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Eleições EUA 2020

Ao atrair novamente metade do país, Trump deixa os EUA irreconhecíveis

Cotidiano de fake news e de grosserias não abalou mais de 70 milhões de eleitores

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São Paulo

O mais surpreendente na eleição norte-americana de 2020 não foi a dificuldade que Joe Biden encontrou nas urnas, contradizendo as pesquisas que lhe davam vitória fácil, mas o fato de Donald Trump ainda ter ao seu lado metade dos Estados Unidos.

Antes conhecido apenas como empresário controverso de Manhattan e apresentador na TV, o caráter e os métodos de Trump foram escrutinados diariamente por quatro anos na Presidência e nesta campanha eleitoral.

Apoiador de Donald Trump com rifle semi-automático durante protesto batizado de 'pare o roubo', em Phoenix, no Arizona
Apoiador de Donald Trump com rifle semi-automático durante protesto batizado de 'pare o roubo', em Phoenix, no Arizona - Jim Urquhart - 8.nov.20/Reuters

Seu cotidiano de fake news, grosserias e mau juízo diplomático e sanitário não abalou mais de 70 milhões de eleitores do país mais poderoso do mundo e, em que pese deslizes históricos, o farol da democracia mundial e de um certo iluminismo exportado por Hollywood.

Os EUA ajudaram a derrotar o nazismo e a reconstruir a Europa; e impuseram uma orientação multilateral que fez bem ao mundo. Na economia, até seus inimigos os copiam com resultados consistentes na redução da pobreza.

Mesmo para um país que já conviveu com as trapaças de republicanos como Richard Nixon, no escândalo de Watergate, e as mentiras de George W. Bush, sobre armas de destruição em massa para justificar a Guerra do Iraque, Trump os superou pelo conjunto da obra.

Foi primário e binário, como se o “Make America Great Again” fosse possível jogando fora as qualidades da democracia norte-americana. Num grande final, ainda resolveu, pateticamente, manchar o processo eleitoral, tornando os EUA ainda mais irreconhecíveis.

Não é que os norte-americanos não tivessem opção, como muitos se justificam no Brasil pelo voto em Jair Bolsonaro, que não se expôs na campanha e disputou o segundo turno com um candidato patrocinado por Lula na cadeia e um PT encharcado em corrupção.

Joe Biden é homem, branco de olhos azuis e experiente senador pelo moderado estado de Delaware, não pela progressista Califórnia, além de ter sido vice-presidente em um governo razoável como o de Barack Obama.

Ao lado do ex-presidente, Biden fez a ponte com os republicanos mais conservadores no Congresso e, pelo seu histórico, dificilmente oferecerá cargos relevantes aos democratas mais radicais, como Elizabeth Warren e Alexandria Ocasio-Cortez.

O que mais os norte-americanos, que viram Trump em ação por quatro anos, poderiam desejar?

Em 2002, meses antes da Guerra do Iraque, pesquisa da National Geographic revelou que 87% dos jovens entre 18 e 24 anos nos EUA não sabiam onde ficava o país que iriam invadir.

Agora, os norte-americanos entre 30 e 64 anos se dividiram praticamente ao meio entre Biden e Trump, segundo pesquisas de boca de urna.

Mas há esperança. Se os jovens do passado não sabem o lugar de seu próprio país no mundo, os de agora, entre 18 e 29 anos, saíram em peso contra Trump, dando 62% de seus votos a Biden.

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