Trump se recusa a se comprometer com transição pacífica se perder eleição

Presidente já se negou a responder se aceitaria derrota em outra ocasião

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Belo Horizonte

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recusou-se nesta quarta-feira (23) a se comprometer com uma transferência pacífica de poder após as eleições presidenciais de 3 de novembro.

Durante entrevista coletiva na Casa Branca, um repórter questionou se o presidente firmaria o compromisso, após citar a ocorrência de tumultos e protestos em várias cidades americanas.

Donald Trump fala a repórteres durante entrevista coletiva na Casa Branca
Donald Trump fala a repórteres durante entrevista coletiva na Casa Branca - Tom Brenner/Reuters

"Bom, vamos ver o que acontece. Eu tenho reclamado muito sobre as cédulas. As cédulas são um desastre", diz Trump, aparentemente se referindo a cédulas de votação por correio. O presidente já afirmou em diversas ocasiões que a votação por correio é fraudulenta, sem, contudo, apresentar evidências.

"Joguem essas cédulas fora e você terá uma transição muito pacífica —não haverá uma transição, na verdade, haverá uma continuação", disse Trump. "As cédulas estão fora de controle. Os democratas sabem disso melhor que ninguém", acrescentou.

Devido à pandemia do novo coronavírus, muitos eleitores têm preferido votar pelos correios, o que é permitido na grande maioria dos estados americanos —a modalidade deve representar uma parcela significativa dos votos desta eleição.

No fim de julho, em entrevista à Fox News, que normalmente faz uma cobertura favorável ao presidente, Trump também se negou a responder se aceitaria uma derrota. Questionado se reconheceria o resultado das urnas, ele disse: “Não vou simplesmente dizer que sim nem que não, assim como da última vez”.

Durante debate organizado pela emissora de TV entre Trump e a candidata democrata Hillary Clinton, em 2016, no último ciclo eleitoral, Trump deu resposta similar.

Nesta quinta, a secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, falou em nome do presidente para acalmar os ânimos acerca da declaração que incomodou até mesmo alguns aliados de Trump.

"O presidente aceitará os resultados de uma eleição livre e justa", disse.

A campanha de Joe Biden, principal adversário de Trump, reagiu às declarações do presidente, as quais classificou como irracionais. "O povo americano decidirá esta eleição. E o governo dos Estados Unidos é perfeitamente capaz de escoltar invasores para fora da Casa Branca", escreveram os representantes do democrata.

No plenário do Senado, o líder democrata Chuck Schumer disse que Trump é "a ameaça mais grave" à democracia dos EUA. "Presidente Trump, você não é um ditador e os Estados Unidos não permitirão que você o seja."

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, também se manifestou e disse que o líder republicano parece admirar líderes autocráticos. Em entrevista coletiva, dirigiu a palavra ao presidente e disse que ele "não está na Coreia do Norte, não está na Turquia, não está na Rússia".

Nesta quinta, o senador progressista Bernie Sanders acusou Trump de estar "preparado para minar a democracia americana para permanecer no poder".

Segundo Sanders, que foi pré-candidado à Presidência pelo Partido Democrata, Trump tenta suprimir eleitores "semeando caos, confusão e teorias da conspiração ao lançar dúvidas sobre a integridade das eleições".

"Esta é uma eleição entre Donald Trump e a democracia —e a democracia deve vencer", disse Sanders, que endossou a candidatura de Biden.

Também houve críticas ao posicionamento do presidente entre seus próprios correligionários, embora os republicanos não o tenham repreendido diretamente.

"O vencedor da eleição de 3 de novembro será inaugurado em 20 de janeiro. Haverá uma transição ordenada, assim como tem ocorrido a cada quatro anos desde 1792", escreveu Mitch McConnell, líder do partido no Senado, nas redes sociais.

A deputada Liz Cheney, líder da Conferência Republicana na Câmara, afirmou que a transferência pacífica de poder está consagrada na legislação americana e é fundamental para a sobrevivência da República. "Os líderes dos Estados Unidos fazem um juramento à Constituição. Vamos manter este juramento."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.