Embaixador britânico que chamou governo Trump de 'desastrado' renuncia

Presidente dos EUA havia rompido relações com diplomata e o chamou de maluco

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Londres | Reuters e AFP

O embaixador do Reino Unido em Washington, Kim Darroch, renunciou nesta quarta-feira (10) depois que o presidente Donald Trump o chamou de estúpido e maluco.

Memorandos confidenciais revelados no domingo mostraram que o embaixador considerava o governo Trump inepto, disfuncional e desastrado. 

O ex-embaixador britânico em Washington, Kim Darroch, em imagem de arquivo - Alex Wong - 20.out.2017/AFP

"Desde o vazamento de documentos oficiais desta embaixada tem havido uma grande especulação sobre a minha posição e a duração do meu mandato como embaixador. Quero colocar um fim nessa especulação. A situação atual está tornando impossível, para mim, desempenhar minha função como gostaria", disse Darroch, em sua carta de renúncia.

Darroch criticou Trump em cartas oficiais e confidenciais, que foram divulgadas pelo jornal Mail on Sunday. Nas cartas, que cobrem o período de 2017 até os dias atuais, Darroch escreve que o presidente americano "irradia insegurança" e recomenda a autoridades em Londres que a melhor forma de lidar com o mandatário é se comunicar de forma "simples, até mesmo incisiva". 

"Nós não acreditamos que este governo se tornará substancialmente mais normal nem menos disfuncional, imprevisível, polarizador, desastrado e inepto", afirmou Darroch em um dos memorandos, de acordo com o jornal.

Trump reagiu e disse que não trabalharia mais com Darroch. "O embaixador maluco que o Reino Unido impôs aos Estados Unidos não é alguém que nos empolgue, é um cara muito estúpido", escreveu Trump em uma série de tuítes.

O presidente também criticou Theresa May, primeira-ministra britânica que renunciou ao cargo. "Sou muito crítico da forma com que o Reino Unido e a primeira-ministra Theresa May conduziram o brexit. Que desastre ela e seus representantes criaram", disse o presidente em uma rede social. 

A decisão do embaixador foi interpretada por muitos em Londres como uma rendição humilhante à pressão de Trump e com graves consequências para a diplomacia britânica.

"Se o Reino Unido não consegue proteger as comunicações diplomáticas e isso custa a carreira das pessoas, quando a única coisa que fazem é levar adiante os desejos do governo, vamos ver a qualidade dos nossos emissários se degradar e sua influência diminuir, o que vai enfraquecer nosso país", considerou o presidente da Comissão Parlamentar de Relações Exteriores, Tom Tugendhat.

Depois de servir em Bruxelas de 2007 a 2011, Darroch chegou aos Estados Unidos em janeiro de 2016, antes da vitória de Trump nas eleições presidenciais no final daquele ano.

May lamentou sua decisão de deixar o cargo. "É muito lamentável que tenha considerado necessário abandonar seu posto de embaixador em Washington", afirmou a premiê na sessão semanal de perguntas no Parlamento.

Na opinião da líder conservadora, "um bom governo depende da capacidade de seus funcionários de dar conselhos sinceros e completos", sublinhando a importância "de defendermos nossos valores e princípios, particularmente quando eles estão sob pressão".

"Quero que todos os nossos funcionários tenham a confiança necessária para fazer isso", insistiu.

O líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, disse "lamentar a demissão de Kim Darroch" e chamou o Parlamento para lhe dar todo seu apoio por seus "serviços honoráveis e de qualidade".

Já o ex-ministro das Relações Exteriores e grande favorito para suceder a May na liderança do Partido Conservador e do Executivo, Boris Johnson, evitou apoiar o diplomata na terça à noite durante um debate com Hunt pela televisão.

O governo britânico abriu uma investigação para encontrar o responsável pelo vazamento.

A renúncia de Darroch enfureceu a classe política e diplomática britânica. Muitos acusaram Johnson de contribuir com a renúncia ao não apoiar o embaixador. 

"Ele [Johnson] vai queimar esse fantástico diplomata para servir a seus próprios interesses pessoais", afirmou o parlamentar conservador Alan Duncan.

"Alguém buscou, por quaisquer razões perniciosas, prejudicar a relação EUA-Reino Unido ou o próprio Kim pessoalmente. É importante que nossos embaixadores sejam capazes de escrever francamente aos políticos. Se eles tiverem de se preocupar como isso vai ficar nos jornais, isso representará uma mudança fundamental em como nosso sistema diplomático opera", afirmou Liam Fox, secretário do Comércio britânico.

"A recusa de Boris Johnson de apoiar Kim Darroch mostra que ele não vai peitar Donald Trump ou defender o Reino Unido", afirmou Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista. 

"O vazador é responsável pela pior quebra de confiança em nosso serviço durante minha carreira", afirmou o chefe do serviço diplomático britânico Simon McDonald. 

"Estou extremamente embravecido que um bom homem tenha sido derrubado por um vazamento terrível de documentos altamente confidenciais e por um presidente que é tão vingativo e rancoroso como Kim Darroch disse que ele era em suas comunicações altamente confidenciais", afirmou o ex-embaixador britânico em Washington Christopher Meyer. 

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