Nos EUA, Eduardo defende que direito a armas esteja na Constituição do Brasil

Filho do presidente criticou imprensa e pediu votos contra Bernie Sanders em evento conservador

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Washington

Eduardo Bolsonaro subiu ao palco da CPAC (Conferência de Ação Política Conservadora) neste sábado (29) junto com políticos de direita da Austrália, Coreia do Sul e Japão.

No debate de pouco mais de 30 minutos, seguiu o roteiro habitual de seus discursos e, em inglês, disparou contra o socialismo, a imprensa e a discussão sobre gênero nas escolas como inimigos de um movimento sólido de direita que, segundo o filho de Jair Bolsonaro, ainda precisa ser construído no Brasil.

Diante de uma plateia de americanos conservadores, elogiou uma das principais bandeiras do governo Donald Trump, defendendo que o direito de manter e portar armas de fogo esteja na Constituição brasileira, assim como acontece nos EUA.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro fala na CPAC, evento conservador nos Estados Unidos - Reprodução/CPAC2020 no Twitter

"Somos contra o controle de armas, queria que tivéssemos uma Segunda Emenda no meu país. Chegaremos lá", disse o deputado federal em referência à emenda constitucional americana que dá aos cidadãos o direito de portar e manter armas de fogo.

Eduardo afirmou que "os assassinatos caíram 20%" desde que Bolsonaro assumiu a Presidência do Brasil, em janeiro de 2019, e que o tema das armas virou "uma questão pessoal" depois que seu pai levou uma facada de "um ex-militante da esquerda", em setembro de 2018, quando ainda era candidato ao Planalto.

O presidente brasileiro editou decretos para facilitar o porte e a posse de armas no país, mas precisou revogar vários deles diante de dificuldades jurídicas para aprová-los. Assim, não conseguiu a flexibilização sobre o tema que promete desde sua campanha.

Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os dados do primeiro trimestre do ano passado confirmam uma tendência de queda nas mortes violentas no Brasil que vinha se delineando desde 2018, antes da posse de Bolsonaro e após o número de mortos ter atingido um pico incomum, de 63,8 mil, em 2017.

Na noite de sexta-feira (28), Eduardo já havia feito uma apresentação diante das milhares de pessoas que enchem desde quarta os auditórios de um hotel nos arredores de Washington para a conferência de direita conservadora.

Disse que o socialismo "só causa mortes" pelo mundo e pediu que os americanos não votem no progressista Bernie Sanders, líder da corrida pela indicação democrata à Casa Branca.

"Mantenham seus países livres, não votem em Bernie Sanders e, por favor, reelejam Donald Trump", disse o deputado. 

Durante o discurso deste sábado, afirmou que é "muito difícil" governar o Brasil à direita sem uma emissora de TV como a americana Fox News, conhecida por suas posições favoráveis a Trump.

Para ele, é preciso "manter a internet livre" para articular um movimento conservador sólido, que perdure por anos no país.

"Apesar de ter eleito um presidente conservador, temos os ingredientes, mas ainda temos que construir o todo", afirmou Eduardo. "Imagine que, no Brasil, não temos nem uma Fox News. É muito difícil. Temos que manter a internet livre e construir um movimento."

A família Bolsonaro —e seus apoiadores— têm muita força nas redes sociais e diversas vezes compartilham notícias falsas para rebater críticas, atacar opositores e jornalistas, inclusive com o endosso público do próprio presidente.

Em agosto, o Congresso derrubou o veto de Bolsonaro a penas mais duras para quem divulgar fake news nas eleições e, contra a vontade do presidente, fez com que a punição a esse tipo de crime fosse fixada de dois a oito anos de prisão.

Na quarta-feira (26), durante jantar com líderes conservadores organizado por Steve Bannon, ex-estrategista de Trump, Eduardo já havia demarcado a importância que vê na atuação de sua família nas redes sociais.

Sentado ao lado de Bannon, idealizador de um movimento nacionalista e populista pelo mundo, o deputado fez rápido discurso no qual destacou a atuação de seu irmão Carlos Bolsonaro nas redes sociais, inclusive para eleger o pai presidente.

O deputado disse ainda que gostaria de fazer a CPAC no Brasil "todo ano" e fez referências às cataratas de Foz do Iguaçu (PR), onde organizou um evento conservador em 2018. 

"Devemos repetir depois da reeleição do Trump, no fim de novembro, ou começo de dezembro. [...] Venham conhecer nossas cachoeiras."

Durante sua participação na CPAC, Eduardo também concedeu uma entrevista à Al Arabiya, em que afirmou que o governo brasileiro vai declarar o movimento xiita Hezbollah como grupo terrorista “em breve.” 

“Estamos debatendo os caminhos para impedir que grupos terroristas venham ao Brasil. Argentina reconheceu o Hezbolllah [como grupo terrorista] porque teve dois ataques terroristas, em 1992 e 1994”, disse Eduardo.

Essa não é a primeira vez que o deputado fala sobre o assunto. Ele já havia feito a mesma afirmação em visita a Israel, no ano passado. O próprio presidente Bolsonaro já disse que pretende classificar o Hezbollah como terrorista, em alinhamento com o governo dos EUA, mas a medida ainda não foi tomada por não ser unanimidade entre os auxiliares do Planalto.

Escolhido pelo pai, Eduardo queria ser embaixador do Brasil nos EUA, mas os constantes embates do governo com o Congresso fizeram com que o Planalto não tivesse segurança sobre a aprovação do nome do deputado pelo Senado e Bolsonaro acabou desistindo da indicação.

O diplomata Nestor Forster assumiu a embaixada desde então —sua indicação foi aprovada oficialmente pelo Senado neste mês— e foi ele quem recebeu Eduardo na noite de sexta para um coquetel na residência oficial em Washington.

Da última vez que esteve na cidade, o deputado conheceu as instalações da casa com a expectativa de que viveria ali por algum tempo. 

O presidente e o filho, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, defendem publicamente a reeleição de Trump e não têm priorizado abrir nenhum canal de diálogo com líderes da oposição para caso o Partido Democrata ter sucesso na disputa deste ano.

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