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Eleições EUA 2020 Governo Biden

Combinação de vazio e euforia marca inauguração de governo Biden

Com pandemia e medo de terrorismo, festa foi transformada em versão mais soturna e silenciosa

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Washington

A cerimônia de posse de Joe Biden nesta quarta-feira (20) foi marcada por excepcionalidade, urgência, vazio e também por alguma euforia. Adequada, portanto, ao momento histórico em que ele se tornou o 46º presidente dos Estados Unidos.

Biden foi eleito no famigerado ano de 2020, em meio à pandemia da Covid-19 —que já matou mais de 400 mil americanos e degringolou a economia. E chegou à Presidência sob a crescente ameaça do terrorismo doméstico de direita.

A vice-presidente Kamala Harris e o presidente Joe Biden prestam homenagem no monumento ao Soldado Desconhecido, no cemitério de Arlington
A vice-presidente Kamala Harris e o presidente Joe Biden prestam homenagem no monumento ao Soldado Desconhecido, no cemitério de Arlington - Joshua Roberts/Reuters

Sua eleição, ademais, é tida por parte da população como a salvação do país depois de momentos dramáticos sob o governo de Donald Trump. O mais grave deles foi a invasão do Capitólio no último dia 6. Cinco pessoas morreram na insurreição, que Trump é acusado de incitar.

A combinação entre pandemia e terrorismo deu um clima pungente ao evento. Em seus discursos, os senadores Amy Klobuchar e Roy Blunt lembraram o público de que a transição de poder é ao mesmo tempo corriqueira e milagrosa. Corriqueira porque acontece a cada quatro anos. Milagrosa porque, como visto nas últimas semanas, precisa superar enormes obstáculos.

Também pela mistura de Covid-19 e insegurança, as ruas da capital, Washington, esvaziaram-se nestes dias —transformando o que costuma ser uma festa em algo mais soturno, mais silencioso, mais cinzento. Não houve recepções, bailes, carrinhos de comida, vendedores ambulantes, festas nos jardins de casa e todo o mais com que os americanos se acostumaram nesta sua versão de um carnaval da democracia.

No passado, pessoas vieram de todo o país para se sentar no parque National Mall, que tem vista para o Capitólio. Neste ano, elas até vieram para Washington, mas para assistir à posse em seus quartos de hotel ou para circular em torno das barricadas, tentando vislumbrar qualquer detalhe do evento. Quase 200 mil bandeirinhas foram fincadas no parque para marcar essas ausências.

Policiais e soldados caminhavam desde a véspera pela cidade, mesmo em partes residenciais distantes do centro. Bloquearam o acesso aos entornos dos edifícios do governo. Até era possível chegar à avenida Pensilvânia, aquela que liga o Capitólio à Casa Branca, mas apenas depois de ser revistado e passar por um detector de metal, algo sem precedente ali.

Uma das únicas tradições que foram seguidas durante o dia foi o juramento na face oeste do Capitólio, onde Biden afirmou que a democracia prevaleceu diante de tantos desafios. Uma cutucada em Trump.

O discurso feito depois do juramento é considerado um dos mais importantes na carreira de um presidente americano —inclusive, talvez o mais—, mas neste ano ficou faltando o aplauso das multidões.

Havia dúvidas se o evento aconteceria de fato no Capitólio. Foi justamente esse edifício que simpatizantes de Trump invadiram no começo do mês. Por isso, existia a recomendação de fazer a posse em espaço interno, algo que foi desconsiderado. A Covid-19 era outra preocupação, em uma cidade que proíbe as pessoas de comer dentro de restaurantes, por exemplo, e onde a população usa máscara na rua.

Devido a essas ressalvas, o público foi bastante reduzido no evento. Estavam presentes apenas familiares do presidente e de sua vice, legisladores e outras figuras políticas de peso. Máscaras e testes de Covid-19 fizeram parte do cerimonial para mitigar o risco de transmissão do vírus. Além de quem discursou, poucos retiraram a máscara, entre eles Lady Gaga —que cantou o hino. Entre um discurso e outro, um funcionário limpava o púlpito com o que parecia ser um lenço com álcool.

Diversos ex-presidentes estavam presentes no evento, como o democrata Barack Obama e o republicano George Bush. Ficou faltando Trump, que não admite a vitória de seu sucessor. Outros presidentes já tinham feito essa desfeita, como John Adams (1801), John Quincy Adams (1829) e Andrew Johnson (1869). Mas o gesto é raro —e desce mal neste país, dado a tradições.

Trump tampouco recebeu Biden na Casa Branca, como pede a praxe. O ex-presidente foi embora logo de manhã em um helicóptero, fez um breve discurso em uma base aérea e voou para a Flórida, onde virou ex. Ele deixou uma carta para Biden, mas o conteúdo ainda não é conhecido.

Depois da posse e do discurso, Biden fez a revista militar —outra das poucas praxes mantidas neste ano— e visitou o cemitério de Arlington, onde soldados americanos foram enterrados. Por fim, o presidente foi escoltado até a Casa Branca. Seu novo lar.

A expectativa, a partir de agora, é a de que o governo Biden não seja excepcional nem urgente, ao contrário de sua posse. Que seja corriqueiro. Entediante, até, depois de quatro anos de Trump.

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