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Esquerda brasileira comemora virtual vitória de Castillo no Peru e minimiza posições antidemocráticas

Nova derrota da direita encorpa onda na América Latina e é prenúncio para Bolsonaro em 2022, afirmam

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Brasília

Dirigentes e parlamentares de partidos de esquerda no Brasil comemoraram a virtual eleição de Pedro Castillo à Presidência do Peru e minimizam posições de caráter antidemocrático e retrógrado no campo dos direitos civis defendidas pelo professor. Para os brasileiros, muito mais importante do que aparentes contradições é a nova derrota da direita latino-americana, em especial do sobrenome Fujimori, responsável por uma das principais ditaduras na região, na década de 1990.

Assim, cresce a recente onda de resultados favoráveis à esquerda na América Latina —à exceção do Equador—, o que, avaliam, é o prenúncio da derrota de Jair Bolsonaro em 2022. "Vemos com muita alegria, com ares positivos para a nossa América Latina. Ele [Castillo] é trabalhador, com posições progressistas. O Peru precisa disso. A Keiko [Fujimori, adversária no segundo turno] era péssima", diz a deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, o maior partido da esquerda no Brasil.

Segundo Gleisi, posições antidemocráticas de Castillo, que ameaça romper a ordem institucional e é contrário ao aborto e ao casamento gay, por exemplo, devem ser relativizadas. "Tem que avaliar, não sei se ele disse isso mais no calor do debate político, para demarcar posição, ou se de fato tem posicionamento sobre isso. Agora, qualquer ação nesse sentido ele vai ter que debater com a sociedade peruana. O presidente não tem autonomia, pelo menos nas regras que eu conheço", diz Gleisi.

Para o deputado federal Rogério Correia (PT-MG), o provável resultado no Peru é reflexo do desgaste do projeto privatizador e ultraliberal na região. "Claro que o primeiro governo de esquerda no Peru não deve ser fácil. Mas mostra que os ventos têm soprado de maneira diferente na América Latina", afirma, citando os recentes resultados na Argentina, na Bolívia e na formação da Constituinte no Chile.

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"À exceção do Equador, em todas as últimas eleições a esquerda ganhou. A gente vê como isso também pode repercutir positivamente no Brasil." Segundo Correia, algumas das posições de Castillo também precisam ser analisadas no decorrer do tempo. "Sobre essas questões do feminismo, dos gays, a posição do PT é muito radical a favor do direito das minorias. Mas tenho que dizer que no decorrer do segundo turno ele refez muito daquilo que falava", afirma.

Para o petista, há um processo a ser percorrido por Castillo. "Pode ser até a ausência de um debate mais profundo do posicionamento de esquerda. O PT, por exemplo, quando iniciou, não tinha essa radicalidade na defesa das minorias. Via mais como um problema de classes. Não tinha uma certa autonomia a questão da negritude, da homossexualidade. A gente nunca atacou, mas não eram pontos de defesa como são hoje dentro do PT. Isso é um processo. Tomara que lá eles avancem em direção a isso."

​A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), por sua vez, diz que o resultado no Peru é "um grande avanço para a América Latina, que vai se recompondo dessa onda de direita que assolou os países da região, para a infelicidade dos direitos sociais e da vida do povo". "Espero que o Brasil em breve siga esse caminho [em 2022]. Se puder ser antes, fora Bolsonaro."

Sobre as posições retrógradas e de viés antidemocrático, Portugal diz esperar que Castillo "compreenda a necessidade de estar aberto para as relações internacionais e de fomentar maior harmonização interna possível". "Agora, cada país, sua realidade, cada povo, seu governo. Então faço questão de defender a autodeterminação de cada povo e espero que essa oxigenação leve a uma harmonização e que essa transição se dê com tranquilidade, democracia e participação popular."

Presidente nacional do PDT, Carlos Lupi afirmou que a vitória de Joe Biden nos EUA e a eleição no Peru dão esperança às pessoas de que o mundo pode melhorar. "Ventos democráticos começam a soprar nas Américas", disse. Sobre as manifestações contrárias a direitos de minorias, Lupi afirma que é preciso levar em consideração a origem de Castillo. "Imaginar que o homem do campo pense como a gente, dos centros urbanos, é impossível. É normal haver visões mais atrasadas, em todos os países é assim."

Outros membros de legendas de esquerda também se manifestaram nas redes sociais, mesmo antes da confirmação do resultado no Peru. Presidente nacional do PSOL, Juliano Medeiros escreveu no Twitter nesta terça-feira (8): "Vitória de Fernández na Argentina e de Arce na Bolívia. Derrota acachapante da direita nas eleições para a Assembleia Constituinte no Chile. Virtual vitória de Pedro Castillo no Peru. Povo nas ruas no Paraguai e na Colômbia. Tem algo acontecendo na América. Há motivos para esperança".

Entre os peruanos que vivem no Brasil e votaram na eleição, porém, foi Keiko quem teve a maioria, ainda que apertada: 53,8% dos votos válidos. Segundo o site oficial da eleição peruana, dos 14.863 imigrantes aptos a votar em território brasileiro, 4.637 o fizeram —uma taxa de comparecimento de 31,2%.

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