Em revés para Trump, Senado aprova retirada das forças dos EUA da guerra do Iêmen

Parlamentares aprovaram condenação de saudita pela morte de Khashoggi

Washington | Reuters e Associated Press

O Senado americano aprovou nesta quinta-feira (13) duas medidas que vão contra a Arábia Saudita, em um duro recado ao presidente Donald Trump de que os parlamentares esperam uma condenação mais contundente ao país árabe por sua participação na morte do jornalista dissidente Jamal Khashoggi.

Nem a maioria republicana no Senado impediu a vitória, por 56 votos contra 41, de uma resolução pelo fim da assistência militar americana à coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita na guerra civil do Iêmen. 

A coalizão apoia as forças do governo iemenita contra a milícia rebelde houthi em um conflito que, desde 2014, deixou milhares de mortos, além de uma grave epidemia de fome que já afeta cerca de 20 milhões de iemenitas.

Apesar de a medida ainda ter de passar pela Câmara dos Deputados, o que não deve ocorrer neste ano, a aprovação marcou a primeira vez que uma das casas do Congresso apoia a retirada das forças americanas de um conflito internacional sob o Ato de Poderes de Guerra. A lei, aprovada durante a Guerra do Vietnã, limita a habilidade do presidente de utilizar as tropas do país em conflitos internacionais sem o apoio do Congresso.

O documento pede ainda que a Arábia Saudita "modere sua cada vez mais errática política internacional", uma linguagem que deixa claro que o apoio quase incondicional de Donald Trump à monarquia saudita não ressoa em todas as esferas do poder em Washington.

Na prática, a medida determina que os EUA deixem de abastecer no ar os aviões de bombardeio que operam no Iêmen. Os EUA pararam de abastecer as aeronaves sauditas no mês passado, então a resolução impediria que o Pentágono retome a operação.

Imediatamente após a votação, o Senado apoiou de maneira unânime uma segunda resolução em que condena o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, pela morte do jornalista dissidente Jamal Khashoggi e insiste que a Arábia Saudita leve à Justiça todos os responsáveis pelo crime.

Khashoggi foi morto no consulado saudita em Istambul, na Turquia, em 2 de outubro, em um crime que, segundo a CIA (agência de inteligência americana), foi ordenado por Bin Salman para calar o jornalista, crítico do regime. 

Trump questionou as descobertas da inteligência americana e, mesmo diante da condenação internacional, continuou a apoiar o príncipe saudita, aliado econômico e diplomático de peso para os EUA. Nesta terça-feira (11), Trump reforçou o apoio em uma entrevista à agência Reuters em que disse que o príncipe Bin Salman estava "muito firmemente no poder" na Arábia Saudita.

Como já fizera no mês passado, antes de a resolução ser aprovada por comitê especial do Senado, Trump enviou seus secretários de Defesa, Jim Mattis, e Estado, Mike Pompeo, para tentar convencer os parlamentares a manterem o apoio à ação da Arábia Saudita no Iêmen, alegando que os EUA precisam do país como aliado na contenção da crescente influência iraniana no Oriente Médio. O Irã é acusado de apoiar as forças rebeldes na guerra civil iemenita.

O deputado democrata David Cicilline chamou o encontro com os dois secretários de uma "enorme perda de tempo" e afirmou que o argumento deles é que não valeria prejudicar as relações com os sauditas em nome de uma suspeita não confirmada do envolvimento de Bin Salman na morte de Khashoggi.

“Nós não podemos varrer para debaixo do tapete o desrespeito à vida humana e as flagrantes violações das normas internacionais que os sauditas estão mostrando", disse o senador democrata Robert Menendez, do Comitê de Relações Externas do Senado.

“Algumas compras de armas não podem comprar nosso silêncio. Não deveriam comprar nosso silêncio. E se o presidente não vai agir, o Congresso vai", completou o senador, em referência ao acordo multimilionário de venda de armas americanas aos sauditas que levou Trump a tentar preservar os laços com o príncipe herdeiro.

Os democratas já alertam Trump que a medida deve ser bem recebida também na Câmara dos Deputados, que a partir do ano que vem terá a oposição como maioria. "Nós estaremos por aqui no próximo ano e pensaremos em jeitos de que haja consequências [para a Arábia Saudita]“, disse o senador democrata Tim Kaine.

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