O presidente Jair Bolsonaro repetiu nesta segunda-feira (9) uma afirmação falsa para justificar a exclusão da Folha da cobertura de seu jantar com o presidente Donald Trump, no sábado (7), na Flórida.
Em evento com a comunidade brasileira em Miami, ele disse que a reportagem “não esteve presente no jantar com Trump porque quem define a quantidade de convidados são eles.”
O presidente tinha usado do mesmo argumento em entrevista neste domingo (7) para a TV Record.
O governo brasileiro selecionou 15 jornalistas para participar da cobertura do jantar em Mar-a-Lago, o resort do presidente americano em Palm Beach.
Durante o apresentação da logística da viagem para a imprensa brasileira, na manhã sábado (8), integrantes do Itamaraty informaram que a Casa Branca determinara o número de profissionais que poderiam fazer a cobertura do jantar, porém foi o Planalto o responsável por escolher quais veículos seriam contemplados.
“A Folha acabou não entrando e, na na minha opinião, a Folha não foi prejudicada. Quando me ouvem, distorcem, quando não me ouvem, inventam”, afirmou o presidente nesta segunda.
“Não tenho nada a ver com isso, na casa dos outros, quem manda são os outros.”
Dos veículos brasileiros que possuem correspondentes nos EUA, somente a Folha ficou de fora do grupo selecionado pelo Planalto para acompanhar o jantar.
A Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República) afirmou que o critério utilizado para a formação da lista dos profissionais que iriam a Mar-a-Lago, onde aconteceu o encontro entre os presidentes, era o veículo fazer a cobertura diária do Planalto.
A Folha tem dois ou mais repórteres responsáveis por cobrir o Planalto todos os dias. A BBC Brasil e a AFP, por sua vez, não possuem jornalistas em tempo integral na cobertura da Presidência e estavam no grupo escolhido para acompanhar o jantar.
De início, outras explicações haviam sido dadas à reportagem da Folha: segundo uma integrante da Secom, o governo americano havia pedido a lista de profissionais muito em cima da hora, e o Planalto enviara os dados que chegaram primeiro.
O governo americano conferiu 13 credenciais a veículos brasileiros escolhidos pela equipe de Bolsonaro, entre eles as emissoras de TV Globo, Record, Band, EBC e SBT, as agências de notícia Reuters e AFP, a rádio Jovem Pan, os portais BBC Brasil e Metrópoles e os jornais O Globo e O Estado de S. Paulo.
A correspondente da BBC Brasil em Washington também não havia sido contatada pelo Itamaraty, porém, neste caso, foi incluída na lista após solicitar a participação no grupo.
Bolsonaro postou, por volta das 21h deste sábado (7), em sua página no Facebook, uma imagem reproduzindo o título da reportagem na qual a Folha noticiou ter sido excluída da cobertura de seu jantar com o presidente americano, Donald Trump.
A Folha divulgou a seguinte nota sobre o episódio: “A Presidência mais uma vez discrimina a Folha, o que já se tornou um método de perseguição. O jornal continuará cobrindo esta administração de acordo com os padrões do jornalismo crítico e apartidário que o caracteriza e que praticou em relação a todos os governos.”
Diversas entidades, entre elas a ANJ (Associação Nacional de Jornais), criticaram a exclusão da Folha da cobertura.
O presidente da ANJ, Marcelo Rech, manifestou-se dizendo que o órgão “lamenta e condena a discriminação do Palácio do Planalto contra a Folha de S.Paulo. A Presidência da República deveria se pautar pela atuação de forma impessoal, como exige a Constituição brasileira, sem favorecimentos ou perseguições a veículos de comunicação e jornalistas”.
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