No Alvorada, Lira cobra Ernesto por melhora na diplomacia para combater pandemia

Segundo presentes no encontro, presidente da Câmara pediu mais diálogo com nações estratégicas

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Brasília

A reunião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com as cúpulas do Legislativo e do Judiciário, nesta quarta (24), teve um momento de cobrança ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Em seu discurso, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pediu que o Itamaraty amplie o diálogo com nações consideradas estratégicas para o combate à pandemia do coronavírus.

Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, durante entrevista coletiva
Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores, durante entrevista coletiva - Adriano Machado - 2.mar.21/Reuters

Segundo autoridades presentes, Lira deixou claro que é preciso haver melhora na relação com países produtores de vacinas e de insumos e que a hora de pedir ajuda a parceiros internacionais é agora. Ele citou, por exemplo, os Estados Unidos e a China.

"Lira falou dessa apatia da área diplomática do Brasil. O país, com a importância que tem, de repente não tem mais interlocução com quem pode nos ajudar a conseguir vacinas. Ele citou Estados Unidos, China e Índia", disse o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. De acordo com relatos feitos à Folha, Ernesto, presente no encontro, não respondeu à crítica, que recebeu apoio de governadores na reunião.

As gestões estaduais também pediram que a diplomacia brasileira faça cobranças à OMS (Organização Mundial da Saúde) em relação ao monopólio de laboratórios na produção de imunizantes. Na terça (23), o chanceler já havia sido criticado por empresários brasileiros durante reunião na capital paulista em que Lira e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), estavam presentes.

O titular do Itamaraty foi chamado de omisso pela postura adotada durante a pandemia. Críticos também afirmam que a pasta, que deveria ter ficado à frente de questões importantes, como a da vacina e as que envolvem insumos e medicamentos, manteve-se ao lado do negacionismo.

No início do ano, Bolsonaro chegou a cobrar Ernesto devido à falta de diálogo com a China no momento em que o país asiático atrasou a exportação de insumos ao Brasil para a produção de vacinas.

Após o encontro desta quarta, o chanceler respondeu às críticas em reunião da comissão de Relações Exteriores da Câmara. Ele disse que a estratégia de vacinação contra o coronavírus é definida e centralizada pelo Ministério da Saúde e que cabe ao Itamaraty apenas ajudar na execução das iniciativas.

"O Ministério das Relações Exteriores tem uma função de contribuir para a execução desse processo, sobretudo naquilo que se refere a todas as relações internacionais, mas sempre é importante ter presente de que existe uma estratégia central, um programa de vacinação definido pelo Ministério da Saúde", disse.

Na semana passada, o presidente do Senado enviou ofício à vice-presidente americana, Kamala Harris, com um pedido de "socorro" e um apelo pela importação do excedente das vacinas dos Estados Unidos.

Nesta quarta (24), Ernesto afirmou que os EUA não estão exportando vacinas e ressaltou que eles poderiam enviá-las ao exterior quando houvesse garantia de suprimento para toda a população do país.

“Estamos negociando com os Estados Unidos para procurar também receber uma parte desse excedente”, disse. “Mas pelo menos por enquanto esse excedente, pelos números, é algo extremamente limitado, porque está sujeito à regulação dos Estados Unidos”, acrescentou.

O governo do democrata Joe Biden, porém, enviará a México e Canadá cerca de 4 milhões de doses da vacina produzida pela AstraZeneca/Oxford —cuja autorização de uso ainda não foi aprovada no país. Os mexicanos receberão 2,5 milhões de doses, enquanto os canadenses ficarão com o outro 1,5 milhão.

A transferência dos imunizantes ao México é, na verdade, parte de uma negociação do governo americano para aplacar a crise imigratória na divisa entre os países. Em troca das vacinas, o presidente Andrés Manuel López Obrador se comprometeu a aumentar o controle na fronteira, por onde muitos imigrantes da América Central tentam entrar nos EUA de maneira irregular.

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