cidadãos, o partido mais votado em 21 de dezembro, e agora líder da oposição, tem criticado Torra sem parar. ‘’Parece impensável que na Europa do século 21 voltemos a nos enfrentar com discursos identitários e excludentes’’, afirmou. 

Não é apenas Torra que mantém o discurso de confronto. O presidente do Parlamento catalão, Roger Torrent, da Esquerda Republicana, também separatista, avisou que não vai comunicar pessoalmente ao rei Felipe 6º a escolha do novo presidente regional. Vai enviar só um email. 

A nomeação do rei é necessária para que Torra possa efetivamente tomar posse e encerrar um ciclo de incertezas que começou com a fuga de Puigdemont.

Nesse período, as principais consequências do separatismo, para a Espanha e a Catalunha, são sentidas em aspectos sociais e econômicos. 

“A primeira, e mais importante para mim, é a ruptura da convivência na Catalunha. Agora há uma terrível 
sensação de desencontro entre catalães partidários da independência e aqueles que não o são’’, afirma Moreso, da Universidade Pompeu Fabra. 

Ele destaca ainda o ressentimento criado entre a maioria espanhola e a metade catalã pró-independência. ‘’É uma ferida profunda que custará muito em cicatrizar’’, comenta o especialista.

A imagem e a reputação, tanto da Catalunha como da Espanha, também saem arranhadas na opinião do professor, o que terá consequências econômicas visíveis a “médio e longo prazos”. 

PLEBISCITO

A crise na Catalunha começou com o plebiscito em outubro passado, proibido pela Justiça espanhola e marcado pela violência policial.

Quase 2 milhões de catalães, de um total de 5,5 milhões de eleitores, votaram pela independência da região, o que levou o Parlamento catalão a declarar a independência em 27 de outubro.

O governo espanhol do primeiro-ministro Mariano Rajoy respondeu com a dissolução do Parlamento e a destituição de Puigdemont e de seu Executivo, assumindo o controle da autonomia regional.

Torra formará agora um novo governo, requisito para o fim da intervenção de Madri.

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