Sequestro de missionários joga luz na expansão do controle do Haiti por gangues

Cerimônia em homenagem a herói da independência foi interrompida após rajada de tiros

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Gessika Thomas Brian Ellsworth
Porto Príncipe (Haiti) | Reuters

Uma cerimônia em homenagem a um dos pais da independência do Haiti foi interrompida neste domingo (17) por uma rajada de tiros que obrigou os presentes, incluindo o premiê Ariel Henry, a saírem do local.

O episódio é mais um sinal do poder crescente das gangues no país caribenho, que, um dia antes, no sábado (16), sequestraram um grupo de missionários cristãos estrangeiros.

Haitiano protesta em Porto Príncipe contra os sequestros constantes feitos por gangues do país - Valerie Baeriswyl - 10.dez.2020/AFP

Desde o assassinato do presidente Jovenel Moïse, em julho, e o terremoto que deixou mais de 2.200 mortos no país, em agosto, as gangues haitianas ficaram mais confiantes ​​para cometer crimes fora do território que controlam, de acordo com o ativista de direitos humanos Pierre Esperance.

“O governo que assumiu há três meses está impotente diante disso”, disse ele, diretor-executivo da Rede Nacional de Defesa dos Direitos Humanos. “Não há nenhum plano, nenhuma maneira de combater a insegurança. A polícia nacional não foi fortalecida.”

Dezesseis cidadãos americanos e um canadense foram sequestrados durante uma visita a um orfanato no sábado, confirmou o grupo missionário Christian Aid Ministries em comunicado. Especialistas em segurança suspeitam do envolvimento de uma gangue conhecida como 400 Mawozo, que controla Croix-des-Bouquets, um povoado a cerca de 13 km da capital.

Em abril, cinco padres e duas freiras, dois dos quais franceses, foram sequestrados na mesma vila —suspeita-se que o 400 Mawozo seja responsável pelo crime. Os reféns foram liberados no mesmo mês.

A cerimônia deste domingo, em homenagem a Jean-Jacques Dessalines, que declarou a independência do Haiti da França em 1804, foi planejada para acontecer na Pont-Rouge, a entrada leste do centro de Porto Príncipe, onde o herói nacional foi assassinado em 1806.

Há anos, porém, as autoridades têm dificuldades para realizar o evento no local, devido à presença de uma coalizão de gangues batizada de G9, liderada pelo ex-policial Jimmy Cherizier, o "Barbecue" (churrasco).

Com dificuldades para acessar o local, a cerimônia deste domingo aconteceu no Museu do Panteão Nacional do Haiti, mas mesmo assim foi interrompido pelo tiroteio. O aumento do número de sequestros no país empobrecido se soma à piora das condições econômicas e à crescente diáspora de haitianos em busca de melhores oportunidades em outros países. Os Estados Unidos no mês passado deportaram cerca de 7.000 haitianos que haviam tentado entrar no país via México.

Ao menos 628 sequestros ocorreram no Haiti nos primeiros nove meses de 2021, 29 dos quais envolveram estrangeiros, de acordo com um relatório do Centro Haitiano de Análise e Pesquisa em Direitos Humanos.

Mas números reais são provavelmente muito mais altos porque muitos haitianos não reportam os crimes à polícia, temendo retaliação de gangues criminosas. “As gangues são federadas, estão bem armadas, têm mais dinheiro e ideologia”, disse o diretor da entidade, Gedeon Jean. "Estamos caminhando para um proto-estado. As gangues estão ficando mais fortes enquanto a polícia está ficando mais fraca."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.