Posses paralelas de presidentes mergulham Afeganistão em crise institucional

Denúncias de fraudes e anúncio de resultado meses após votação criaram ambiente de instabilidade

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Cabul | AFP

O chefe de Estado Ashraf Ghani e seu principal adversário, Abdulah Abdulah, declararam-se presidentes do Afeganistão nesta segunda-feira (9), mergulhando o país em uma crise institucional.

Enquanto ambos os políticos tomavam posse pelo mesmo cargo em cerimônias distintas, duas explosões sacudiam Cabul, em uma amostra do nível de insegurança no país, um dia antes do início do diálogo entre governo e Taleban previsto no acordo assinado em 29 de fevereiro em Doha por Estados Unidos e membros do grupo islâmico.

O grupo Estado Islâmico (EI) reivindicou o atentado e afirmou ter lançado dez foguetes. O ministério do Interior, por sua vez, contabilizou quatro.

O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, ao centro, com o primeiro vice-presidente, Amrullah Saleh, à esq., e o segundo vice-presidente, Sarwar Danish, durante ceromônia de posse em Cabul
O presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, ao centro, com o primeiro vice-presidente, Amrullah Saleh, à esq., e o segundo vice-presidente, Sarwar Danish, durante ceromônia de posse em Cabul - Wakil Kohsar/AFP

"Não tenho colete à prova de balas, apenas minha camisa. Continuarei [no cargo] embora tenha que me sacrificar", disse Ghani, depois de ter jurado "obedecer e proteger a santa religião do Islã" e "respeitar e supervisionar a aplicação da Constituição".

Ghani tomou posse diante de um grupo de diplomatas minutos antes de Abdulah Abdulah, derrotado nas eleições de setembro de 2019, também se declarar presidente do país em outra ala do palácio presidencial.

"O povo afegão me confiou uma enorme responsabilidade, e estou determinado a servi-lo", disse o ex-primeiro-ministro Abdulah Abdulah.

A situação lembra os piores momentos das eleições de 2014, quando os dois protagonistas afirmaram ter vencido. A crise constitucional durou três meses e foi resolvida com a mediação dos Estados Unidos.

Nesta terça-feira (10), Taleban, autoridades do governo, oposição e sociedade civil se reunirão para tentar encontrar um consenso sobre o futuro do Afeganistão. A divisão dentro do Executivo enfraquecerá Cabul e fortalecerá as posições dos insurgentes.

Os diálogos para chegar a um acordo se prolongaram pela madrugada dessa segunda-feira, mas não evoluíram.

O ex-primeiro-ministro do Afeganistão Abdullah Abdullah, à esquerda, faz juramento ao lado do clérigo Shahzada Shahidwhile em cerimônia paralela de posse em Cabul
O ex-primeiro-ministro do Afeganistão Abdullah Abdullah, à esquerda, faz juramento ao lado do clérigo Shahzada Shahidwhile em cerimônia paralela de posse em Cabul - Escritório do ex-primeiro-ministro do Afeganistão via AFP

A situação pode atrasar as negociações, previstas no acordo de Doha, em que os Estados Unidos se comprometeram a retirar suas tropas do país em 14 meses.

Ghani, porém, se recusa a cumprir uma das mais importantes condições do pacto, que seu governo não ratificou: a libertação de até 5.000 prisioneiros talebans em troca de até mil membros das forças afegãs.

Nas últimas eleições presidenciais, cujos resultados foram anunciados em fevereiro, após cinco meses da realização do pleito, em meio a um grande número de denúncias de irregularidades, Ghani obteve 50,64%, e Abdulah Abdulah, 39,52%.

O candidato derrotado, no entanto, rejeitou os resultados e os rotulou de "traição nacional".

Enquanto isso, em 2 de março, os insurgentes encerraram uma trégua parcial de nove dias e retomaram os combates contra as forças de segurança afegãs nas áreas rurais, matando dezenas de pessoas em uma semana.

A capital também não se livrou da violência: um ataque, reivindicado pelo grupo jihadista Estado Islâmico, causou 32 mortos e deixou dezenas de feridos na sexta-feira (6).

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