Análises de imagens de satélite revelam que Mianmar fez preparativos mínimos para o retorno de centenas de milhares de refugiados rohingyas que fugiram para Bangladesh, embora o país tenha afirmado que está pronto para recebê-los.
Mais de 700 mil rohingyas deixaram o estado de Rakhine, no nordeste de Mianmar, após as Forças Armadas conduzirem uma campanha de execuções em massa e estupros coletivos classificada como genocídio pela ONU. Muçulmanos, eles são minoria no país predominantemente budista, e não são legalmente reconhecidos como cidadãos birmaneses.
Cerca de 400 vilarejos rohingya foram queimados durante a onda de violência, que durou de agosto a dezembro de 2017. As imagens, divulgadas nesta quarta-feira (24) pelo Instituto de Política Estratégica Australiano, mostram povoados inteiros destruídos.
Apesar de as autoridades birmanesas terem se comprometido a reassentar os refugiados em seu território, não há "nenhum sinal de reconstrução" dos vilarejos rohingyas, segundo relatório do think-tank.
"A destruição contínua de áreas residenciais ao longo de 2018 e 2019 —claramente identificada por meio de nossa análise— levanta sérias dúvidas sobre o empenho do governo de Mianmar em viabilizar um processo de repatriação seguro", afirma o pesquisador Nathan Ruser.
O governo de Mianmar não se manifestou sobre o caso.
O país tem declarado repetidas vezes que está pronto para receber os rohingyas e que o processo de repatriação não foi iniciado por culpa de Bangladesh.
Uma investigação da agência de notícias Reuters de dezembro de 2018 revelou que autoridades birmanesas haviam construído casas para budistas em vários povoados rohingyas que foram destruídos.
Um mapa de reassentamento elaborado pelas autoridades birmanesas ao qual a reportagem teve acesso indicava que os refugiados seriam levados a abrigos exclusivos para rohingyas, e não aos seus vilarejos de origem.
No início de julho, o governo indiano entregou mais de 250 casas pré-fabricadas em Rakhine a famílias hindus que foram deslocadas pela violência.
"Hindus e moradores de Rakhine perderam suas casas, mas nós também perdemos as nossas", disse Zuyarman, um rohingya que mora no povoado de Maungdaw, em Rakhine. "Nós rohingyas gostaríamos de ter casas como as deles."
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