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Conselheiro de Biden pede que China divulgue histórico médico de funcionários de laboratório em Wuhan

Anthony Fauci quer determinar se coronavírus vazou de instituto chinês, em meio a teorias sobre origem da Covid-19

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Kiran Stacey Demetri Sevastopulo
Washington | Financial Times

O assessor médico-chefe de Joe Biden pediu à China que divulgue os registros médicos de nove pessoas cujas doenças podem trazer pistas vitais para elucidar se a Covid-19 emergiu em decorrência de um vazamento de um laboratório.

Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês), disse ao Financial Times que os documentos podem ajudar a esclarecer a dúvida sobre as origens de uma doença que já fez mais de 3 a 5 milhões de mortos em todo o mundo.

Anthony Fauci participa de comissão no Senado americano, em Washington - Sarah Silbiger - 26.mai.21/Xinhua

Os registros médicos em questão são os de três pesquisadores do Instituto Wuhan de Virologia, que teriam adoecido em novembro de 2019, e de seis mineiros que adoeceram em 2012 depois de entrarem em uma caverna com morcegos. Cientistas do instituto visitaram a caverna subsequentemente para colher amostras dos morcegos. Três dos mineiros morreram.

Shi Zhengli, a principal especialista em coronavírus no instituto, negou anteriormente a ideia de que teriam ocorrido infecções no laboratório. Fauci não contestou a alegação, mas disse que ela precisa ser investigada mais a fundo.

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“Eu gostaria de ver as fichas médicas das três pessoas que teriam adoecido em 2019”, disse Fauci. “Elas realmente ficaram doentes, e, se sim, qual foi a doença?”

“A mesma coisa se aplica aos mineiros que adoeceram anos atrás —o que dizem suas fichas médicas? Essas pessoas contraíram um vírus? Qual vírus? É inteiramente concebível que a origem do Sars-Cov-2 tenha estado nessa caverna e que ele então ou começou a se propagar naturalmente ou passou pelo laboratório.”

O Departamento de Estado se negou a comentar se a administração Biden pediu as fichas médicas à China.

Em entrevista coletiva nesta sexta-feira (4), o Ministério das Relações Exteriores chinês se negou a dizer se consideraria a possibilidade de fornecer as fichas médicas dos nove indivíduos. Mas o porta-voz Wang Wengin repetiu uma declaração feita pelo instituto em março, dizendo que nenhum de seus profissionais jamais foi infectado com o coronavírus.

A origem da Covid-19 virou uma das questões mais contenciosas da pandemia. O ex-presidente americano Donald Trump disse no ano passado pensar que o coronavírus tenha vazado do laboratório de Wuhan, mas essa ideia foi amplamente rejeitada pela maior parte da comunidade científica, para a qual seria muito mais provável que o vírus tivesse passado naturalmente de animais para humanos.

Mas a teoria de um vazamento no laboratório vem ganhando força nas últimas semanas depois de um grupo de cientistas renomados ter assinado uma carta argumentando que ela precisa ser levada a sério. Atenção renovada também vem sendo voltada aos pesquisadores de Wuhan hospitalizados semanas antes de o primeiro caso de Covid-19 ser documentado oficialmente.

Na semana passada, Joe Biden instruiu os serviços de inteligência dos EUA a chegarem a uma conclusão em 90 dias sobre o que deu início à pandemia. A Casa Branca disse que dois ramos da comunidade de inteligência acreditam que o vírus Sars-Cov-2 foi transmitido naturalmente, mas um terceiro considera que ele veio do Instituto Wuhan. Nenhum dos ramos tem algum grau de confiança em sua conclusão.

Fauci já foi acusado, especialmente por conservadores, de minimizar a teoria de que o Covid tenha vazado do laboratório, em parte para proteger a reputação do NIAID, que ajudou a financiar pesquisas controversas com morcegos em Wuhan.

David Asher, ex-diretor da investigação do Departamento de Estado sobre as origens da Covid-19, questionou por que Fauci apenas agora está pedindo as fichas médicas. Ele destacou que a administração Trump afirmou publicamente em janeiro que a inteligência americana acreditava que os cientistas de Wuhan adoeceram com sintomas do vírus.

“Me espanta que Fauci esteja fazendo esse pedido agora”, disse Asher, que hoje integra o think tank conservador Hudson Institute, sediado em Washington.

Asher acrescentou que, embora respeite Fauci, está frustrado com o que considerou ser uma falta de interesse do NIAID e o órgão do qual faz parte, o Instituto Nacional de Saúde, em estudar a possibilidade de o vírus ter vazado do laboratório.

Fauci disse ao Financial Times que continua a acreditar que o vírus foi transmitido aos humanos via animais, destacando que, mesmo que os profissionais do laboratório tenham contraído Covid-19, teriam contraído a doença da população geral. Mas disse que pensa que a questão merece ser investigada mais a fundo, mesmo porque desperta grande interesse público.

“Sempre achei que, dada a experiência que tivemos com a sars, o mers, o ebola, o HIV, a gripe aviária, a pandemia de gripe suína de 2009, a probabilidade maior era que o vírus tenha dado um salto entre espécies”, disse Fauci. “Mas precisamos continuar a investigar até que uma possibilidade seja comprovada.”

Mas ele rejeitou a ideia de que sua organização possa ter alguma responsabilidade pela pandemia, dizendo: “Você está realmente querendo dizer que temos culpa no cartório porque demos a uma instituição, que movimenta bilhões de dólares, US$ 120 mil por ano para financiar a observação de morcegos?”

Tradução de Clara Allain  

Erramos: o texto foi alterado

Shi Zhengli, principal especialista em coronavírus do Instituto Wuhan de Virologia, é uma mulher, não um homem. O texto foi corrigido.

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