Descrição de chapéu Venezuela

Só tínhamos um copo de água por dia, dizem jornalistas detidos na Venezuela

Dupla francesa conta detalhes das 48 horas que passaram em poder das forças de segurança

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Paris | AFP

Os dois jornalistas franceses que ficaram detidos por dois dias pelo governo venezuelano relataram ao canal de TV TMC, para o qual trabalham, que tiveram que dormir algemados e que recebiam apenas um copo de água por dia para dividir.

Pierre Caillé e Baptiste des Monstiers foram detidos pelas forças de segurança do ditador Nicolás Maduro quando filmavam nos arredores do palácio presidencial de Caracas em 29 de janeiro.

A dupla entrou no país para cobrir a crise política e as manifestações contra Maduro, mas não tinha visto de jornalista.

Jornalistas cobrem a soltura de cinco correspondentes internacionais detidos pelas autoridades venezuelanas
Jornalistas cobrem a soltura de cinco correspondentes internacionais detidos pelas autoridades venezuelanas - Juan Barreto - 31.jan.19/AFP

"Quando decidimos ir para a Venezuela, vimos que obter um visto de jornalista era muito complicado. Mas dissemos que tínhamos que ir naquele momento invés de esperar três semanas ou um mês", afirmou Des Monstiers na entrevista divulgada nesta terça (5).

Os jornalistas contaram ter sido interrogados separadamente e passado por revista íntima para checar a existência de microfones acoplados a suas roupas. As perguntas dos policiais, segundo os repórteres, incluíam menções ao DGSE, uma das agências francesas de inteligência e contraespionagem.

“Sabiam que éramos jornalistas, mas achavam que estávamos lá para outra coisa, a serviço do governo francês. Pensavam que éramos espiões”, contou Des Monstiers.

De acordo com ele, a polícia venezuelana também realizou uma operação de busca e apreensão no hotel em que a dupla estava hospedada, tendo encontrado um pen drive com informações usadas por Des Monstiers em reportagens anteriores sobre terrorismo, “o que não facilitou nossa vida”.

Para Caillé, “o mais duro é não saber o que vai acontecer, se vão nos dar comida, se vamos ser transferidos”. Ele disse que a dupla recebia por dia um copo de água (para dividir) e que dormia algemada, em um único colchão, no chão de uma sala escura.  

“Nos interrogatórios, às vezes eram gentis, mas outras diziam que não iríamos sair de lá, que ninguém sabia onde estávamos, que não veríamos mais nossas famílias”, completou, lembrando que pedidos de telefonema para parentes, colegas de trabalho e para a embaixada francesa na Venezuela foram recusados pelos policiais.

Eles afirmam que foram transferidos a vários lugares de detenção, incluindo El Helicoide, a sede dos serviços secretos venezuelanos. Em princípio, "acharam que éramos espiões ou equipe diplomática à paisana, não sabíamos muito bem", explicou Des Monstiers. "Foi uma montanha-russa", segundo Caillé.

Os dois jornalistas foram expulsos na quinta-feira depois que a União Europeia solicitou a sua libertação.

Durante a detenção, chegaram a encontrar encontram os três jornalistas da agência espanhola EFE que passavam pela mesma situação. Além deles, outros dois jornalistas chilenos e um brasileiro também foram detidos, entre outros. 

Desde que a crise política se agravou no último dia 23, o governo de Maduro passou a promover uma caçada a jornalistas estrangeiros e ao menos 11 deles foram detidos no período, incluindo a dupla francesaMesmo jornalistas locais disseram à Folha estar assustados com a perseguição feita pelo regime. 

Por isso, a ONG Repórteres Sem Fronteiras solicitou ao governo de Nicolás Maduro o "respeito à liberdade de informação" e denunciou a apreensão de material, como câmeras e celulares, assim como a censura de rádios e emissoras de televisão locais.

Sem mencionar explicitamente essas detenções, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza, afirmou que jornalistas estrangeiros têm entrado no país sem ter solicitado previamente uma permissão de trabalho.

A Venezuela passa por uma crise política desde o fim de janeiro, quando o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, se autodeclarou presidente encarregado do país e convocou protestos contra o regime

O Legislativo venezuelano, de maioria opositora, não reconhece o novo mandato de Maduro e afirma que a votação que o elegeu foi fraudada.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.