Eleição presidencial não muda tática do México com Trump, diz embaixador

Para Salvador Arriola, país está unido em relação às negociações com o presidente americano

Homem movimenta cédulas de papel, que contém uma tabela de duas colunas com o nome e o logo de cada partido em cada célula
Funcionário do Instituto Nacional Eleitoral organiza cédulas para as eleições do próximo domingo (1º) em Ciudad Juárez, no México - José Luis González - 25.jun.18/Reuters
Diego Zerbato
São Paulo

O México vai às urnas no próximo domingo (1º) para escolher seu novo presidente, em disputa na qual o esquerdista Andrés Manuel López Obrador é favorito.

Se confirmada a previsão das pesquisas, sua eleição marcaria uma ruptura na sequência de 30 anos de governos liberais na economia, no momento em que o país enfrenta o protecionismo do principal parceiro comercial, os Estados Unidos.

Porém, seu embaixador no Brasil, Salvador Arriola, considera que o México tem uma estratégia única de negociação que minimizará o efeito das personalidades de López Obrador e de Donald Trump.

"Houve uma comunhão de esforços e de transmissão de mensagens aos EUA, por parte inclusive de López Obrador. Acho que há uma unidade claríssima que o próximo presidente vai ter que levar em consideração e que vai permitir ter tranquilidade para uma negociação com esse personagem [Trump]", diz à Folha.

Apesar das ameaças vindas da Casa Branca, Arriola se mostra otimista em relação às negociações do Nafta (Tratado de Livre-Comércio da América do Norte), cuja próxima reunião acontecerá um dia depois da eleição. "Fala-se que, durante o verão [no hemisfério Norte], elas poderiam se acelerar."

O diplomata é mais cuidadoso em relação à imigração, outro tema espinhoso com os americanos. Além dos brados de Trump pelo pagamento do muro na fronteira, o México é o maior afetado pela política de tolerância zero a ilegais.

Com o endurecimento das regras ao norte, caberá ao país receber mais centro-americanos fugidos da violência armada das gangues. O embaixador diz que o México negocia um pacto sobre imigração no âmbito da ONU, mas defende o diálogo com Washington.

"Não devemos passar a decisões unilaterais, considerando que nós mexicanos contribuímos muito para o crescimento econômico dos EUA e temos uma parceria inamovível. Precisamos receber um tratamento diferente, deixando de lado os ódios, as pressões e as soluções unilaterais."

Enquanto o cenário dos próximos meses é de tensão com o vizinho do norte, Arriola vê aproximação maior com o Brasil, mesmo com as trocas de governo nos dois países. Um dos motivos são as reuniões sobre o acordo automobilístico, cujos termos estão sendo renegociados.

Para ele, as eleições não atrapalharam as tratativas. "Não, é exclusivamente uma decisão técnica e política. Não podemos estancar por processos legislativos ou eleitorais uma relação que precisa ir além."

Outro tema que, segundo o embaixador, avança é a relação do Mercosul com a Aliança do Pacífico, composta por Chile, Colômbia, México e Peru. Mas ele avalia que deveria haver cooperação em outros temas, atrapalhada pela falta de interesse de lado a lado.

Um deles é a segurança, que o diplomata considera o principal problema dos dois países. "Se não avançarmos nele, não vamos avançar no comércio, nos investimentos, na redução da desigualdade, que é o principal objetivo de todos."

Desde 2006, o México usa as Forças Armadas no combate aos cartéis do tráfico de drogas, assim como o governo brasileiro com a intervenção militar na segurança pública do Rio de Janeiro.

Embora tenha contribuído para enfraquecer quadrilhas como Los Zetas e Cartel de Sinaloa, o expediente provocou mais de 100 mil mortes e levou a taxa de homicídios no ano passado ao patamar mais alto em 20 anos —20,5 assassinatos por 100 mil habitantes (o Brasil chegou a 30,3).

Arriola afirma que já começaram as conversas sobre o assunto entre os dois governos.

Como exemplo do diálogo que poderia se dar, ele cita gargalos comuns aos dois países: a falta de articulação entre as forças de segurança e a necessidade de profissionalizá-las para combater o crime organizado.

“Não é a mesma coisa um policial municipal, estadual e federal. Se não conseguirmos uma comunhão entre essas forças, vamos continuar fracassando —sem inteligência, sem saber como se movem os traficantes e os cartéis.”

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado anteriormente, a taxa de homicídios no México em 2017 foi de 20,5 a cada 100 mil habitantes, não 25,3/100 mil.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.