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Queda no ritmo da vacinação e avanço da variante delta ofuscam 4 de Julho de Biden

Presidente pretende celebrar no Dia da Independência dos EUA início do 'verão da liberdade'

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Washington

Joe Biden faz neste domingo (4) o maior e mais simbólico evento de seus quase seis meses de mandato. Com mil convidados na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos vai celebrar oficialmente a volta do país à normalidade, depois de 16 meses de pandemia e mais de 600 mil mortos pela Covid-19.

Biden quer comemorar o Dia da Independência americana como o início do que chama de "verão da liberdade", sob o embalo dos 17 minutos de queima de fogos que estão previstos em Washington.

Mas entre as cores que devem cortar o céu da capital, ao menos dois fatores continuam a preocupar autoridades de saúde dentro e fora do governo: o avanço da variante delta, cepa mais contagiosa do coronavírus, e o ritmo cada vez mais lento da vacinação no país.

O presidente dos EUA, Joe Biden, nos jardins da Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, nos jardins da Casa Branca, em Washington - Brendan Smialowski - 29.jun.21/AFP

O democrata não conseguiu cumprir a meta de imunizar 70% dos adultos com ao menos uma dose até este domingo, como havia prometido há três meses —o índice ficou em torno de 67%. Se contar os totalmente vacinados, o patamar é de 58% entre aqueles que têm 18 anos ou mais, e de 47% se considerada toda a população americana.

Os dados são positivos, de acordo com especialistas, mas ainda insuficientes para declarar a independência do vírus, como quer fazer o presidente. Isso porque a mutação delta, identificada inicialmente na Índia, tem se espalhado com rapidez nos estados do Sul e Centro-Oeste americano, bolsões de resistência à vacina e onde, em vários casos, não há 50% dos habitantes imunizados.

Segundo o jornal The New York Times, 22 dos 50 estados americanos, incluindo a capital, Washington, vacinaram 70% ou mais de suas populações adultas com ao menos uma dose, o que imprime certa tranquilidade em meio à pandemia, mas há risco de novos surtos em regiões onde esses índices são mais baixos.

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Especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia em Berkeley, John Swartzberg diz que a maioria dos americanos vai celebrar o 4 de julho como se a pandemia tivesse acabado, mas alerta que os EUA "são uma ilha em meio a um mar de doenças".

Apesar de ainda ser o líder mundial em número de casos (33,7 milhões) e mortes (mais de 605 mil) por Covid, o país tem se descolado de grande parte do globo ao assistir à queda vertiginosa nas transmissões, hospitalizações e óbitos devido à campanha de vacinação nacional. A média de novos casos diários, por exemplo, é de 12 mil —eram 200 mil no dia da posse de Biden, em 20 de janeiro—, e a média de mortes é de menos de 300 por dia, num país que viu picos de 4.000 vítimas em 24 horas no início do ano.

"Os dados mais recentes sugerem que a variante delta representa cerca de 25% dos casos de Covid hoje nos EUA, mas em agosto a mutação provavelmente será a cepa dominante em todo o país", afirma o professor de Berkeley. Ele explica ainda que os americanos estão repetindo a experiência do Reino Unido, onde a mutação é responsável por 90% dos casos e tem aumentado transmissões e hospitalizações apesar dos altos índices de vacinação no país.

"Nas comunidades que estão altamente vacinadas e têm muitas pessoas com imunidade por terem sido infectadas anteriormente, as celebrações não resultarão em grandes estragos. Naquelas que não estão altamente vacinadas e têm baixo índice de imunidade pós-infecção, provavelmente veremos surtos."

Pesquisas mostram que cerca de um terço dos americanos dizem que não vão se vacinar. Entre os obstáculos estão o desequilíbrio nos índices de imunização entre diferentes grupos raciais —negros e latinos são historicamente mais resistentes a vacinas— e o desafio de convencer os que se recusam a receber a dose ou ainda estão indecisos.

Swartzberg diz acreditar que o iminente perigo da delta pode reverter esse cenário e fazer com que os EUA alcancem os 75% de imunização necessários para a chamada imunidade de rebanho. Especialistas mais céticos, porém, não são tão otimistas e afirmam que o país não deve passar de 70% de imunizados.

"É nosso problema dos quilômetros finais, e vai demandar um esforço considerável, para além do que estamos fazendo agora", diz o professor. "Mas acredito que, ironicamente, a consequência do provável aumento de casos devido à delta pode ser o ímpeto que faltava para muitas pessoas que hoje estão hesitantes tomarem a vacina."

Os dois principais imunizantes administrados nos EUA, Pfizer e Moderna, têm se mostrado eficazes na contenção da nova mutação, e o clima geral no país vem se desenrolando com certa normalidade desde o fim de abril, quando os americanos completamente vacinados foram liberados de usar máscara pelas autoridades de saúde. Agora, Biden quer marcar a volta dos grandes eventos e da vida normal em definitivo aos EUA, mas pode ter que, mais uma vez, recalibrar seus planos.

Em março, o presidente já anunciava o 4 de julho como a virada de página da crise sanitária, mas vislumbrava festas mais modestas, com família e pequenos grupos de amigos. No início de maio, após conseguir aplicar 200 milhões de doses nos seus primeiros cem dias de governo, cercou-se de otimismo e prometeu que 70% dos adultos estariam vacinados com uma dose até o feriado da independência.

Mas logo a realidade se impôs.​ O ritmo de imunização começou a cair rapidamente, e a média de mais de 3 milhões de aplicações por dia, que era vista em abril, despencou para menos de 1 milhão em junho.

Há duas semanas, o coordenador da resposta à pandemia da Casa Branca, Jeff Zients, foi escalado para anunciar o novo objetivo do governo: garantir a aplicação da primeira dose da vacina em 70% dos americanos com 27 anos ou mais até 4 de julho —e não mais em todos os maiores de 18 anos.

Segundo auxiliares, porém, a nova meta não apaga as conquistas do país até agora, e o presidente manteve a disposição em receber trabalhadores essenciais, militares e seus familiares na Casa Branca porque queria mostrar que, em muitas frentes, "foi além da expectativa".

Sob o estímulo de Biden, milhares de pessoas devem se reunir neste domingo no National Mall, com comidas e bebidas à espera da queima de fogos de artifício. A poucos metros dali, ele deve fazer um discurso exaltando a resposta que seu governo deu à pandemia, mas precisará ir além para fazer com que mais americanos se vacinem e impedir que o verão da liberdade dê lugar a um outono de cerceamentos.

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